Heróis anônimos. Conheça alguns profissionais da saúde de Muriaé que enfrentam a pandemia na linha de frente

Heróis anônimos. Conheça alguns profissionais da saúde de Muriaé que enfrentam a pandemia na linha de frente
Profissionais de algumas instituições de saúde

A pandemia causada pelo novo coronavírus mudou o estilo de vida da população e para os profissionais da saúde que estão no enfrentamento na linha de frente, o impacto foi ainda maior.

Enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, fisioterapeutas, porteiros, socorristas, psicólogos, assistentes e equipe de limpeza das instituições de saúde são algumas das categorias que estão expostas diariamente a contaminação e exercem serviços essenciais.

E diante das angustias, medos e desafios, contar algumas destas histórias é o mínimo que podemos fazer para agradecer e valorizar profissionais tão dedicados.

Conheça abaixo alguns destes profissionais e relatos do dia a dia deste trabalho tão importante

Daiany Bagli Gomes é técnica de enfermagem, formada há seis anos e trabalha na Casa de Saúde Santa Lúcia, que além de outras especialidades, também atende e trata pacientes infectados pelo Covid-19.

Escolheu a profissão por admirar quem trabalhava com a enfermagem, pelo cuidado com os pacientes da forma física, mental e até espiritual. Nutriu este sonho e o tornou realidade, sendo hoje apaixonada pela profissão.

Como está sendo o desafio de atuar e cuidar de paciente com covid-19?

“No início de tudo a primeira sensação era de medo. Medo do desconhecido, medo de contrair o vírus e se tornar ponte de contaminação para amigos e familiares. Mas Deus fortalecia nossa equipe, dias após dia, e o amor à profissão fez com que aflorasse em nós, junto com o profissionalismo, o amor ao paciente e seus familiares e toda a equipe.”

Durante esse período de pandemia qual o fato que mais te marcou?

“O que mais me marcou, foi vê o agir de Deus e a alegria após a recuperação de cada paciente, em especial a recuperação de um jovem de 38 anos, após 65 dias de muitas lutas, sofrimentos, inseguranças, momentos de desânimos, desesperos, falta de esperança, sem resultados de melhoras, dependente de respirador mecânico, com somente 5% dos pulmões funcionando, após uma corrente de oração, uma equipe que trabalhava juntos para sua recuperação, médicos que não desistia dele em nenhum momento, veio o dia mais esperado por todos, o dia da alta após uma melhora impactante para todos nós, aí os choros já eram de alegria, a família estava toda lá na porta esperando por ele cada um mais feliz e grata a Deus pelo milagre.”

Como foi conviver com pessoas que entraram no hospital com a doença e não conseguiram sair com vida?

“Muito difícil conseguir expressar em palavras o que sentimos com a perda de cada paciente, em decorrência do isolamento imposto a pacientes com o coronavírus e da intubação adotada em casos graves, muitos familiares não conseguiram dar o último adeus, nos fazia o papel dos familiares, só Deus sabe o que passamos dentro de uma UTI.”

 

Marcia Revinotte é técnica de enfermagem, trabalha na Fundação Cristiano Varella, que além de especialidades, também atende e trata pacientes infectados pela Covid-19 que passam por tratamento especifico.

Por que escolheu a área de saúde?

“Talvez eu possa dizer que a área da saúde me escolheu. Meu primeiro emprego foi em uma drogaria, quando tinha apenas 14 anos. Desde então, sempre estive presente na área de forma direta ou indireta. Após o término do colegial, me interessei pelo curso de enfermagem, ainda trabalhando na drogaria, concluí esse curso. Porém na época, por questões financeiras, não exerci a profissão. Os anos passaram, trabalhei em outros campos, mas sempre que tinha a oportunidade retornava ao ramo da saúde. Certo dia resolvi buscar mais. Tinha dentro de mim o desejo de Fazer psicologia e assim o fiz. Na ânsia por maiores conhecimentos, comecei a exercer o a função de técnico de enfermagem, pela qual eu tenho, atualmente, afeição e paixão. Sou psicóloga clínica em atendimento particular, ademais, sou técnico de enfermagem na Fundação Cristiano Varella há mais de três anos, local em que tenho o prazer de exercer o que gosto e realização pessoal em poder ajudar o próximo. Porque na vida não há nada melhor do que poder ajudar quem precisa. Não coloco o meu trabalho como emprego, e sim, um ato de servir ao próximo em forma de cuidados.”

Como está sendo o desafio de atuar e cuidar de pacientes com covid?

