João Penido tem dificuldade em contratar médicos na pandemia

No fim do mês de abril, o Ministério da Saúde anunciou o envio de verbas para a criação de dez novos leitos de UTI exclusivos para o tratamento da Covid-19 no Hospital Regional João Penido em Juiz de Fora. Após a implantação destas unidades, no mês de maio, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que gerencia a instituição, precisou abrir um chamamento público emergencial para contratação de médicos que trabalhariam nestes novos leitos. O processo teve início no dia 20 de maio, oferecendo 12 vagas. Ao fim do certame, no dia 27 do mesmo mês, dos 11 classificados apenas sete profissionais compareceram para assinar o contrato. O não preenchimento de todas as vagas, entretanto, não impediu que os 10 novos leitos começassem a operar na instituição, que adotou medidas de remanejamento interno de profissionais para possibilitar a operação. Porém, o episódio ilustra o cenário de dificuldades para contratação de médicos no contexto da pandemia, reconhecido pela própria instituição e por representantes da classe dos trabalhadores da saúde.

No edital ao qual a reportagem faz referência, o salário oferecido foi de R$ 4.595,02 para a carga horária de 12 horas semanais. Na visão do presidente do Sindicato dos Médicos de Juiz de Fora, Gilson Salomão, a baixa procura dos profissionais se justifica principalmente por conta do salário ofertado, que inviabiliza a atuação do profissional frente aos riscos apresentados pela Covid-19. “A dificuldade maior são os salários oferecidos para trabalhar em ambiente fechado, correndo todos os riscos, principalmente em época de Covid-19. É lógico que a procura foi baixíssima. O que antigamente era uma coisa extremamente valoroza para o profissional ter um emprego público, hoje não é mais”.

Outro ponto associado à baixa procura seria o caráter temporário dos chamamentos. De acordo com a análise do presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de Juiz de Fora, Anderson Stehling, os contratos se tornam pouco atrativos quando seus prazos médios de validade são associados aos perigos da linha de frente do combate ao coronavírus. “O contrato não é um concurso público, ele é emergencial e possui um prazo de validade. Então é difícil para o profissional correr risco de vida para trabalhar com coronavírus com um contrato de um ou dois anos no máximo, que quando chega ao fim o profissional normalmente é dispensado.”

Contratações futuras terão melhor oferta salarial, garante Fhemig

O Hospital Regional João Penido conta hoje com 20 leitos de UTI dedicados exclusivamente ao tratamento da Covid-19. Faz parte do planejamento da Fhemig a futura implantação de mais 10 leitos de terapia intensiva na instituição, dependendo da evolução da doença em Juiz de Fora. Para criação destas novas unidades, será necessária a contratação de mais profissionais por meio de um novo chamamento público.

Segundo o presidente da Fhemig, Fábio Baccheretti, a expectativa é de que o recente aumento da proposta salarial a ser oferecida aos médicos torne a oferta de vagas futuras mais competitiva. “Em Juiz de Fora, que é uma cidade média para grande, nós notamos que não tínhamos um salário competitivo se comparado aos demais hospitais. Houve então um aumento do salário para contratação e a criação de uma gratificação para os médicos que já trabalham no hospital. Temos hoje um salário exclusivo para o setor de covid. O salário base foi para nove mil reais, além dos adicionais, como, por exemplo, o plantão estratégico, no qual pagamos R$ 1.500 por 12 horas. Todo médico que tem vínculo conosco pode fazer como se fosse uma espécie de hora extra. Ao fim, o salário pode chegar a R$ 15 mil, 24 horas por semana.”

Ainda conforme o gestor, as cinco vagas não preenchidas no último edital estão previstas para serem disponibilizadas no próximo chamamento. “Para que as cinco vagas restantes entrem nesse novo edital, é necessária uma análise, pois até lá o diretor do hospital já pode ter feito o remanejamento de médicos. Neste momento, o número de médicos que nós temos lá não está impedindo o funcionamento dos 20 leitos. A gente consegue com essa equipe ocupar toda escala. Mas para abrirmos dez novos leitos, em um primeiro momento, nós teríamos que abrir um novo processo de pelo menos nove vagas de 24 horas de carga horária.”

O presidente do sindicato dos médicos Gilson Salomão analisa com bons olhos o aumento salarial previsto para ser oferecido no próximo edital, mas caracteriza a situação momentânea como grave e complexa.”Estamos tentando abrir uma linha de diálogo com a Fhemig o que está muito difícil. Acredito que se o aumento do salário realmente for realizado a procura pode sim aumentar, mas o pagamento oferecido no último edital não passa de uma brincadeira de mau gosto. É uma situação extremamente grave e complexa, porque não adianta você ter hospital com UTI se não tiver os recursos humanos, que são tão importantes quanto o próprio leito e o próprio respirador.”

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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