Com entrevistas e aulas online, o evento traz 22 atividades gratuitas que abordam temas contemporâneos, como os papéis de gênero, a negritude e o protagonismo das mulheres na dança; programação começa no dia 20 de novembro, sábado
Para além das técnicas de expressão corporal, as danças de salão envolvem uma cadeia de afetos sobre a memória de pessoas e lugares, com um vasto impacto histórico e social provocado pelo ato de dançar a dois. Com base nesses elementos de diálogo entre o gingar dos corpos e a sociedade, o 1º Festival Noh! — Minas Dança a Dois, vai oferecer uma imersão sobre as raízes, possibilidades e profissionalização das danças de salão em Minas Gerais. Na programação, a partir de 20 de novembro, serão 22 atividades gratuitas e realizadas de forma online, entre entrevistas e workshops com renomados nomes da dança de salão em Minas Gerais, abordando temas que vão desde a produção artística até os papéis de gênero na modernidade e sua consequente desconstrução dentro dos salões de dança. Toda a programação está disponível em www.noh.art.br
O 1º Festival Noh! nasceu de um desejo antigo de Guilherme Veras, que há 21 anos atua como educador, pesquisador e especialista em linguagens das danças de salão, dominando com fluidez seus gêneros, do Blues ao Forró; do Lindy hop ao Bolero. Apesar dos vastos eventos de dança de salão realizados em Minas Gerais, além de um alto número de escolas dedicadas às técnicas dos gêneros — apenas em Belo Horizonte são cerca de 80 academias de dança — ainda faltava registrar os personagens, as memórias, os costumes e tradições que envolvem as danças de salão, refletindo sobre essa arte para além da técnica.
“Apesar das danças de salão serem tradicionais e importantes dentro da nossa sociedade, atraindo um grande público, não existem muitos festivais e encontros para expor as suas histórias, culturas e ideias. A maioria dos eventos é de caráter prático. Além disso, existe pouca representatividade e visibilidade nos setores culturais e artísticos tradicionais”, explica Guilherme. “Muitos professores das danças de salão não se sentem aptos para atuarem profissionalmente e artisticamente, pois não enxergam o seu ofício como parte do ‘movimento da dança ou da arte’, porque não existe uma solidez da memória de quem ajudou a construir a cena”, completa Guilherme.
Nascida no berço renascentista europeu, e introduzida no Brasil pela corte portuguesa, que inaugurou o formato do abraço entre os pares junto a papéis de etiqueta para “cavalheiros e damas”, a dança de salão também recebeu influências diversas dos indígenas e dos povos africanos, com criatividade, espontaneidade e improviso, formatando misturas únicas entre as expressões do corpo, do Ballet ao Samba, do Pasodoble ao Maxixe. “Ao longo da história, as danças de salão ocuparam diversos espaços, desde clubes burgueses de prestígio social a encontros e festejos populares nos guetos e comunidades, criando aproximações sociais únicas. Hoje, as danças de salão carregam essa dualidade associada a diversos outros saberes”, diz Guilherme.
Programação
As raízes das danças de salão, bem como os seus desdobramentos nas representações e discussões importantes da contemporaneidade, a partir de questões ligadas a negritude e debates raciais, protagonismo das mulheres e cultura LGBTQIA+, por exemplo, norteiam a programação do 1º Festival Noh!, viabilizado com recursos da Lei Aldir Blanc. O material multimídia, com 11 entrevistas e 11 workshops, foi previamente gravado, editado e disponibilizado gratuitamente no site www.noh.art.br. Os vídeos entram no ar dia 20 de novembro, a partir das 17h, com classificação livre e para todos os públicos.
Entre os professores e palestrantes estão grandes referências como Jomar Mesquita, fundador e diretor artístico da Mimulus Cia de Dança e coreógrafo de companhias como Bolshoi do Brasil, Grupo Galpão, Ballet Jovem de Minas Gerais, entre outras; e Mauro Fernandes, dos principais jurados de dança de salão no país, com 31 anos de atuação, tendo participado como jurado de programas como “Dança dos Famosos” (Globo) e “Se Ela Dança eu Danço” (SBT).
Também há presença da bailarina Fabiana Dias, apresentando a pesquisa sobre binarismo de gênero e heteronormatividade no universo da dança de salão, a partir de reflexões sobre o machismo e o colonialismo. Na mesma linha, com abordagem feminista sobre os papéis de gênero, a professora de dança de salão ou “dança a duas”, Luiza Machado, debate pesquisas sobre negritude e higienização da dança de salão, gordofobia e imposições de padrões de imagem e de hierarquia de gênero.
