Líderes religiosos mantêm cautela ao retomar celebrações

Apesar de o prefeito Antônio Almas (PSDB) ter autorizado a realização de eventos e reuniões de qualquer natureza, públicos ou privados, como celebrações religiosas, líderes religiosos locais mantêm a cautela ao retomar as atividades presenciais em igrejas, templos, centros espíritas e terreiros de candomblé e umbanda. Enquanto lideranças católicas e neopentecostais orientam a retomada de missas e cultos conforme as diretrizes sanitárias do Decreto 13.975/2020, centros espíritas e terreiros de umbanda e candomblé optam por manter as atividades presenciais suspensas. O quadro epidemiológico de Juiz de Fora é considerado fator de inibição para qualquer retomada integral de celebrações religiosas.

Depois de discussões com a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira, comunicou às paróquias novas orientações para a retomada de missas presenciais a partir de sábado (20). Conforme pronunciamento do arcebispo, a realização de missas com até 30 pessoas é facultativa às paróquias, desde que incluídos no quantitativo os ministrantes do altar. “Os assentos deverão ser previamente demarcados com o uso de fitas, a fim de respeitar as normas de distanciamento, devendo os fiéis conservar a distância de cerca de dois metros uns dos outros. Já as coletas não devem ser feitas durante a eucaristia, mas à saída do templo, pela equipe responsável, através de cestos ou sacolas apropriadas”, detalha, em nota, a Arquidiocese de Juiz de Fora. A utilização de máscaras e a higienização das mãos serão mantidas, bem como a transmissão das missas por meios eletrônicos.

De acordo com o presidente do Conselho dos Pastores de Juiz de Fora (Conpas), Charles Marçal, embora uma parcela de líderes não tenha ainda retomado os cultos devido às orientações de suas convenções não é possível precisar como está a situação. “Existem algumas denominações, que, de acordo com as orientações superiores, ainda não voltaram. Agora, creio que uma boa parte já está com as atividades adequadas ao decreto.” No entanto, Marçal pondera que as transmissões virtuais instituídas nos últimos meses devem continuar, uma vez que parte dos frequentadores está entre os grupos de risco. “A tendência é que os cultos on-line continuem, até porque existe o grupo de risco de idosos, e, também, as crianças, já que não é aconselhável que participem. Nós orientamos a esses grupos de risco, pessoas que possuem uma patologia pré-existente, com idade superior a 60 anos, a não participarem dos cultos. Então, (a transmissão) é uma alternativa, para que essas pessoas possam também ter a interação com a fé.”

Por outro lado, a Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora (AME), embasada pelas orientações de um comitê próprio de acompanhamento e enfrentamento à Covid-19, orienta as instituições espíritas a manterem a suspensão de reuniões presenciais, já que salas de passe, reuniões mediúnicas e, inclusive, atendimentos fraternos envolvem aglomerações. “Neste momento, o comitê tem sugerido – é bom ressaltar que a Aliança Municipal Espírita apenas recomenda, pois as casas espíritas têm autonomia – a manter as atividades presenciais suspensas e a desenvolver novas formas de atendimento virtual, o que tem correspondido bastante, já que o vírus ainda está ativo na cidade e não atingimos o ápice da doença”, afirma o presidente da AME, Elison da Fonseca e Silva. “O comitê identificou que ainda teremos alguns meses pela frente com atividades suspensas. A AME não está sugerindo abrir as casas espíritas e correr o risco. E uma das coisas por nós comentadas é que os governos podem errar, mas nós não.”

A Arquidiocese de Juiz de Fora comunicou às paróquias novas orientações para a retomada de missas presenciais a partir de sábado (Foto: Fernando Priamo)

Terreiros de candomblé e umbanda

Mesmo com a flexibilização, os terreiros de candomblé e umbanda também seguem sem reuniões, uma vez que, nos rituais de religiões de matrizes africanas, máscaras, por exemplo, não são aceitas pelas entidades, como explica Maria Enoia de Sousa Correa, conhecida como Mãe Enoia, integrante da Associação Religiosa e Cultural de Culto Afro-Brasileiro Abassa Ya Oya Ynguerecy. “Até então, estamos nos resguardando um pouco mais. Tocar o candomblé e botar o orixá na terra está impossibilitado. O orixá não vem na terra e aceita uma máscara no rosto do filho dele. O Caboclo, o Exu e a Pombagira não aceitam a máscara no rosto, então não podemos colocar na terra. (…) Então, estamos dando um tempinho a mais para ver como vamos proceder. Temos feito rodas de conversa virtuais, passando conhecimento, nos conhecendo durante este período.”

Encontros particulares

Conforme a mãe de santo, o Decreto 13.975/2020 permite aos terreiros de umbanda apenas atendimentos particulares. “Temos condições de voltar com as atividades de terreiro, mas, no nosso caso, as entidades não aceitam a máscara. De qualquer forma, é válido para o pessoal da umbanda, que pode atender de forma particular, com Exu, Preto-Velho, porque são somente duas pessoas: a que está virada e o consulente.”