“Não foi e não está sendo fácil estar à frente de tantos desafios, não só para a ciência, mas também para a população em geral. É um vírus novo que chegou, radicalmente, para mudar nossas vidas de forma inesperada. No entanto, pode-se perceber que durante a pandemia está sendo possível resgatar momentos em família que já não existiam mais. Uma apreensão imensurável é quando temos a notícia de que um dos colegas de trabalho foi infectado, é um sentimento de impotência tão grande, por infelizmente não sabermos qual será o desfecho. O vírus é excessivamente cruel e torna necessário que a pessoa contaminada permaneça em isolamento. Aqueles pacientes que precisam ser hospitalizados não podem ter um ente próximo ao seu lado. Existem também, casos em que o paciente precisa de tratamento intensivo e, em algumas situações, perdemos esse paciente. Alguns vão dizer que para nós é só mais um número, mas não! Somos humanos, nos colocamos no lugar do outro.”

 

Wellem Souza da Silva, é casado, tem um filho, enfermeiro há 12 anos trabalha no Hospital São Paulo e também atua como socorrista.

Escolheu ser enfermeiro por ver na profissão a oportunidade de ajudar as pessoas de forma diferente. Sempre profissional e fazendo a diferença, atendendo o paciente e a família da melhor forma.

Durante esse período de pandemia, qual o fato que mais te marcou?

“Com certeza o que mais me marcou foi quando contrai o vírus, fiquei em isolamento domiciliar com minha esposa e filho, sem saber se estava transmitindo a doença para eles ou não. Sempre estava tendo todo cuidado possível, mas a incerteza era terrível. Mas Deus é muito bondoso e não nos abandona jamais.”

Como foi conviver com pessoas que entraram no hospital com a doença e não conseguiram sair com vida?

“Olha, tem uma coisa que falo com todos os pacientes que atendo desde o início da pandemia: cada plantão é uma vitória, Deus estará abençoado todos nós e tudo será de acordo com a vontade dele, tenha fé. Aconteceu muitas vezes de chegar no outro dia pra trabalhar e aquele ou aquela paciente que tive essa conversa não estar mais lá… Não sei como descrever isso. Dói muito. O vírus não deve ser subestimado . Não devemos, nunca, deixar de tomar os devidos cuidados . Como enfermeiro nunca vi nada parecido.”

 

Ana Paula de Oliveira Ramos, é enfermeira há 15 anos, tem uma filha e há três anos trabalha na Casa de Saúde Santa Lúcia, que além de outras especialidades, também atende e trata pacientes infectados pelo Covid-19.

Escolheu a área da saúde, porque queria contribuir e cuidar dos outros na adolescência, já que vivenciou a hospitalização dos avós e sentiu que poderia fazer mais e a diferença na vida das pessoas.

Como está sendo o desafio de atuar e cuidar de paciente com covid?

“Trabalhar no CTI demanda de uma atenção e vigilância muito grande, são pequenos detalhes que fazem grande diferença. Com o Covid, passamos a ter que administrar todo o trabalho junto com o medo de adoecer e transmitir isso a nossa família. O peso desse novo vírus e o medo por ser uma doença nova. Estamos aprendendo a tratar essa doença, vários protocolos foram adaptados ao nosso processo e esse vírus transformou a maneira de trabalhar. É um grande desafio, todos os plantões, sobrecarga de trabalho, sobrecarga mental, sentimento de impotência na perda e a alegria na recuperação de um doente. É um misto de sentimentos.”

Como foi conviver com as pessoas que entraram no hospital com a doença e não conseguiram sair com vida?

“Frustração, impotência… essas são as palavras, ver a evolução, a piora a cada hora, a angústia respiratória acusada pelo vírus. Não é fácil, saber que o pior pode acontecer apesar de todos os esforços.”

Durante o período da pandemia, qual o fato que mais te marcou?

“Foram várias situações marcantes. Em muitos as visitas são proibidas, os pacientes ficam completamente isolados, afastados da família, dos amigos. Os que estão conscientes estão acompanhados pelo medo… somos o único contato e o olhar e o que podem ver, o restante está coberto pelo EPIS. Cuidamos desses pacientes com o olhar, aprendemos a confortar e sorrir com os olhos. Eu vive este outro lado em 16 de julho quando detectei positivo para covid, me isolar da minha filha e minha família foi doloroso, angustiante, o medo de evoluir para uma situação pior é nunca mais vê-los… Ansiedade, estresse foram sentimentos que me acompanharam. E ver os que não estão se importando com esse novo normal, por revolta… tanto pelo fato de estar na linha de frente cuidando, quanto por vivenciar a doença enquanto paciente.”

Importante ressaltar que esta matéria é uma forma de homenagem a todos os profissionais, de todas as áreas e que de forma direta ou indireta estão atuando no enfretamento da pandemia.

Fonte : Rádio Muriaé

Postado originalmente por: Rádio Muriaé

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