Outras duas pessoas também foram indiciadas; Polícia Civil pede quebra de sigilo bancário de oito pessoas após relatório apontar movimentação financeira atípica do ex-presidente
O ex-presidente do Tupi, José Luiz Mauler Júnior, o Juninho, foi indiciado pela Polícia Civil por suspeita de estelionato e falsidade ideológica. O indiciamento acontece na esteira das investigações sobre peneira com suspeitas de irregularidades realizada pelo clube em 2021 e outras ações tomadas pelo cartola na administração do Galo Carijó. Além do ex-dirigente, Tiago Ferreira Conte e Luigi Firmiano, membros da empresa MultiSport, que auxiliava o alvinegro na seleção de atletas, também foram indiciados por estelionato. A Polícia ainda pediu a quebra de sigilo bancário de oito pessoas investigadas após relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontar movimentações financeiras suspeitas.
Os indiciamentos por estelionato se dão em função de supostas irregularidades em processos seletivos de jogadores que integrariam o elenco do Tupi nas categorias de base e no futebol profissional em 2021. As peneiras eram realizadas em parceria entre o Galo Carijó e a MultiSports. Em junho do ano passado, a Tribuna revelou algumas das denúncias feitas por atletas, que incluíam promessas de profissionalização e cobrança de até R$ 4,5 mil.
Na conclusão do inquérito, aberto também no último ano, a Polícia Civil apontou indícios de estelionato. “Com relação aos valores pagos pelas vítimas e não tendo tido essa seleção, não tendo resposta com relação ao treinamento, nós vamos indiciar pelo crime de estelionato três indivíduos”, diz a titular da 4ª Delegacia de Polícia Civil, Ione Barbosa, que conduz as investigações.
“Várias pessoas que contrataram (a peneira) até hoje não foram restituídas”, revela a delegada. Segundo ela, durante a acareação com os investigados, os responsáveis pela empresa MultiSport teriam se comprometido a devolver os valores recebidos dos atletas, mas a promessa não teria sido cumprida. Apesar da conclusão do inquérito, a Polícia ainda pode receber representação de outras pessoas que foram lesadas até o final desta semana.
Contatados pela Tribuna, Tiago Conte e Luigi Firmiano afirmaram que ainda não foram informados da conclusão do inquérito. A reportagem também tentou contato com o ex-presidente Juninho, mas as ligações não foram atendidas.
Juninho é indiciado por suspeita de falsidade ideológica
De acordo com a delegada Ione Barbosa, durante cumprimentos de mandados de busca e apreensão na sede do Tupi, no último mês de setembro, foram encontrados sete cheques emitidos pelo ex-presidente do clube que teriam sido assinados pelo próprio Juninho em nome do então vice-presidente do Galo Carijó, Eloísio Pereira de Siqueira, atual mandatário do alvinegro. De acordo com o estatuto da agremiação, esse tipo de documentação necessariamente precisa conter as assinaturas do presidente e do vice-presidente.
“Nós tivemos acesso a pelo menos sete cheques emitidos pelo então presidente. O vice-presidente esteve na delegacia e disse que não reconhecia a assinatura dele nos cheques”, explica a delegada. Juninho teria se negado a comparecer à delegacia da Polícia Civil para comparar a assinatura que consta nos documentos, segundo Ione. “Diante disso, nós vamos indiciá-lo por sete falsificações”. A pena pelo crime pode variar entre 1 a 3 anos.
Movimentações bancárias suspeitas
As investigações da Polícia Civil também apontaram suspeitas de movimentações bancárias irregulares envolvendo os cofres do Tupi. A possibilidade deu origem a um pedido de análise ao Coaf sobre as operações financeiras das pessoas investigadas. “Há suspeita, inclusive analisando transações entre parentes (do ex-presidente Juninho), com movimento de saques de cheques altos, o que indica ser transações atípicas”, afirma a delegada Ione Barbosa.
Em função das movimentações suspeitas, a Polícia Civil anunciou que vai representar pela quebra de sigilo bancário de oito pessoas. “Houve um movimento incompatível com a atividade e renda dos titulares envolvidos, sugerindo uma burla na identificação dessas operações”, diz a delegada.
Atual diretoria do Tupi se posiciona
Na manhã desta segunda-feira (9), o Tupi se posicionou por meio de nota encaminhada à imprensa. No documento, assinado pelo atual presidente Eloísio Pereira de Siqueira, o clube afirma que “respeita e colabora com as autoridades responsáveis por apurar e julgar os fatos relacionados”.
O texto ainda destaca que o posicionamento ocorre “para contribuir e fornecer as informações necessárias para que a justiça seja feita. Nosso foco no momento é na campanha do Tupi no Campeonato Mineiro do Módulo II, sendo certos, que acreditamos na competência e senso de justiça de nossas autoridades”, complementa.
Denúncias de irregularidades
As investigações da Polícia Civil sobre supostas irregularidades no comando do Tupi foram iniciadas em junho de 2021. Naquele mês, surgiram denúncias sobre a gestão do futebol de base do clube alvinegro. As categorias inferiores do Galo tinham a gestão realizada pelo Grupo MultSport, sob a responsabilidade do então vice-presidente financeiro do Tupi, Tiago Ferreira Conte.
Após o início das investigações da Polícia Civil, Conte foi afastado do clube. O ex-vice-presidente, o supervisor Luigi Firmiano e o ex-presidente Juninho foram intimados no inquérito, além de outras quatro pessoas. Inicialmente, houve um acordo para que os dirigentes devolvessem o valor investido pelos denunciantes. Entretanto, segundo a Polícia Civil, o acordo não foi cumprido pelos investigados.
Ainda em meio às investigações da Polícia Civil, a presidência do Tupi iniciou um processo de negociação com os sócios e o conselho deliberativo do clube para efetuar a permuta da sede social e equacionar os passivos do clube, que já somam mais de R$ 10 milhões. O conselho também aprovou um empréstimo de R$ 200 mil do ex-presidente Juninho ao clube, para pagamento de rescisões contratuais e salários de atletas. Posteriormente, o cartola foi excluído do Galo pelo mesmo conselho e foi substituído definitivamente pelo atual presidente, Eloísio Pereira de Siqueira.
As informações são do portal Tribuna de Minas – Associada Amirt