Os outros convidados são Daniel Vidal, melhor bailarino mineiro no ano de 2006 pelo prêmio SESC/Sated; Samuel Samways, um dos curadores e idealizadores do Festival de Dança de Salão Contemporânea, com trabalho focado na interseção das danças tradicionais latino-americanas, danças sociais e capoeira; Rodrigo de Castro; diretor da Grupo Experimental Mimulus de 2011 a 2016, Coreógrafo da cia Mimulus e ex-professor da Universidade Tuiuti do Paraná; Izabela Miranda, professora de dança de salão com foco em ballet, jazz, afro e samba de roda, e fundadora do grupo cênico-percussivo Xicas da Silva; Welbert de Melo, dançarino e coreógrafo, com formação pela UFMG em Pedagogia do Movimento Para o Ensino da Dança e diretor da Cia Café com Dança; e Gustavo Fraga, bailarino com pesquisas em danças de salão e danças folclóricas, tendo passagens por companhias como Grupo Sarandeiros, Grupo Aruanda e Mimulus Cia de Dança, além de outros convidados com participações especiais.
Este projeto é realizado através do Edital 16/2020 referente aos Recursos da Lei Aldir Blanc disponibilizados pelo Governo Federal e Secretaria do Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
Sobre Guilherme Veras
Natural de Belo Horizonte, Guilherme Veras, de 36 anos, atua desde 1999 como educador e especialista em linguagens de dança a dois (danças de salão), capoeira e culturas populares. Fez parte do GE da Mimulus CIA de Dança e estudou na Escola Mimulus, tendo contato com danças norte-americanas como o Lindy Hop, Swing West Coast e Hustle, entre outras áreas do saber ligadas à dança. Em 2011, foi o primeiro profissional das danças de salão a trabalhar sem a definição/aplicação de gêneros em suas aulas em BH, criando uma metodologia inclusiva, onde uma das propostas é a dessexualizar os movimentos da dança.
Em 2015, fez sua primeira viagem à Europa e fundou o coletivo artístico Manifesto 1, que conta com artistas e parceiros de centros de referência em arte e dança de Minas Gerais e do mundo. Na mesma época, começou sua pesquisa e imersão em Blues Dance, performando em festivais como “Blues no Morro”, “Horizontes Blues”, “Festival Chapadas Folk´n Blues”, “Lavras Novas Jazz Festival”, “Festival Banco do Brasil – Seguridade de Blues e Jazz”, “Festival Folk Sessions”, “Festival BlueStock”, entre outros. No movimento do Forró, produziu, em 2016, o primeiro festival de pesquisa e formação em dança voltado à dança/cultura popular, o “BH Forró Festival”, que uniu profissionais e estudantes de todo o mundo e profissionais de 5 Estados. Também realizou, dois anos depois, o maior flashmob de Forró da história, com mais de 1.500 pessoas: o “Retrato de um Forró,” na Praça da Estação. Fundou, ainda, o coletivo Forro.org, visando acelerar projetos culturais em torno da cadeia produtiva do Forró.
Em 2017, foi o primeiro profissional das danças de salão a participar do programa “Circula Minas”, da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais, voltado para formação, pesquisa e difusão cultural. O projeto possibilitou o intercâmbio com profissionais de Blues pelo mundo, através do Festival “Baby Blues Baby”, em Londres, na Inglaterra. Como contrapartida ao incentivo estadual e forma de disseminar a Blues Dance, linguagem pouco conhecida no Novo Continente, ofertou mais de 15 workshops gratuitos distribuídos ao longo de dois anos. O trabalho resultou no primeiro curso brasileiro de Blues Dance, com mais de 200 alunos formados entre os anos de 2018 e 2019, pelo projeto da sua “Escola de Artes Integradas”. Em 2019, o artista levou o movimento do Forró para a “Virada Cultural de BH”, com o projeto Forró Sound System, que contou com uma produção coletiva e 22 DJs, três Workshops e um palco de 24 horas de música e dança. Também atuou, em 2019 e 2020, na produção de eventos como “Rainhas do Cangaço (Forró para a juventude no CRJ)”, “I Fórum Estadual Forró de Raiz de Minas Gerais”, “I Fórum Internacional de Forró”, “Festival São João na Rede Solidário”, entre outros.
Para além da dança, Guilherme Veras possui mais de 20 anos de experiência em Gerência de Projetos de Sistemas de Informações e Desenvolvimento Web, Marketing Digital, UX e Design. Cursou Sistemas de Informações (PUC/Minas), Ciências Econômicas (FEAD/MG), e Biblioteconomia (ECI/UFMG), além de possuir outras diversas qualificações em tecnologias da informação e comunicação.
As informações são de Floriano Comunicação.