Juiz-foranos garantem imunização contra Covid-19 na xepa

Novo calendário de imunização em JF foi divulgado nesta segunda-feira (Foto: Fernando Priamo)

Após vir à tona a questão da perda técnica de doses de vacinas contra a Covid-19 em Juiz de Fora, surgiram questionamentos acerca de medidas que podem ser adotadas para evitar o desperdício de imunizantes, como a aplicação das sobras de doses de vacinas, cujos frascos já foram abertos, ao fim de cada dia de vacinação, para que não haja desperdício. A prática, conhecida como xepa da vacina, tornou-se estratégica em municípios como São Paulo e Belo Horizonte, e é autorizada pelo Ministério da Saúde, não sendo considerada fraude ou irregularidade, mas atende a critérios, como a priorização de alguns grupos. Em Juiz de Fora, a Prefeitura não realiza cadastro para quem deseja buscar esta alternativa, mas há juiz-foranos que conseguiram se vacinar por meio da xepa.

É o caso de uma aposentada de 57 anos, sem comorbidades, que conseguiu tomar a primeira dose de vacina contra a Covid-19 buscando a xepa em diversos postos de vacinação. “Comecei a procurar os postos de saúde e a torcer para ter vacina sobrando. Fui, durante sete dias, a sete postos diferentes. Na primeira vez, a vacinação já tinha sido encerrada. Na segunda, já tinha acabado o horário de vacina e já tinham pessoas dentro da idade e na quantidade certa esperando para vacinar. Na sétima vez, desloquei-me para três unidades em bairros distintos. Cheguei em um posto que já estava fechando o portão. Entrei e tinha uma pessoa sendo vacinada. Perguntei para a enfermeira se havia sobra, e ela disse que não sabia, mas iria encerrar a vacinação e fazer a contagem, porque já tinham outros esperando. Eram quatro pessoas na fila e três doses sobrando, e como eu tinha a idade mais aproximada da idade programada para aquele dia, consegui me vacinar”.

A sobra de doses relatada pela aposentada acontece porque a maioria dos frascos de imunizantes contém dez doses, e elas não podem ser guardadas depois que os frascos já foram abertos, sob o risco de perderem a validade. Assim, se, ao fim da vacinação, não houver um número exato de pessoas correspondente ao mesmo número de doses no frasco já aberto, as vacinas são aplicadas em pessoas que não necessariamente estão contempladas no grupo previsto para ser vacinado naquele dia.

Desta forma, em alguns municípios, a xepa tornou-se uma estratégia oficial no combate contra a Covid-19. Em São Paulo, por exemplo, a Prefeitura começou a realizar o cadastro diretamente nos postos de saúde, para idosos com mais de 60 anos e profissionais de saúde. Desde o início de maio, os critérios foram flexibilizados, e, a partir desta segunda-feira (7), pessoas com deficiência permanente com mais de 18 anos de idade, estagiários da área da saúde (independentemente do período de formação) e estagiários de nível técnico da área da saúde (independentemente do período de formação) podem se candidatar à xepa. Já na capital mineira, Belo Horizonte, as doses remanescentes em frascos passaram a ser utilizadas para a imunização de idosos do público-alvo acamados e com mobilidade reduzida, previamente cadastrados pela Prefeitura.

A estratégia da xepa vem beneficiando pessoas em diversas cidades e foi autorizada pelo Ministério da Saúde, justamente para evitar o desperdício de doses. Atendendo a questionamento da Tribuna a respeito da questão em Juiz de Fora, o Ministério da Saúde informou que a recomendação é de que, ao final do expediente do dia de vacinação, “seja analisada a necessidade de otimizar doses ainda disponíveis em frascos abertos, que podem ser direcionadas para pessoas dos grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI), priorizando o grupo que está sendo contemplado no momento.

Vale destacar que cada imunizante tem um tempo determinado de validade após a abertura dos vidros. De acordo com a Agência Brasileira de Comunicação, a vacina da Pfizer pode ser conservada por até seis horas; a Coronavac, por até oito, e a AstraZeneca por 48 horas.

‘Não é crime querer tomar vacina’

Segundo a aposentada que concedeu entrevista à Tribuna, depois de ter conseguido ser vacinada, ela espalhou a notícia para quem também quisesse tentar. “Percebi que os funcionários dos postos têm certa resistência para as pessoas que procuram as sobras, como se estivéssemos ali para roubar. Não é crime querer tomar vacina, não estava lá me impondo, nem furando fila, só queria tomar a vacina que precisava ser aplicada naquele dia”, ressaltou.

Ela relatou que ficou sabendo da xepa por meio de uma conhecida que trabalhava em um posto de saúde. “Ela me contou que a maioria dos vidros vem com dez doses e, quando um deles é aberto, é preciso vacinar dez pessoas para não haver perda. Assim, no final do dia, se restava um vidro com duas doses, as pessoas do posto iam na comunidade para oferecer a dose para quem tivesse uma idade mais próxima daquela para qual era oferecida a vacina naquele dia. Então eu pensei em tentar, porque vi que, no Rio, a xepa da vacina estava oficializada e, inclusive, havia fila de espera. Acho muito lícito, porque não estou furando fila, nem obrigando que um vidro seja aberto para mim, e também não estou falsificando atestado para dizer que tenho comorbidade”, disse.

