Juiz de Fora tem mais de 250 incêndios só este ano

Rapidamente o fogo consome tudo o que está pela frente. Descontroladas, as chamas avançam, muitas vezes oriundas da ação humana, exterminando grandes áreas de mata. Até o último dia 16, Juiz de Fora já havia contabilizado 253 ocorrências deste tipo, atendidas pelo Corpo de Bombeiros desde o início do ano. A maioria delas ocorreu em lotes vagos, com 139 registros, seguidos de incêndio em áreas de produção agrícola/pasto, totalizando 95 ocorrências que ajudam a encorpar as estatísticas, além de outros atendimentos de combate em áreas públicas e de reflorestamento.

Nesta terça-feira (17), um incêndio atingiu o Morro do Imperador. Essa seria, pelo menos, a segunda vez que as chamas queimam a mata do local em menos de dois meses. Nas últimas semanas, foram inúmeros focos espalhados em diversas regiões da cidade, causando prejuízos à fauna e flora locais. Um dos casos de maior repercussão ocorreu na noite da última quinta-feira (12), quando um homem de 35 anos foi preso depois de colocar fogo numa mata no Bairro Nova Gramado, na região Sudeste. Um lobo-guará, que estaria abrigado no local, foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros na garagem de uma casa. Para a corporação, o animal fugia das chamas e procurou proteção no imóvel.

O episódio foi registrado na mesma data em que a umidade relativa do ar atingiu o menor índice desde 2015, alcançando o patamar de 19%. O percentual representa estado de alerta, segundo critérios da Organização Mundial da Saúde. Com a umidade baixa, o ambiente fica propício a propagação de fogo, como vem ocorrendo em todo o país. Desde abril, quando teve início o período de estiagem, fenômeno causado pela ausência de chuva, foi notório o aumento do número de focos de incêndios. Combinadas com os baixos índices de umidade, não é difícil ver chamas lambendo a vegetação, e nuvens de fumaça tomando conta do céu, assim como ocorreu em 1º de agosto, quando um incêndio de grandes proporções atingiu a vegetação do Morro do Imperador. O fogo teve início no período da manhã e se estendeu ao longo do dia. A estimativa é de que entre 40 mil e 50 mil metros quadrados de vegetação tenham sido consumidos, o que corresponde, aproximadamente, a sete campos de futebol. Para controlar as chamas foi mobilizado um helicóptero e utilizados cerca de 20 mil litros de água.

Moradores reclamam de demora para atendimento

Desde o início da estiagem, a Tribuna vem recebendo vários telefonemas de moradores queixando-se que a situação estaria “insustentável”, lamentando, em algumas ocasiões, que bombeiros haviam sido acionados e demoravam para chegar ao local para combater as chamas. Não é difícil encontrar situações em que a reportagem fez contato com o Centro de Operações do Bombeiro Militar (Cobom) para solicitar informações sobre determinada ocorrência e foi informada de que a equipe ainda não havia conseguido se deslocar, pois havia muitos focos de incêndio ocorrendo, simultaneamente, na cidade. No início de agosto, a Tribuna saiu às ruas de Juiz de Fora e, em um período de quatro horas, contabilizou seis focos de incêndio nas regiões Central, Leste e Sul.

No mesmo mês, um morador do Bairro Recanto dos Lagos, na Zona Nordeste, que preferiu não se identificar, presenciou por três vezes, sendo duas num intervalo de menos de 24 horas, boa parte da mata ser consumida pelo fogo, que se iniciou na Rua Oliveira Pires de Carvalho e se estendeu até a Rua José da Silva Atalaia. Ainda de acordo com ele, na segunda vez que as chamas atingiram a área, a corporação teria demorado mais de três horas para chegar.

“Eu liguei para o 193 por volta das 11h e, somente às 14h30, os bombeiros chegaram.” No mesmo dia, conforme a assessoria dos bombeiros, foram atendidas oito ocorrências deste tipo. A demora também foi denunciada por um pedreiro, que pediu para não ter o nome divulgado. “Eu moro no Santo Antônio e teve um pasto que pegou fogo. Liguei para os bombeiros e, depois de quase duas horas, eles chegaram. Disseram que estavam empenhados em outra ocorrência. Aqui no meu bairro, parece que foi uma pessoa que causou o fogo. A gente precisa ter consciência da dificuldade que os bombeiros encontram. Apesar do atraso na chegada, eles trabalharam de forma incansável”, garantiu o morador.

Bombeiros asseguram que há efetivo suficiente

Os relatos levantam a polêmica sobre a espera por atendimento por parte da corporação, que admite a demora, mas garante atuar sob demanda e, principalmente, de acordo com a gravidade do chamado, “sempre otimizando o tempo-resposta dos atendimentos”. O assessor de comunicação do Corpo de Bombeiros, capitão Acácio Tristão, garante que não há déficit de pessoal, nem mesmo de viaturas a serviço do 4º Batalhão. Ele atribuiu a demora ao grande número de ocorrências de incêndio registradas na cidade. “Nós trabalhamos de forma inteligente, a fim de realizar uma triagem para atender toda a extensão da área de abrangência do 4º Batalhão. Em todo este ano, apesar do grande número de ocorrências, em nenhuma delas houve prejuízo a imóvel, nem mesmo feridos e, sequer, algum caso grave com mortes ou dano ao patrimônio, por exemplo. Nesta triagem, priorizamos ocorrências de maior destaque e magnitude. Há, entretanto, algumas que não conseguimos atender, portanto, é uma demanda reprimida.”

