Este ano, campanha aborda a armadilha dos dispositivos de fumo eletrônicos e a relação do vício com danos ao meio ambiente
Nesta terça-feira (31), o Dia Mundial Sem Tabaco é celebrado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo da data é conscientizar as pessoas sobre os perigos do tabaco e o seu impacto na saúde dos indivíduos, levando em conta todas as comprovações científicas de que o uso dessa droga lícita é um grande fator de risco para diversas doenças. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 22 milhões de fumantes, tendo ainda mais de 157 mil mortos todos os anos por doenças associadas ao tabagismo. Uma pesquisa recente divulgada pela Fiocruz, inclusive, revelou que 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos durante a pandemia, mostrando como o combate ao tabagismo ainda é extremamente atual.
O Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo Oncoclínicas Carlos Gil Ferreira, formado na Universidade Federal de Juiz de Fora, é uma das principais referências nesta área do Brasil. Ele explica que o tabagismo gera diversos riscos em relação a problemas cardiovasculares, doenças respiratórias e, nos casos mais graves, alguns tipos de câncer como de boca, garganta e pulmão. Na pele, os efeitos tóxicos do cigarro também têm impacto e podem provocar envelhecimento precoce, flacidez e manchas.
Os riscos também se estendem para os indivíduos que são fumantes passivos. Eles têm “chances aumentadas de apresentarem as mesmas doenças dos fumantes”. No caso das crianças, há ainda “maior risco de infecções respiratórias, otites de repetição, asma brônquica, perda da função pulmonar além de câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica na vida adulta”.
Segundo o oncologista, no entanto, para que o combate ao tabagismo possa avançar, é preciso desmistificar o vício no cigarro. “O fumante precisa de apoio e não críticas. A maioria dos fumantes é dependente químico. Precisa de acompanhamento e cuidados. Não é brigando ou criticando que vamos ajudá-lo”, explica.
O médico ressalta que a dependência à nicotina é uma doença crônica, já que em muitos casos, mesmo que a pessoa queira parar, “só a força de vontade não resolve”. O especialista revela que muitas vezes os indivíduos passam por desconfortos físicos e psicológicos que podem trazer bastante sofrimento, irritação, mau humor, ansiedade e até incapacidade de sentir prazer. “Por isso é importante não julgar ou desencorajar quem está passando pelo problema, e incentivar a pessoa a procurar ajuda profissional”, explica.
Para ele, em qualquer idade e independentemente de quanto tempo o indivíduo fumou, é possível se beneficiar dos efeitos de interromper o uso. “Quanto mais cedo você parar, mais cedo sua saúde pode melhorar. Depois de 20 minutos sem fumar, seu corpo começa a se curar. Entre 2 e 5 anos, o risco de acidente vascular cerebral fica semelhante ao de um indivíduo não fumante. Em 10 anos, o risco de câncer de pulmão pode ser reduzido pela metade”, diz.
Riscos do cigarro eletrônico
De acordo com o Relatório Covitel de 2022, um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos está usando cigarro eletrônico no Brasil. O médico explica que esse fumo foi introduzido no comércio como sendo uma boa opção para substituir o cigarro convencional, porque se considerava que, não havendo a queima de tabaco para liberar a nicotina, os impactos seriam menores. Ao contrário disso, no entanto, Carlos Gil esclarece que “ele pode ser até mais prejudicial do que o tradicional, porque embora não tenha muitas das substâncias tóxicas liberadas pela queima do tabaco, libera outras substâncias que podem ser muito prejudiciais aos pulmões”.
O dispositivo funciona com um depósito, onde é colocado um líquido concentrado de nicotina, que é aquecido e inalado pela pessoa que está usando o cigarro. Esse líquido costuma ter um produto solvente e um químico de sabor além da nicotina. “Estudos estão em andamento para avaliar a relação desse tipo de cigarro com doenças inflamatórias pulmonares, incluindo enfisema pulmonar e até mesmo o câncer de pulmão”, diz. Ainda este ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve decidir oficialmente se a venda de cigarros eletrônicos continua proibida no país.
O médico ainda deixa claro que nenhum cigarro é seguro. Os cigarros de filtro, por exemplo, também não conseguem trazer a proteção necessária, já que são projetados para tornar as partículas de fumaça menores, deixando a nicotina ainda mais fácil de ser absorvida. “Cigarros leves ou com baixo teor de alcatrão também podem parecer menos perigosos, mas não são. A fumaça do tabaco contém mais de sete mil produtos químicos e pelo menos 250 são tóxicos”, diz.
Ameaças do tabaco ao meio ambiente
A campanha global de 2022 para o Dia Mundial Sem Tabaco – “Tabaco: Ameaça ao nosso meio ambiente” também visa chamar a atenção para as várias maneiras pelas quais o tabaco ameaça o meio ambiente durante o seu ciclo – gerando impactos ainda mais graves em países menos desenvolvidos. De acordo com Instituto Nacional do Câncer, esse cultivo gera desmatamento nas regiões e ainda pode representar grandes riscos para o meio ambiente, considerando-se inclusive o descarte inadequado das guimbas ou bitucas.
Esses danos podem englobar incêndios e até a contaminação de rios, lençóis freáticos e do solo por substâncias químicas utilizadas na plantação do fumo. De acordo com o especialista, “cerca de 90% de toda a produção de tabaco está concentrada no mundo em desenvolvimento, e portanto o tabaco tem um impacto imensamente desigual em diferentes grupos socioeconômicos. Aproximadamente 3,5 milhões de hectares de terra são destruídos para o cultivo de tabaco a cada ano”.
O evento deste ano, portanto, busca realizar também a conscientização sobre o impacto ambiental do tabaco e incentiva uma reflexão sobre a desigual carga ambiental que “recai sobre os países menos capazes de enfrentá-la, sendo que os lucros são obtidos por empresas transnacionais de tabaco que estão sediadas em países de renda mais alta”.
PJF realiza ações de promoção à saúde para pessoas tabagistas
A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou, em nota, que nesta terça-feira (31), no Pam Marechal, das 8h às 11h, irão ocorrer “ações de promoção à saúde com abordagem social às pessoas tabagistas, orientações com profissionais, panfletagem e distribuição de mudas”. O evento será realizado por intermédio do Serviço de Controle, Prevenção e Tratamento do Tabagismo (Secoptt), em parceria com a Fundação do Museu Mariano Procópio.
Nos dias 9 e 10 de junho, a Secoptt também vai realizar, em parceria com o Departamento de Programas e Ações da Atenção Saúde (DPAAS), um curso para fortalecer os cuidados realizados pelos profissionais da rede na abordagem intensiva ao fumante. A ideia é que, a partir disso, seja retomada e intensificada a oferta do tratamento do tabagismo pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). O treinamento está previsto para ocorrer nessas datas, no Auditório do Centro de Vigilância em Saúde, Rua Antônio José Martins 92, das 13h às 17h.
Atendimento aos fumantes
Em Juiz de Fora, a prefeitura informou que os indivíduos que desejam parar de fumar podem buscar os tratamentos aos tabagistas nas UBSs e no Secoptt. Em nota, orientam que “não é necessário encaminhamento. Quando o usuário pertence à área coberta, deverá ir até à Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência de seu bairro. Quando localizado em áreas descobertas, deverá entrar em contato com o Secoptt, pelo telefone 3690-7714”.
As informações são do Portal Tribuna de Minas – Associada Amirt