Críticas à restrição linear de 30 pessoas

Conforme o artigo 13 do Decreto 13.975/2020, a realização de eventos e reuniões de qualquer natureza com até 30 pessoas está autorizada desde que “observado um distanciamento interpessoal mínimo de dois metros entre os participantes” e respeitadas medidas preventivas do Minas Consciente, como disponibilizar itens para higienização das mãos e executar a desinfecção, várias vezes ao dia, com hipoclorito de sódio 1,0% a 2,5% ou álcool 70%, em superfícies e objetos. Conforme os líderes religiosos, a restrição imposta pela Prefeitura de até 30 pessoas cria dificuldades, já que o espaço físico de igrejas, templos e centros espíritas varia.

Seguindo a orientação de Dom Gil Antônio Moreira, as paróquias da Arquidiocese de Juiz de Fora devem continuar a seguir as normas de isolamento social, com o uso de máscaras e a higiene das mãos, com água e sabão ou álcool em gel, bem como a disponibilização de tapetes químicos nas portas das igrejas e álcool em gel nas entradas. Além da utilização de termômetros de testa. “Os fiéis que desejam participar das missas deverão se inscrever com antecedência, por telefone ou outros meios, nas secretarias paroquiais. A indicação é para que os que se sentem doentes, ou tenham quaisquer sinais ou sintomas de resfriados ou gripe, não compareçam às celebrações, para o seu bem e para o bem do próximo. Já aos que pertencem ao grupo de risco, o pedido é que optem por participar das celebrações em dias de semana, que geralmente têm menor número de fiéis”, adverte, em nota, a Cúria. A comunhão será dada apenas nas mãos dos fiéis, que deverão retirar a sua máscara logo que a pessoa à sua frente estiver comungando. Os ministros distribuirão a sagrada comunhão usando máscara e não precisarão dizer “o corpo de Cristo”.

Para o presidente do Conpas, Charles Marçal, o controle dos fiéis, como planeja a Arquidiocese, é complicado, já que há templos de porte grande, médio e pequeno. “Como vamos privilegiar apenas 30 membros de uma igreja que às vezes tem mais de 500 membros? ‘Ah, vamos fazer mais cultos’. Se fizermos três cultos durante o dia, atenderemos, no máximo, 90 pessoas. Na verdade, o ideal seria adequar o decreto ao distanciamento, porque temos templos de porte grande, de porte médio e templos minúsculos. Naqueles templos pequenos, por exemplo, 30 pessoas pode significar uma aglomeração. O número de 30 pessoas não vai atender aos templos pequenos. E o templo grande, que talvez fosse muito menos contagioso do que o templo menor, também não será atendido, porque, vamos supor uma igreja que tem mais de mil membros: como ela vai atender apenas 30, sendo que há um espaço em que os pastores poderiam realizar os cultos com toda uma segurança, distanciamento etc?”

Ao encontro de Marçal, o presidente da AME, Elison da Fonseca e Silva, aponta dificuldades em realizar reuniões espíritas públicas com somente 30 pessoas. “Algumas casas espíritas, como as maiores, têm salões amplos e permitiriam até estabelecer um distanciamento de cadeiras e estipular o limite de 30 pessoas. Já outras casas – a maioria – são pequenas, em que seria praticamente impossível fazermos esse distanciamento. Se fizéssemos o distanciamento proposto, caberiam cinco, dez pessoas. Outra coisa: temos a escola espírita de evangelização e a mocidade espírita, que são aglomerações bem intensas em algumas casas. Temos conversado bastante no comitê sobre o que fazer, por exemplo, quando atingir o número máximo de pessoas e chegar outra solicitando participar, com sentimentos e angústias pessoais muito fortes, e desejar entrar. O que fazer com essa pessoa? Vamos mandar embora? Vamos substituir por uma que esteja bem, tranquila?”

Minas Consciente

A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) afirma, em nota à Tribuna, que, como o Decreto do Minas Consciente, não cita as normas para a realização de missas, cultos religiosos e outros tipos de evento, as orientações sanitárias devem ser observadas na Deliberação 17/2020, do Comitê Estadual Extraordinário Covid-19 do Governo estadual. O Executivo ressalta ainda que, durante a pandemia, a Administração municipal tem mantido diálogo com as lideranças religiosas da cidade. “No dia 22 de abril, por exemplo, o prefeito Antônio Almas teve um encontro com dezenas de pastores de diversas denominações religiosas do município. Durante o encontro, Almas falou sobre o cenário da pandemia em Juiz de Fora, esclareceu dúvidas e ouviu sugestões de como as igrejas podem ajudar a PJF na luta contra a Covid-19. Além deste encontro, a Administração municipal se fez presente, por meio de representantes da administração direta, em reuniões com líderes religiosos realizados em diversos momentos, como na Câmara Municipal.”

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

Pesquisar