A ameaça das barragens de rejeito na bacia do Rio das Velhas e de novos empreendimentos minerários, imobiliários e rodoviários em unidades de conservação ou regiões estratégicas para a recarga do sistema hídrico, são os principais fatores que colocam a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) em um estado de insegurança hídrica. É o que afirmou o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) em coletiva de imprensa virtual realizada nesta segunda-feira (22 de março), Dia Mundial da Água.
“Temos um misto de ameaças e pressões na bacia do Rio das Velhas. Mas elas perfazem primeiro pela urbanização, que vem crescendo na região do Alto Velhas, e a atividade minerária, com especial preocupação em relação a rompimentos de barragem – que caso venha a ocorrer comprometeria significativamente a captação [de água do Rio das Velhas, em Nova Lima, que abastece a população] e colocaria a RMBH num colapso hídrico”, afirmou Poliana Valgas, presidente do Comitê, destacando que já vivemos num contexto de um sistema de abastecimento já sobrecarregado em razão do rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, que inviabilizou parte da captação oriunda do rio Paraopeba.
Hoje, três barragens inseridas na bacia do Rio das Velhas estão no nível 3 de emergência, que é o alerta máximo e significa risco iminente de ruptura. São elas: barragem B3/B4, da Mina Mar Azul, na região de Macacos, e as barragens Forquilha I e Forquilha III, da Mina de Fábrica, em Ouro Preto.
O secretário do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, chamou a atenção para a importância e necessidade de os dois principais sistemas que a abastecem a RMBH – Rio das Velhas e Rio Paraopeba – serem interligados, como sugere uma das ações do acordo firmado entre o governo de Minas Gerais e a mineradora Vale para reparação dos danos provocados pela tragédia de Brumadinho. “Hoje, Belo Horizonte depende em 60% do Rio das Velhas e não temos uma conexão entre os sistemas. Se o Velhas efetivamente cair, você não tem como fazer com que a água do Paraopeba chegue a todos os pontos de abastecimento abastecidos pelo sistema Velhas”.
O acordo global entre a Vale e o governo de Minas também prevê investimentos de R$ 4,5 bilhões em mobilidade urbana, tendo a construção de um Rodoanel na RMBH como destaque. A nova malha viária irá contemplar quatro alças – Norte, Oeste, Sudoeste e Sul – sendo o entroncamento entre três rodovias principais: as BRs-381, 040 e 262, com extensão prevista de pouco mais de 100Km.
Por ameaçar importantes unidades de conservação na bacia do Rio das Velhas, o secretário do Comitê apontou a necessidade de que o governo estadual preveja alternativas para o traçado do Rodoanel. “Ninguém é contra a construção desta via, que é importante para esvaziar esse Anel [Rodoviário] que hoje nós temos, mas ela tem que ser melhor traçada porque o desenho original passa em áreas muito sensíveis, áreas de importância hídrica e para a biodiversidade. Vários movimentos sociais têm apontado que há alternativas nesse processo e é importante que a sociedade seja ouvida”.
A Alça Sul interceptará o Monumento Natural da Serra da Calçada e o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, além de grande área de Mata Atlântica, Cerrado, campos rupestres ferruginosos e mananciais. A Alça Norte será construída onde estão situados a Linha Verde, o Centro Administrativo, o Aeroporto Internacional e os municípios de Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano, além de dezenas de UCs, grutas e mananciais.
Na entrevista coletiva, a presidente e o secretário do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas e Marcus Vinícius Polignano, também falaram sobre a tentativa da mineração em avançar em importantes áreas de conservação, como as Serras do Curral, do Rola-Moça, do Gandarela, da Piedade, e os empreendimentos imobiliários que ameaçam importantes áreas de recarga – o mais notável deles é o CSul, previsto para quase 200 mil pessoas na região da Serra da Moeda.
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
Postado originalmente por: Portal Sete