Estudo chinês mostra que hidroxicloroquina não acelera recuperação da Covid-19

Um grupo de cientistas de várias regiões na China, incluindo Wuhan (epicentro da disseminação do novo coronavírus no país), liderados pelo médico Wei Tang, do Hospital Ruijin, em Xangai, descobriu que a hidroxicloroquina não acelerou a recuperação de pacientes com a Covid-19.

O estudo foi publicado nesta terça-feira no periódico científico “medRxiv”, que reúne pesquisas de Saúde e foi fundado pelo Laboratório Cold Spring e Universidade de Yale, nos EUA, e pela Associação Médica Britânica.

Os cientistas viram ainda, contudo, que os pacientes que tomaram esse medicamento sofreram menos sintomas do que outros tratados sem ele, mas o tempo de recuperação de ambos grupos de infectados foi o mesmo. Dessa forma, a pesquisa concluiu que a hidroxicloroquina não funcionou como uma cura para a Covid-19.

 

Após terem comparado “taxas de conversão negativas”, ou seja, o número de pessoas que se curaram completamente e testaram negativo para o vírus depois de um mês, observaram que 85,4% das pessoas que tomavam hidroxicloroquina apresentaram resultado negativo após quatro semanas, juntamente com 81,3% das pessoas sem a droga – um efeito não significativo, segundo eles.

Foram observados 75 pacientes que tiveram tratamento com a hidroxicloroquina durante um período de duas ou três semanas, e 75 que não receberam esse medicamento. Todos foram testados 28 dias após o diagnóstico.

“A taxa global de conversão negativa de 28 dias não foi diferente entre os grupos (tratamento padrão mais hidroxicloroquina) e (tratamento padrão)”, diz a pesquisa, indicando ainda que a diarréia foi o efeito colateral mais comum e ocorreu em 10% das pessoas infectadas fazendo o tratamento.

 

Estudos em andamento ao redor do mundo

O uso da droga ainda é incerto. Estudos mais aprofundados e maiores de hidroxicloroquina estão sendo realizados em todo o mundo. O medicamento já foi amplamente utilizado em países como Coreia do Sul e China, mas dados sobre sua segurança e eficácia ainda estão sendo coletados nestes países e também nos Estados Unidos.

De acordo com o jornal britânico “Daily Mail”, estão em andamento 23 ensaios clínicos sobre o medicamento em pacientes na China, e um nos EUA e outro na Coreia do Sul.

O professor Robin May, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Birmingham, sugeriu que a cloroquina pode funcionar ao dificultar a replicação do vírus no organismo humano.

 

Anomalias cardíacas em ensaio clínico brasileiro

No entanto, no Brasil, o ensaio clínico que usou a cloroquina teve que ser interrompido porque um quarto dos pacientes desenvolveu ritmos cardíacos anormais. Este estudo em Manaus planejava inscrever 440 pacientes com Covid-19 graves para testar duas doses de cloroquina. Mas os pesquisadores relataram seus resultados e interromperam o experimento depois que apenas 81 pessoas receberam o tratamento com altas doses, que lhes deram 1,2g por dia.

Segundo o site da “Bloomberg”, um resultado semelhante foi registrado na China, onde quase 20% dos 416 pacientes hospitalizados com coronavírus mostraram sinais de dano cardíaco após o uso da hidroxicloroquina. Mais da metade destes que sofreram danos no coração morreram enquanto estavam hospitalizados por coronavírus.

Diante disso, foi visto que pode ser perigoso para o paciente o uso da hidroxicloroquina, considerando a possibilidade de desencadear arritmias cardíacas.

 

Testes em andamento com doses mais baixas nos EUA

É por isso que os médicos do National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos, estejam realizando testes com doses mais baixas, apenas duas doses de 400 mg do medicamento no primeiro dia de tratamento, seguidas de 200 mg duas vezes ao dia nos oito dias seguintes.

Os cientistas acham que pode funcionar controlando o sistema imunológico para evitar que a infecção por Covid-19 fique muito grave. A contagem de glóbulos brancos e da proteína C reativa, que aumenta durante a luta de um corpo contra uma infecção, voltaram ao normal mais rapidamente do que os de outros pacientes.

 

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