Em entrevista, Lázaro Ramos fala abertamente sobre racismo e revela sofrimento em ‘Falas Negras’

Durante participação no programa ‘Conversa Com Bial’, nessa terça-feira (15), o ator Lázaro Ramos destacou o quão doloroso foi o trabalhar em ‘Falas Negras’, documentário exibido na Rede Globo no dia 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra.

“Esta história é um dos grandes símbolos do descaso diário que a gente passa, como se fosse algo natural. A gente está tornando isso algo comum na nossa sensibilidade, é muito ruim. É isso que me emociona. Não é só o fato de eu ser filho de uma empregada doméstica, uma empregada doméstica que viveu histórias muito tristes, tanto que no Na Minha Pele (livro que ele lançou) eu falo pouco da minha mãe, eu falo pouco por uma estratégia porque eu queria que as pessoas lessem um livro e saíssem estimuladas”, disse o artista.

“Esse grito está preso há muito tempo. E olha que eu tenho uma vida muito melhor do que um dia sonhei, mas eu olho para o lado e vejo meus colegas, meus amigos, eu vejo desconhecidos, e não consigo perder esse olhar.”

“E eu soneguei algumas histórias porque eram histórias muito desestimulantes, eu não consegui falar, não consegui escrever. Essa história, junto com o trabalho belíssimo da Tatiana Tibúrcio, que também é preparadora de elenco deste projeto, ela tem um impacto que a gente precisa ter. E assim, pelo Miguel, mas não é por que eu fui filho de empregada doméstica, não. É por que o Miguel é nosso filho também e assim que a gente tem que ver. A gente ainda fala, não me grite assim, não me fale como se eu fosse sua empregada, como se a gente tivesse direito de gritar ou destratar uma empregada”, completou Lázaro.

O ator ainda ressaltou que existe pessoas que preferem não entender o alerta. “Isso tudo, Bial, eu sei que tem gente que vai dizer que é mimimi, tem gente que vai falar: ‘lá vem ele de novo’, mas isso é fruto do processo de escravização que a gente viveu neste país. Estes frutos estão aí, é a maneira que a gente olha pro outro. Muitas vezes o nosso olhar para uma pessoa, não é nem como um animal, como uma coisa, como um nada. Esse olhar ainda tá na gente. E eu falo em todos os sentidos.”

Lázaro também falou sobre a questão feminina e enfatizou que negros são maioria em presídios, manicômios e favelas. “Eu não falo só na questão racial, eu falo na questão da mulher também. Às vezes, eu me pego reproduzindo coisas que estão em mim, fazem parte da minha história. A gente precisa olhar para isso e superar. E a gente vai ter que passar por este momento de incômodo. Desculpa, mas não tem como não se incomodar. A maioria nos presídios, nos manicômios, nas favelas tem a minha pele. E a gente naturaliza isso”.

Foto: divulgação Instagram

 

 

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