Uma estudante de Fisioterapia, de 22 anos, sem comorbidade, também relatou à Tribuna ter recebido a primeira dose da vacina depois que soube da xepa, por meio de pessoas conhecidas e que tinham conseguido a imunização. “É uma segurança muito grande que dá para a gente já ter recebido a vacina. E acho que é uma grande oportunidade. Se a xepa for explicada para toda a população e todo mundo tiver uma chance de tentar e arriscar a conseguir, é muito bom, porque se sobram dez doses em determinado dia, são dez pessoas que vão garantir a imunização”, afirmou a estudante.

Conforme ela, depois de saber sobre a existência dessa estratégia, passou a procurar postos de saúde a fim de conseguir. “Ia no final do expediente, porque é o momento em que há mais chances de sobrar doses. No dia em que consegui, fiquei esperando, e, para minha sorte, houve sobras, o que resultou na minha vacinação para não desperdiçar o frasco que já tinha sido aberto”, contou, lembrando que a mãe dela, de 58 anos, também conseguiu ser vacinada dessa forma, no mesmo posto, porém em dia diferente.

Segundo a estudante, ela foi orientada, ainda durante o atendimento da vacinação, que, para a segunda dose, poderia procurar qualquer unidade, porque já estaria garantida. “Em São Paulo, tem o cadastro para a xepa, e acho que aqui poderia ser assim também, para beneficiar mais pessoas”.

As duas entrevistadas nesta reportagem pediram para não ter seus nomes divulgados e também preferiram não identificar os postos de saúde onde conseguiram se vacinar por meio da xepa.

PJF não realiza cadastro para xepa

Em resposta à Tribuna acerca das estratégias adotadas para evitar desperdícios de doses e sobre a xepa, a Prefeitura de Juiz de Fora esclareceu que “a aplicação de doses que sobram dentro dos frascos já abertos de vacina contra a Covid-19, popularmente conhecida como xepa, é feita para os grupos prioritários descritos no Plano Nacional de Imunização (PNI)”.

Como apontou a PJF, “essa é uma ação comum em todas as campanhas de vacinação no Brasil. É uma prática utilizada em último caso apenas para evitar o desperdício de vacinas. Portanto, não é uma garantia de aplicação. A Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora não realiza um cadastro para esse tipo de vacinação.”
Também questionada a respeito da situação, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que “há a recomendação para que o município realize o planejamento para o atendimento de todas as doses e tenha uma lista para, em caso de disponibilidade de doses, atender grupo prioritário.”

Ritmo da vacinação preocupa

Apesar de a imunização da população brasileira ter começado em 17 de janeiro, o ritmo da vacinação causa preocupação a muitas pessoas, levando-as a buscar pela xepa em diversas cidades. É o caso da aposentada de 57 anos que relatou seu caso nesta reportagem. À Tribuna, ela disse que temia não receber a vacina antes de uma cirurgia que precisa realizar até o mês de agosto.

“Resolvi buscar a xepa porque estava aflita. Com o andar vagaroso da vacinação, estava com receio de operar sem estar imunizada e ter que ficar no hospital com risco de pegar o vírus. Isso me dava muita preocupação, por isso resolvi tentar a xepa, procurando vários postos”, disse, contando que começava sua peregrinação pelas unidades de saúde nas primeiras horas do dia. “Mas não adiantou, porque os funcionários do posto não tinham como prever quantas doses iriam sobrar, e como não há fila de espera não adiantava. Então, o melhor foi ir no final do expediente”, orientou.

Até a última sexta-feira (4), 29,8% da população brasileira tinha recebido a primeira dose da vacina contra a Covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde. No total, são 47,6 milhões de brasileiros vacinados com a primeira dose, dos 160 milhões com perfil vacinável no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO).

Entre os vacinados com a primeira dose, 22,7 milhões já receberam a segunda dose do imunizante. O número representa 14,2% da população vacinável no Brasil. Ao todo, o Brasil tem mais de 70,3 milhões de doses aplicadas. Até o último dia 4, o país também tinha atingido, conforme o Ministério da Saúde, a marca de mais de cem milhões de doses de vacina Covid-19 distribuídas para estados e Distrito Federal desde janeiro.

Em Juiz de Fora, o vacinômetro do site da Prefeitura de Juiz de Fora mostrava que, até este domingo (6), 182.661 pessoas já tinham recebido a primeira dose, enquanto 77.693 receberam a segunda. Em Minas Gerais, conforme o boletim epidemiológico estadual desta segunda-feira (7), 4.979.779 mineiros receberam a primeira dose, e 2.396.157, a segunda. A Prefeitura e o Estado não divulgam os percentuais da população já vacinada diariamente.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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