Em um lugar antes tomado pelo tráfico de drogas e cenário de um crime bárbaro, agora tem arte. Buscando transformar e regenerar uma área crítica do Bairro Jardim Natal, conhecida como “paredão” da Vila Tarcísio, alunos da Escola Estadual Francisco Bernardino fizeram, nesta quinta-feira (8), um trabalho de grafitagem em um muro da via, onde antes criminosos picharam os dizeres “PM bom é PM morto”. A ação foi uma iniciativa de Polícia Militar (PM), que vem fazendo um trabalho de ocupação do bairro desde que uma mulher e um homem foram torturados no “paredão”, no início do mês passado. “Essa ação tem um simbolismo muito grande, de retomar o território para o bem. Estamos aqui para mostrar que, através de ações pontuais, podemos transformar este local, um reversão do que era antes”, disse o comandante da 269ª Companhia, capitão Dimas Ferraz.
A ideia de fazer o grafite no muro surgiu depois que a Polícia Militar deu início a um trabalho de limpeza na Rua 1, com apoio da Prefeitura. Até uma espécie de barricada feita com entulhos foi retirada. O obstáculo havia sido feito por traficantes que queriam dificultar a passagem da polícia na região. Antes de receber a ação artística, foi feita uma limpeza geral, eliminando os buracos do muro que recebeu a pintura e, ainda, providenciando o reparo das lâmpadas de iluminação pública.
Segundo o subcomandante da unidade, tenente Aloísio Vargas, a área já era conhecida como ponto de uso e vendas de drogas, mas as atenções se voltaram ainda mais para o local depois que ocorreram as duas tentativas de homicídio. No mês passado, uma mulher foi agredida e teve traumatismo cranioencefálico, trauma no tórax e várias lesões pelo corpo. Criminosos ainda urinaram em cima dela depois que ela estava muito ferida. Além disso, um homem, ainda não identificado, teria tido as unhas arrancadas. “Essa ocorrência motivou a Polícia Militar a ser ainda mais incisiva na repressão e prevenção. A ideia é buscar meios de regenerar o local a fim de devolvê-lo para moradores de bem, além de desestimular os mal intencionados a frequentarem”, pontuou o oficial.
Mão na massa
O responsável pelo planejamento e pela execução do grafite foi o professor de Artes Cláudio Melo. A PM fez contato com o docente e disponibilizou transporte para os alunos da escola estadual localizada também na Zona Norte. Cerca de dez estudantes do ensino médio participaram da ação, que foi também uma aula a céu aberto. Antes da pintura, o professor trabalhou, em sala de aula, o tema com os estudantes, que fizeram projetos para definir qual mensagem seria grafitada.
Onde antes se via afronta à polícia, hoje são lidas frases que buscam promover a paz social e o bem-estar. Os alunos grafitaram os dizeres “regue a vida com amor”, “o Jardim é de todos” e “paz no paredão”. Para o professor, a ação foi uma oportunidade de usar a arte como forma de engajamento social. “Isso demonstra a importância da mobilização de todos os setores da sociedade para resolver problemas graves. Dei as aulas dessa semana falando da arte como possibilidade de pensar e mudar a sociedade, do grafite como ferramenta para alterar o uso dos lugares”, disse Cláudio.
A transformação pela arte
Uma das alunas que ajudou na grafitagem foi Ana Carolina Leandro dos Santos, estudante do 3º ano. “É muito importante ter contato com a arte e trazer este engajamento social para cá. A partir do momento que vemos um local com tantos crimes, que pessoas frequentam de forma negativa, trazer a arte muda. É transformar o ambiente com tinta e pincel”, comentou. Capitão Dimas Ferraz destacou que os trabalhos policiais e de revitalização continuam. O próximo passo é tentar asfaltar o trecho. “Isso vai tornar mais fácil o trânsito dos moradores, que é a nossa maior preocupação, e também das viaturas que patrulham a área.”
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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora
