Em quatro anos, cidade acumula 1.149 ocorrências, uma média de 23 desaparecimentos por mês, conforme balanço da Secretaria de Segurança Pública
Desde 2018, Juiz de Fora tem, em média, 287 registros de pessoas dadas como desaparecidas anualmente. Os números foram passados à reportagem pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) e coletados pela pasta por meio do Observatório de Segurança Pública. No total, foram 1.149 casos contabilizados ao longo dos últimos quatro anos via Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), o que confere uma média de 23 desaparecimentos por mês em território juiz-forano. À Tribuna, uma especialista da Polícia Civil de Minas Gerais analisou os dados e orientou sobre os procedimentos necessários em ocorrências do tipo.
Os dados recebidos pela reportagem mostram decréscimo ao longo dos últimos anos. Em 2018, foram 312 registros de desaparecimentos via Reds em Juiz de Fora; em 2019, 325; em 2020, 278; e, por fim, em 2021, foram 234 documentos elaborados. Segundo a Sejusp, os números se referem “à quantidade de pessoas dadas como desaparecidas em registros no Reds”. A pasta também pondera que os dados “não informam se as pessoas ainda estão desaparecidas ou não”.
Em todo estado, foram 31.519 registros desde 2018, média de 7,8 mil pessoas dadas como desaparecidas anualmente, ou 21 registros por dia em Minas. Quando destrinchados ano a ano, os dados estaduais também mostram redução significativa nos dois últimos anos. Em 2018, foram registrados 9.083 desaparecimentos; em 2019, o número caiu para 8.785; em 2020, foi para 6.854; e, em 2021, seguiu o movimento de queda e chegou a 6.797.
A chefe da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida da Polícia Civil, Bianca Landau, relaciona a queda observada desde 2020 à eclosão da pandemia de Covid-19. Entretanto, as ocorrências de desaparecimentos, segundo ela, passam por queda gradual desde a metade da última década. “Hoje em dia, é mais difícil você se manter desaparecido. Com o avanço das tecnologias, você tem câmera para todo lado, as investigações estão mais aperfeiçoadas (…). Nós temos casos que permanecem enigmáticos por muitos anos, mas é mais difícil.”
Motivos são muitos, diz delegada
A Divisão de Referência, comandada por Bianca Landau, fica localizada em Belo Horizonte e é responsável pelas investigações referentes à capital. Além disso, a divisão presta apoio às delegacias do interior e tem a atribuição de elaborar os materiais de divulgação sobre a temática. Segundo a delegada, as ocorrências de desaparecimento são multifacetadas, porque se apresentam de muitas maneiras aos investigadores. “Varia muito a depender da idade da pessoa desaparecida. Uma coisa é a criança ou o adolescente desaparecido, e outra coisa é o adulto.”
Nos casos de adultos, muitos dos desaparecimentos são considerados voluntários, quando a pessoa opta por sair de casa por não querer continuar a ter contato com os familiares. Outros casos comuns, segundo a delegada, são os sumiços de pessoas com alguma deficiência ou dificuldade de ordem intelectual, o que pode fazer com que o indivíduo tenha alguma confusão mental e saia de casa. Há, ainda, casos graves que envolvem crimes. “Ou porque estão sendo vítimas de algum crime dentro de casa, ou porque estão sendo ameaçadas. Tem, também, aquelas pessoas que estão desaparecidas e que a gente infelizmente localiza sem vida”, enumera Bianca.
Quanto aos adolescentes, o mais comum é quando saem de casa por conta de conflitos com familiares. Já as crianças inspiram ainda mais atenção, porque são corriqueiros casos em que os pequenos simplesmente se perdem, mas também aparecem ocorrências de aliciamento. “Hoje em dia, a gente orienta muito os pais para tomarem muito cuidado com aquilo que os filhos estão acessando nos computadores, telefones celulares, com quem eles estão andando na escola”, orienta a delegada.
PRF tem plataforma para registro de desaparecimentos
No último mês de fevereiro, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) lançou a plataforma Sinal Desaparecidos, que busca agilizar o registro de desaparecimento de pessoas. O sistema, localizado no site da PRF, estabelece comunicação direta com policiais federais de plantão situados no raio de 500 quilômetros do ocorrido. A intenção é aproveitar as primeiras horas após a identificação do sumiço, período importante para que as buscas sejam bem sucedidas.
A nova plataforma pode ser acessada no site: desaparecidos.prf.gov.br. Nela, o notificante oferece informações sobre o desaparecido, como nome e características, e sobre as condições do desaparecimento, como data e local do desaparecimento. “Quando você insere (o desaparecimento) dessa pessoa, todas as equipes da PRF num raio de 500 quilômetros do acontecimento recebe um alerta no smartphone funcional”, explica o policial rodoviário federal, Junie Penna.
Ocorrência deve ser feita imediatamente
Segundo a Polícia Civil, o registro da ocorrência deve ser o primeiro procedimento realizado por familiares ou amigos ao notar um possível desaparecimento. O boletim não precisa ser feito, necessariamente, em uma delegacia da Polícia Civil, podendo ser registrado por meio da Delegacia Virtual ou também em qualquer unidade da Polícia Militar. O cadastro no Sinal Desaparecidos não elimina a necessidade de realizar outras medidas para notificar o desaparecimento, incluindo o registro do BO.
Outro ponto importante é que o registro preferencialmente deve ser realizado imediatamente. Ou seja, não há indicação para espera de 24 horas ou 48 horas do desaparecimento para solicitar o apoio policial. Dessa forma, orienta a PCMG, notando uma alteração na rotina do indivíduo que possa se caracterizar como um possível desaparecimento, o boletim deve ser elaborado para que as buscas comecem ainda nas primeiras horas.
As informações são do portal Tribuna de Minas, associado AMIRT.