Ainda segundo Tristão, há um cenário de crescimento de ocorrências, natural nesta época do ano. “Para enfrentá-lo, elaboramos estratégias e mudamos a nossa forma de empenho. Limitamos o número de bombeiros de férias e retiramos a equipe administrativa para aplicá-la na rua. Muda-se, ainda, a escala de sobreaviso, que era a cada quatro dias e agora passa a ser de três. Entretanto, há dias em que, em uma única ocorrência, gasta-se seis, oito ou até dez horas. Outras, em trinta minutos conseguimos resolver.”

Sobre a possibilidade de falta de pessoal, levantada pelos leitores como um dos motivos do atraso no atendimento, o capitão esclarece que 188 militares estão a serviço de Juiz de Fora e, segundo ele, são suficientes para atender a demanda. Para garantir maior fluidez no atendimento diante da expansão do município, o capitão garante que houve descentralização dos trabalhos. Na cidade, por exemplo, além da sede que fica na Avenida Brasil, há ainda um destacamento dentro do campus da UFJF e o Pelotão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Pemad), no Bairro Santa Cruz, na Zona Norte.

“Esta distribuição garante maior rapidez na chegada dos militares ao local das ocorrências, descentralizando nossa sede e otimizando o tempo-resposta dos atendimentos. A gente precisa entender que, se houvesse dez ocorrências, nenhuma cidade teria dez viaturas de combate, daí a importância de se trabalhar com a prevenção, e a população tomar consciência do quão grave é colocar fogo em vegetação.”

Com relação a frota, Juiz de Fora conta com quatro veículos de combate a incêndios dos modelos ABTS, que possui materiais para salvamento de vítimas, e ATB, cujos recursos de salvamento são limitados, mas carrega dez mil litros de água. Cada destacamento tem pelo menos um veículo deste tipo. Fazem parte do 4º Batalhão Bombeiros Militar, além de Juiz de Fora, outros 28 municípios.

No Estado

Enquanto o Governo de Minas encaminhou bombeiros para reforçar o combate a incêndios na Região Amazônica, o território mineiro sofre com falta de efetivo, segundo informou a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra). A corporação está presente em 76 municípios, menos de 10% das 853 cidades que compõem o território mineiro. Atualmente, conforme a Aspra, são seis mil militares, quando o necessário seria oito mil agentes, dado confirmado pelo comandante-geral do corporação, coronel Edgard Estevo.

A associação não possui dados específicos de Juiz de Fora e, questionada, não soube informar se o efetivo de 188 é suficiente para atender a cidade. Ainda segundo a entidade, a atual administração do Governo estadual barrou a efetivação de 500 militares concursados este ano. Em junho, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais lançou o Plano de Comando, que prevê a ampliação do efetivo no estado até 2026. A proposta é expandir o atendimento para outras 57 cidades mineiras, totalizando 130 municípios. A expectativa é que 500 soldados ingressem na corporação em janeiro de 2020, a fim de sanar parte da deficiência de pessoal.

Provocar queimadas é crime passível de prisão

Provocar queimadas é passível de reclusão e multa previstas na Lei de Crimes Ambientais, todavia, mesmo com as sanções, o capitão Acácio Tristão estima que cerca de 90% dos episódios ocorridos em Juiz de Fora foram provocados por ação humana. “É um crime difícil de chegar a autoria. Na maioria das vezes, o incendiário foge antes da nossa chegada.”

No dia 1º de agosto, chamas tomaram parte do Morro do Imperador (Foto: Felipe Couri)

Sem apresentar números exatos dos episódios que seguiram para investigação, o militar alerta para o risco dos incêndios que ocorrem de forma indiscriminada. A orientação é corroborada pela tenente Ana Luíza de Oliveira, da Polícia Militar de Meio Ambiente, que destaca o trabalho preventivo desenvolvido na cidade. “Participam do Programa de Educação Ambiental crianças da quarta série de escolas da rede pública e particular. Nós trabalhamos também em conjunto com a Prefeitura, com Instituto Estadual de Florestas (IEF), Ibama e Corpo de Bombeiros, sempre de forma preventiva, para orientar a população. Uma vez atingida, a mata e os animais demoram a se restabelecer. Alguns animais não resistem e acabam morrendo.”

Já a Polícia Civil de Juiz de Fora informou que “os casos de registro envolvendo queimadas, feitos pela PM e Bombeiros, são registrados na delegacia de plantão, onde é confeccionado o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e encaminhado diretamente para Juizado”. A informação é que na Delegacia de Proteção aos Animais e Flora, atualmente, “não há qualquer registro de queimadas que seja do tipo criminoso”, esclareceu.
Órgãos ambientais defendem que não há necessidade de queimar, pois há alternativas corretas e legais que podem ser utilizadas para diversas finalidades. Quem precisar fazer qualquer tipo de queimada, ainda que controlada, deve solicitar autorização junto ao IEF. Denúncias podem ser feitas pelo 181, que é o canal anônimo, além dos telefones 190 e 193.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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