Iniciativa leva prevenção à Covid-19 a pessoas cegas em JF

Lidar com as questões impostas pela pandemia do coronavírus não tem sido fácil para ninguém. Para as pessoas cegas, entretanto, as dificuldades são maiores, já que eles enxergam o mundo através do toque das mãos. Foi pensando nisso que a professora do curso de odontologia do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, Paula Liparini, adaptou um projeto voltado para a saúde bucal e outros temas, que já vinha sendo desenvolvido, a fim de contribuir com a prevenção das pessoas com deficiência visual durante a crise provocada pela Covid-19.

O projeto Sentir o Sorriso, que funciona em parceria com a Associação dos Cegos de Juiz de Fora, atualmente, conta com 50 pessoas assistidas pela instituição. Todos eles fazem parte de um grupo de WhatsApp e, uma vez por semana, eles recebem áudios, com cerca de cinco minutos de duração, abordando temas relacionados à prevenção da Covid-19 e outros assuntos, sempre com foco no bem-estar dos participantes. “Nesse grupo do WhatsApp são postados áudios preparados pelas alunas do projeto, toda semana, abordando questões de prevenção ao coronavírus e outros temas importantes para eles, como atividades físicas e de nutrição, pois temos alunos já formados nessas duas áreas, além de área de odontologia”, conta Paula.

Pacientes do grupo, que contavam com atendimento odontológico de forma presencial antes da pandemia, passaram a receber áudios pelo WhatsApp sobre cuidados para evitar a contaminação (Foto: Sentir o Sorriso)

Segundo ela, as pessoas cegas carecem de maior orientação sobre a pandemia, porque elas usam as mãos a todo o momento, o que faz deles mais vulneráveis ao vírus. “Eles precisam de orientações sobre como higienizar as mãos, quais os cuidados devem ser adotados ao sair de casa, porque, por serem pessoas que não enxergam, usam muito o tato. Eles têm que tocar para se locomover, o que implica sempre na utilização do álcool em gel, evitando colocar a mão no olho e na boca a fim de não se contaminarem”, observa a professora, lembrando que esses temas fazem partes dos áudios que são encaminhado no grupo, sempre às quartas-feiras. “Depois de cada áudio, ficamos on-line por cerca de três horas para haver uma interação, tirar dúvidas ou fazer novas explicações.”

Iniciação científica

O Sentir o Sorriso é um projeto de iniciação científica da Estácio. O objetivo é prestar assistência odontológica a pessoas com deficiência visual parcial ou total assistidas pela Associação dos Cegos, que funciona como porta de entrada para o trabalho. Antes da pandemia, as atividades, como as rodas de conversa, aconteciam de forma presencial. Além disso, os pacientes passavam por uma triagem, e aqueles que necessitavam de tratamento odontológico eram encaminhados para a Clínica Odontológica do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, onde recebem o atendimento de forma gratuita.

“Com a pandemia, o projeto foi adaptado, pois, uma vez por semana, ele acontecia de forma presencial com roda de conversa e abordagem de diversos assuntos. Mas, com a quarentena, essas rodas de conversas foram suspensas e, a partir daí, começaram a acontecer de forma on-line, via WhatsApp”, explica a coordenadora, Paula Liparini, ressaltando que esse foi o caminho encontrado para que o projeto prosseguisse em funcionando em tempos de isolamento social. “Neste mês, ele está em recesso devido ao período de férias, mas volta a todo vapor em agosto”, afirma.

Parceria

A assistente social e coordenadora da Associação dos Cegos, Maria Rachel Miranda, pontua que o projeto configura-se em uma parceria feliz entre as duas instituições. Anteriormente, o foco era voltado para a saúde bucal dos assistidos, trabalho que também continua. “É desenvolvido todo um trabalho de saúde bucal, tratamento dentário e palestras de prevenção a cáries. Isso é de suma importância. Mas com o surgimento da pandemia, a roda de conversa no WhatsApp, abordando também outros temas, tornou-se um complemento das atividades que a associação já desenvolve”, explica Rachel, acrescentando que a instituição, por meio do seu Centro de Reabilitação Visual, também promove diversas atividades, como artesanato, orientação e mobilidade para a autonomia do deficiente visual em seus deslocamentos, aulas de informática, curso de capacitação em massagens, atendimento psicológico e de assistência social, além de manter um projeto para inclusão das pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho.

Foto: Sentir o Sorriso

Informação e carinho

Depois de cada postagem no grupo do WhatsApp, Paula e as estudantes que fazem parte do projeto sempre recebem um retorno dos participantes. Segundo elas, esse é o momento em que sempre se emocionam. “Recebemos um retorno maravilhoso com os áudios de agradecimentos que eles nos enviam. Isso é muito bom para eles, porque muitas vezes estão em casa sozinhos e, além de receberam informação, também estão recebendo um carinho através dos áudios.” Paula diz que é muito gratificante desenvolver o projeto, que também serve para ampliar os conhecimentos dos alunos. “Significa que estão adquirindo uma formação mais completa, aprendendo a lidar com todos os tipos de pacientes. Esse paciente especial requer uma lida especial”, completa.

A estudante Suzi Martins, que vai para o 8º período do curso, é uma das participantes. Ela integra a equipe do Sentir o Sorriso há cerca de um ano. “Ao invés de oferecer, é a gente que recebe. É assim que encaramos o projeto. Muitas vezes me emocionei em razão do valor que eles dão para o profissional, para o cuidado que temos com eles. Lidar com pessoas com deficiência visual requer uma outra linguagem. A linguagem dos sentidos, que faz jus ao nome do projeto, que é Sentir o Sorriso. É uma outra forma de relação com o paciente, que ultrapassa o que aprendemos enquanto universitários”, ressalta Suzi, acrescentando: “Agora, com o trabalho via WhatsApp, gravei áudios sobre higiene do sono, respiração, a importância de uma alimentação leve, de usar a música para se sentir mais tranquilo. E eles davam um retorno bacana. Superou as expectativas de como seria esse trabalho diante das limitações da pandemia e do isolamento social”.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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