Golpistas sacam dinheiro do FGTS Emergencial de juiz-foranos

Trabalhadores de todo o Brasil que tentaram fazer o saque emergencial do FGTS de até R$ 1.045 descobriram que o dinheiro já havia sido sacado. A Caixa Econômica Federal não informa o número de pessoas que procuraram o banco para reclamar sobre a retirada indevida do dinheiro em Juiz de Fora. Mas dados levantados pela Tribuna junto ao sistema de Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) mostram que, desde 1º de junho, pelo menos 80 casos foram registrados na Polícia Militar por juiz-foranos que foram surpreendidos com saques indevidos do FGTS Emergencial em suas contas.

Fernando Peixoto, de 46 anos, está entre os trabalhadores de Juiz de Fora que foram vítimas desse saque fraudulento do FGTS Emergencial. Ele teve R$ 1 mil retirados indevidamente da sua conta. “Recebi a informação de que havia sido liberado o saque do FGTS para mim em uma conta virtual. Então entrei em um aplicativo do FGTS e observei que teria direito de sacar R$ 1.045 a partir do dia 19 de outubro. Fiquei aguardando a data prevista pela Caixa para que pudesse me dirigir até uma agência e pudesse fazer o saque em espécie com o código que me seria fornecido lá”, conta.

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Conforme o beneficiário, no dia 19, quando ele procurou a agência, constatou que o dinheiro já havia sido utilizado. “Fui muito bem atendido por uma funcionária, que conferiu os meus dados e me questionou se eu já havia sacado alguma quantia do meu fundo ou pago alguma conta com aquele valor que estava disponível. Diante da minha negativa, ela relatou que, na minha conta, o saldo disponível era de somente R$ 45 e que já constava um pagamento ou uma compra, que não me recordo, no valor de R$ 1 mil, realizada em 31 de agosto”, contou o trabalhador.

Como providência, conforme Fernando, a funcionária abriu uma contestação e orientou que ele retirasse os R$ 45 restantes da sua conta. “Ela me informou que o prazo para a providência estava em torno de dez dias úteis, podendo até ser mais. Também disse que a Caixa me daria um retorno sobre o caso. Eu sigo aguardando. Também fiquei sabendo que isso está acontecendo em todo o Brasil”, lamentou.

Caixa não especifica prazo para solução

À Tribuna, a Caixa informou, por meio de nota, que pedidos de contestações de saque do FGTS Emergencial podem ser solicitados a qualquer momento pelos clientes em uma de suas agências. Para fazê-los, o cliente deve portar o CPF e um documento de identificação. Conforme a instituição, a análise dos processos é feita com máxima celeridade.

“Os resultados das análises são repassados diretamente aos interessados. No caso de negativa do pedido, poderá ser solicitada a reanálise na agência”, esclareceu a Caixa, acrescentando que “por motivos de segurança, os dados de contestações e os critérios técnicos de análise de suspeitas de fraudes não podem ser expostos ao público em geral, mas apenas aos órgãos policiais envolvidos nas investigações.” O banco, no entanto, não especificou o tempo que esse processo pode levar.

Dinheiro faz falta

Para Fernando, o dinheiro que não conseguiu sacar do FGTS Emergencial está fazendo falta. “Com a pandemia, redução de jornada de trabalho e salarial, esse valor seria importante para que eu pudesse saldar algumas contas. Quando me deparei com a situação, fiquei com um misto de decepção e de descrédito no país, porque o governo libera para gente um dinheiro que é nosso, fruto do nosso trabalho honesto, mas com um sistema que é passível de fraude. Não há como ter confiança, e, por isso, a decepção com esse sistema, porque para me ressarcirem, o dinheiro, que já era meu, terá que sair de algum lugar, e esse lugar sempre é o povo”, afirma o trabalhador, que ainda diz que se sente vulnerável em relação à fraude.

“Estamos todos muito desprotegidos, pois o Brasil tem um sistema de informação que nos causa desconfiança, porque se alguém consegue entrar em um aplicativo e utilizar os meus dados para sacar um dinheiro que é meu, fico pensando no resto do meu dinheiro que está no FGTS e nas minhas outras contas, como a poupança. Se conseguiram sacar uma vez, conseguem sacar outras vezes, o que é muito temeroso. E espero que esse problema tenha solução, porque esse dinheiro faz falta nesse período de pandemia e ainda mais porque não sabemos como será daqui para frente.”

