Dor e amor mobilizam familiares das vítimas de Brumadinho

Na luta por justiça, Andresa encontra um pouco de conforto em meio às lembranças do filho Bruno

Na estante, imagens de Nossa Senhora Aparecida revelam a devoção pela padroeira do Brasil; sobre a cama, a mãe estende lembranças, cartas, fotos, álbuns de formatura e a bandeira do time local, o Oriente; a um canto, o violão, precocemente silenciado.

Um ano depois do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (Central), que vitimou 272 pessoas (incluindo dois bebês em gestação), o quarto de Bruno Rocha Rodrigues, em sua casa, no município vizinho de Mário Campos, permanece do mesmo jeito que estava no dia 25 de janeiro de 2019. Naquela data, o jovem de 26 anos saiu para o seu último dia de trabalho na unidade da mineradora Vale.

“Tenho conforto em sentar aqui e olhar as coisas do Bruno. Meu filho tinha que voltar para essa casa, ele saiu daqui saudável, lindo”, lamenta a mãe, a vereadora e professora Andresa Rodrigues, uma das líderes do movimento dos familiares das vítimas. Apesar da dor, desde a tragédia que se abateu sobre sua família, Andresa tem se dedicado incansavelmente à busca dos corpos das pessoas ainda não encontradas, 11, atualmente. “O combustível que nos move é o amor e a dor”, diz.

“Não saímos do dia 25 de janeiro de 2019. Enquanto tiver um corpo na lama, permaneceremos lutando. Queremos resgatar cada uma de nossas joias”, afirma Andresa, que foi mãe muito jovem, aos 14 anos e, por isso, via em Bruno não apenas o filho único, mas também um amigo especial.

Ela e o marido passaram 105 dias à procura do corpo de Bruno, encontrado no dia 4 de maio de 2019, véspera do aniversário de Andresa. A missa de sétimo dia, recorda com tristeza, foi no Dia das Mães. Valor da vida – Joia é como os familiares das vítimas de Brumadinho se referem aos parentes que pereceram no rompimento da barragem. O termo foi adotado por eles – explica Andresa – em resposta ao então presidente da Vale, Fabio Schvartsman, que, em depoimento no Congresso, usou a palavra para se referir à importância econômica da empresa.

Como primeira-secretária da Associação dos Familiares das Vítimas dos Atingidos do Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão (Avabrum), ela contrapõe que as verdadeiras joias são as vidas humanas. “Nossa perda não tem reparação. Quanto vale a vida?”, indaga Andresa, que desde a morte do filho vive sob o efeito de medicação controlada.

Bruno era técnico em mineração e graduado em Engenharia de Produção. Estagiou por dois anos em unidade da Vale, em Sarzedo e, ao morrer, tinha sido efetivado pela empresa há apenas oito meses. A mãe conta que, na primeira semana, viveu como autômata. Até que um dia sonhou com o filho, que pedia que ela fosse buscá-lo. A partir daí, não mais descansou, engajando-se na luta pelo resgate de todos os que pereceram sob a lama.
Os familiares das vítimas não usam o termo desaparecido para se referir às pessoas ainda não encontradas. Segundo Andresa, a palavra não se aplica porque as pessoas não desapareceram, seus corpos é que não foram ainda resgatados.

“Sabemos onde estão os corpos, sob a lama”, lamenta. “Por isso, não descansaremos enquanto não encontrarmos todos”, afirma, confiante na ação dos bombeiros, que se comprometeram a continuar as buscas até achar todos. “Quando os bombeiros resgatam um corpo, resgatam também a família”, diz ela.

Os parentes dos não encontrados se reúnem semanalmente com os bombeiros e técnicos do Instituto Médico Legal (IML), para atualizar informações. Eles contam também com a ajuda do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Arquidioceses de Belo Horizonte, entre outros órgãos e instituições.

Postado originalmente por: VinTV

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