A Justiça acatou nesta terça-feira (5) a denúncia do Ministério Público contra Jaime Tristão Alves, suspeito do desaparecimento da ex-mulher, Cláudia de Paiva Rezende, que não é vista desde o dia 6 de julho. A denúncia foi oferecida pelo titular da 9ª Promotoria de Justiça, Hélvio Simões Vidal, no último dia 25, pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver. Nesta quarta-feira (6), completa-se quatro meses do sumiço da mulher, moradora do Bairro Nova Era, Zona Norte. Uma audiência de instrução será marcada para definir as próximas fases do processo, entretanto, ainda não há data determinada.
À Tribuna, o promotor disse que os filhos da vítima reconheceram a mãe entrando no carro do suspeito usando um body rosa, calça jeans, um casaco de cor preta e uma bolsa marrom. “Pelo conteúdo da prova testemunhal e das perícias constantes do Inquérito Policial, conclui-se que Jaime Tristão praticou feminicídio de Cláudia de Paiva, fato consumado em 06/07/2019, após 16h54min50s, ocultando o cadáver da vítima em local indeterminado, fazendo desaparecer os vestígios materiais do crime”, consta no documento. Desde o dia 8 de julho, Jaime está preso preventivamente no Ceresp.
A denúncia corrobora o entendimento da Polícia Civil, que durante as apurações já havia apontado, com base em imagens de câmeras de segurança, que uma pessoa com características semelhantes às de Claudia entrou no carro do suspeito exatamente na Rua Eraldo Guerra Peixe, mesma via para onde tanto a mulher quanto o ex-marido haviam convergido no dia do desaparecimento, conforme gravações anteriores. O local fica a uma quadra da casa onde ambos moravam. Na época, o delegado Rafael Gomes, que presidiu o inquérito, informou que a filmagem feita pela câmera de um galpão reforça a suspeita de que Jaime tenha praticado feminicídio e ocultação de cadáver.
Apesar das imagens terem apontado uma pessoa semelhante a Cláudia embarcando em seu veículo, ele disse não tê-la visto em via pública naquela ocasião. Naquele período ainda foi registrada uma ligação do celular dele para o dela. Depois desse telefonema, o aparelho da mulher foi desligado, segundo as investigações. O suspeito alegou em depoimento que a pessoa vista se tratava de uma garota de programa. Anteriormente, Jaime havia negado a presença de outra pessoa no automóvel, apesar das coincidências entre os trajetos dele e de Cláudia no mesmo horário, apontadas pela polícia.
‘É a mãe dos meus filhos, que eu amo’
O suspeito foi capturado em uma casa em Rochedo de Minas, município da Zona da Mata, situado a cerca de 54 quilômetros de Juiz de Fora. Ele tentou fugir pelos fundos da residência e teve que ser contido e algemado. Contra Jaime já havia mandado de prisão temporária por dez dias, decretado pela Justiça no dia 22 de julho. À imprensa ele negou ter cometido o crime contra sua ex-companheira, alegando estar sendo acusado injustamente. “É a mãe dos meus filhos, que eu amo”, disse. Chamou a atenção da polícia o fato de o próprio suspeito ter procurado a Polícia Militar para registrar o desaparecimento da ex-mulher, caindo em contradição posteriormente em depoimento. Ele alegou que havia bebido e não se lembrava de horários e nem o que havia feito, justamente no período em que Cláudia foi vista pela última vez.
Na data da prisão, ele estava no sofá, assistindo TV e, segundo o delegado Rafael Gomes, levando uma vida de foragido “luxuosa”, em uma casa com piscina, cerveja na geladeira e muita carne para churrasco. “Fato incompatível com quem está de luto pelo desaparecimento ou até mesmo pela morte da ex-esposa, mãe dos filhos dele”, afirmou Rafael. O imóvel teria sido alugado pelo homem cerca de três meses antes do crime. Em setembro, a defesa entrou com pedido de habeas corpus para a soltura do suspeito, entretanto, a desembargadora Lílian Maciel Santos negou a solicitação.
Exame de DNA pode comprovar se sangue é da vítima
Vestígios de sangue no carro de Jaime e na jaqueta que ele estaria usando no dia do sumiço foram encontrados por peritos da Polícia Civil, que usaram a substância luminol. O veículo foi apreendido no decorrer das investigações e revelou resquícios do líquido no encosto de cabeça do banco do motorista e no cinto de segurança do mesmo lado. O material foi encaminhado para Belo Horizonte, para ser confrontado com o DNA de familiares de Cláudia. O resultado do exame ainda não foi liberado e, na próxima semana, a Polícia Civil deverá convocar coletiva com novidades sobre o caso.
A vítima já havia requerido medida protetiva contra o ex-marido, com quem continuava dividindo a casa, sendo o imóvel separado em duas partes após o fim do relacionamento. Ela também teria registrado boletins de ocorrência contra Jaime por agressão física e ameaça. Em um deles, no dia 3 de dezembro de 2017, a vítima relatou que seu esposo a ameaçou de morte e agressão, sendo contido pelo seus filhos adolescentes, fugindo em seguida. A reportagem tentou contato com a defesa de Jaime, mas as ligações não haviam sido atendidas até a publicação desta matéria.
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