“EAD é geradora de oportunidades e democratização do conhecimento”

O número de brasileiros matriculados no ensino superior chegou a 8,5 milhões no ano passado, um crescimento de 1,8% em relação a 2018. O aumento foi impulsionado pelo crescimento da Educação à Distância (EAD) no país, conforme a última edição do Censo da Educação Superior, divulgada em outubro deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC).

De acordo com o levantamento, o número de alunos matriculados no ensino superior à distância cresceu 19% em 2019, na comparação com o ano anterior, chegando a um total de 2,45 milhões. No mesmo período, as matrículas no ensino presencial registraram queda de 3,8%, mas seguiram em maior totalidade: 6,15 milhões.

A consolidação da modalidade EAD vem sendo observada, sobretudo, na última década. De acordo com o Inep, na comparação entre 2009 e 2019, os ingressos nos cursos à distância mais do que quadruplicaram.

Em 2020, com o isolamento social por conta da pandemia da Covid-19, a expectativa é que a modalidade cresça ainda mais. A Tribuna conversou com o diretor de relações corporativas EAD da UniCesumar, José Henrique Saviani, sobre os possíveis caminhos para a modalidade.

Diante do crescimento das matrículas em cursos a distância no país, especialista analisa desafios e tendências para o pós-pandemia (Foto: Divulgação)

Tribuna: A que você atribui o crescimento da EAD no país?

José Henrique Saviani: Vários pontos contribuíram para esse crescimento. Um dos principais é a flexibilidade de horário, que permite ao aluno administrar o seu tempo. O motivo de muitas pessoas não fazerem uma faculdade sempre foi a dificuldade de conciliar a rotina de estar na sala de aula com o emprego, a família, os filhos.

A democratização do acesso à internet e à tecnologia também contribuíram, não só para que a modalidade ganhasse mais espaço como, também, oferecesse maior qualidade nas transmissões.

Outro ponto importante é a questão financeira. Isto é até alvo de questionamento, pois ainda existe aquele mito de que se não é caro, não é bom. Mas o modelo EAD pode ser mais barato porque a tecnologia possibilita a abrangência para um número maior de alunos. Isto permitiu que as classes C e D, que até uns 20 anos atrás eram impossibilitadas de fazer um curso superior, tivessem a oportunidade.

Tribuna: A oferta de cursos acompanhou o crescimento da demanda de alunos?

José Henrique Saviani: Com certeza. Até 2017, tínhamos seis mil unidades cadastradas oferecendo cursos EAD no país. Em 2019, passamos para 20 mil pontos de oferta, e este número já é maior agora.

Tribuna: Você acredita que, por conta do isolamento social, a adesão ao EAD está maior em 2020?

José Henrique Saviani: O fato de as pessoas estarem em casa pode contribuir para o interesse em realizar um curso EAD, mas é muito importante explicarmos a diferença entre a modalidade e a aula remota.

EAD é o que chamamos de educação tecnológica. Tem toda uma preparação e direcionamento para buscar o máximo da aprendizagem do nosso aluno. Uma aula ao vivo envolve mais de 30 pessoas, entre educadores, tutores, técnicos de multimídia, câmeras, produtores, diretores de imagem e som, editores. A aula remota foi uma adaptação que algumas instituições se viram obrigadas a realizar por conta do isolamento, muitas vezes, sem estarem preparadas para isso.

Durante a pandemia, houve uma confusão entre o que é a aula remota e a educação tecnológica, mas quem compreendeu a diferença observou as vantagens do EAD, o que nos faz acreditar na continuidade dessa tendência de crescimento.

Tribuna: Existe a preocupação de que a modalidade EAD possa reduzir os postos de trabalho na área da educação. Você acredita que isto se deve pela confusão entre aula remota e educação tecnológica? Quantos empregos a EAD gera no país?

José Henrique Saviani: A educação tecnológica abrange um grande número de profissionais e, por isso, emprega mais do que a educação presencial. Só na parte de estúdio, contamos com pessoas da educação, comunicação, tecnologia. Ainda temos a área pedagógica e administrativa com supervisores, gestores, coordenadores, promotores de vendas. Com certeza, pelo modelo suntuoso, a EAD emprega muito hoje e se mostra como um mercado de oportunidades futuramente.

Tribuna: Quais as principais vantagens da educação tecnológica?

José Henrique Saviani: Educação tecnológica compreende inovação, modernidade e tecnologia. Tem uma didática de sempre trabalhar com estudos de caso, incitando a pesquisa. Você tem professores e tutores disponíveis quase que 24 horas para tirarem dúvidas, chats que permitem a troca de conhecimento com alunos de diferentes partes do país, materiais didáticos e uma vasta biblioteca com acervo on-line.

Por permitir a flexibilidade de horário e não exigir o deslocamento, o aluno tem a possibilidade de usar o seu melhor tempo para desenvolver o conhecimento. Esta é uma das principais vantagens.

Tribuna: E os desafios?

José Henrique Saviani: O principal desafio é a quebra do preconceito. Já diminuiu muito, mas ainda existe. É preciso mostrar a efetividade, as qualidades, a segurança e o quanto a EAD agrega para a formação dos alunos.

Outro desafio é a adaptação de disciplinas importantes que exigem mais prática, como é o caso da área da saúde. Para isso, são necessárias ferramentas tecnológicas.

Tribuna: Quais são os caminhos futuros para a EAD?

José Henrique Saviani: Acredito que, num futuro breve, não existirá esta distinção entre modelo presencial e EAD no Brasil, assim como já acontece nas universidades norte-americanas, em que o aluno escolhe qual será a carga horária presencial de acordo com a sua disponibilidade.

O nosso país tem o pior índice de matrículas na educação superior da América do Sul, cerca de 4% da população. Minha expectativa é que, com a quebra do preconceito, haja a massificação da EAD e, num médio prazo, a gente consiga ter 25% dos brasileiros inseridos no ensino superior. E, assim, tenhamos mais pessoas com pensamento crítico, pesquisando, empreendendo, escolhendo melhor nossos governantes.

A educação tecnológica é geradora de oportunidades e democratização do conhecimento, sendo um caminho seguro para qualificação profissional e transformação do cidadão.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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