Fernando não registrou o seu caso na polícia. E isso sugere que o número de pessoas lesadas na cidade seja maior do que o levantado pela Tribuna desde o início de junho.

Mecanismos para melhorar critérios de segurança

Para conter as ações dos fraudadores, a Caixa disse que diversos mecanismos têm sido constantemente implementados pelo banco. Dentre os quais, a instituição destacou: validação digital de dados dos clientes em bases internas e externas; validação documental por imagem; monitoramento de cadastros; monitoramento de transações e atuação junto à Polícia Federal para investigar atuações de quadrilhas.

Ainda conforme o banco, está sendo empregado, constantemente, o melhoramento de critérios de segurança de acesso ao Caixa Tem. Inclusive, nos últimos dias, a Caixa destaca a implantação de melhorias importantes. Isso, conforme o banco, observando as melhores práticas de mercado e as evoluções necessárias ao observar a ocorrência de fraudes no FGTS Emergencial.

Também esclareceu que a escolha dos procedimentos adotados para cadastro e pagamentos do auxílio emergencial seguem as orientações dos órgãos de controle e de segurança. Tais orientações consideram o enfrentamento da pandemia e as limitações de recursos da população beneficiada.

“No mais, destacamos que a Caixa atua conjuntamente com a Polícia Federal e demais órgãos de segurança pública na identificação de casos suspeitos e na prevenção das fraudes no pagamento do Saque Emergencial do FGTS e demais benefícios sociais”, afirmou a nota, enfatizando que os trabalhadores devem utilizar apenas os canais oficiais do banco para obter informações sobre o Auxílio Emergencial e FGTS Emergencial.

Banco recomenda cuidados

Como medidas de autoproteção, a Caixa recomendou que os beneficiários não forneçam senhas ou outros dados de acesso em outros sites ou aplicativos. O cliente deve estar sempre atento a qualquer atividade e situação não usual. Além disso orienta a não clicar em links recebidos por SMS, WhatsApp ou redes sociais para acesso a contas e valores a receber.

O banco também orientou que se deve desconfiar de informações sensacionalistas e de “oportunidades imperdíveis” e fez um alerta para links suspeitos, que podem levar à instalação de programas espiões, que podem ficar ocultos no celular ou computador, coletando informações de navegação e dados do usuário.

Ainda adverte que é preciso utilizar sempre navegadores e softwares de antivírus atualizados. Lembra, também, que a Caixa jamais pede senha e assinatura eletrônica numa mesma página. Desta forma, a assinatura digitada ocorre somente por meio da imagem do teclado virtual. Por fim, pontua que não envia SMS com link e só envia e-mails se o cliente autorizar.

Como funciona o golpe do FGTS Emergencial

O FGTS Emergencial tem dois calendários, sendo o de depósito e o de saque e transferência. O benefício é depositado automaticamente em contas de poupança social digital na Caixa, acessadas pelo aplicativo Caixa Tem. Após ser depositado o benefício, e enquanto não é liberado para saque, os golpistas baixam o Caixa Tem. No aplicativo, eles preenchem os dados com o CPF do trabalhador e um e-mail falso para acessar o valor.

Para retirar o valor da conta, os criminosos pagam boletos gerados em alguma carteira digital. Dessa forma, a vítima só percebe que caiu no golpe quando tenta se cadastrar no Caixa Tem. Isso porque o sistema acusa que um cadastro já foi feito com o CPF dela.

No último dia 22, como informou o site G1, a Polícia Federal de Niterói (RJ) prendeu sete suspeitos de desviar, da Caixa, quantias do FGTS e cotas do PIS de trabalhadores. O prejuízo apurado chegava a R$ 2 milhões.

Entre os presos da Operação Abono estava um funcionário da Caixa, suspeito de auxiliar nos golpes. Uma oitava pessoa foi presa em flagrante por falsificação. Conforme as investigações, a quadrilha utilizava uma rede de falsificadores para realizar os saques fraudulentos na Caixa.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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