Dia do Professor: educador multitarefa cria projetos para despertar aprendizado de alunos

O dia 15 de outubro de 2020, Dia do Professor, está sendo comemorado de forma diferente com relação aos outros anos. Abraços calorosos foram substituídos por mensagens on-line. De casa, em um espaço que se transformou em uma espécie de estúdio de ‘youtuber’, o professor recebe da tela do computador o carinho de seus alunos, que também estão cada um em sua casa, ligados na webcam. Nos últimos meses, o contato entre eles tem sido assim, virtual, uma maneira de se prevenir contra a Covid-19. Para muitos professores, apesar de todas as dificuldades impostas para a implementação do ensino remoto, essa experiência tem sido positiva, e dela muito restará para ser empregado quando as aulas voltarem a ser presenciais.

Linus pauling ensina história, geografia, educação física e jiu-jítsu, mas agora ajuda colegas e alunos a lidarem com a educação a distância (Foto: Fernando Priamo)

Assim pensa o professor multitarefa Linus Pauling Ferreira Pereira, de 43 anos, personagem dessa matéria, por meio da qual a Tribuna celebra o Dia do Professor e homenageia todos os seus leitores-professores. Linus é multitarefa porque é professor de história, geografia, educação física, judô, jiu-jítsu e ainda estuda para se formar em letras/libras e faz pós-graduação. Ele entrou na primeira faculdade em 1999, e, desde então, não parou mais de acumular títulos e vontade de ensinar. Se alguém pensa que é muita coisa, para ele, são ossos do ofício, já que, na sua visão, quem escolhe a docência jamais pode parar de se aperfeiçoar. E a pandemia, com todas suas imposições, tem tornado isso mais evidente.

“Tudo isso é conhecimento adquirido, porque vai se somar às habilidades que os professores já tinham. Já estávamos em uma fase de transição, porque, de modo geral, nós, professores, fomos formados no século XX e estamos educando para o século XXI, o que já exige uma postura diferente, e a pandemia serviu para acelerar esse processo. Com certeza, muito do que estamos usando agora será usado e adaptado para o pós-pandemia. Tem muita iniciativa dando certo, com retorno positivo de pais e alunos”, afirma o docente, que, atualmente, é profissional de duas escolas privadas de Juiz de Fora, é efetivo do estado do Rio de Janeiro, na cidade de Paraíba do Sul, e atua em uma academia e na ONG Onda Solidária.

Como ele aguenta?, alguns irão se perguntar. Mas a jornada de muitos professores brasileiros é parecida com a dele. Linus é casado, pai de uma criança de 6 anos, o Eric, e dribla vários compromissos ao longo do dia.

“Antigamente, eu saía de uma escola e ia para outra, o que era uma quebra. Hoje, não tem isso, porque o trabalho é dentro de casa. Aqui, eu até separei um espaço que virou um estúdio, porque o professor hoje é quase um youtuber. E como eu percebi que a maioria dos alunos teria uma certa dificuldade com algumas ferramentas, eu criei um grupo de WhatsApp para cada turma, a fim de ter um contato com eles. Então, são 24 horas de atuação, tirando dúvidas, inclusive no fim de semana. E ainda tem que montar aulas, e são aulas que requerem um domínio grande sobre elas e sobre essas tecnologias. É preciso testar para saber se vai dar certo. Além disso, tem os estudos e a família”, conta Linus, acrescentando que o lado bom é poder estar em casa e, entre uma aula e outra, dar atenção ao filho. “A professora dele, inclusive, me convidou para participar de uma aula da turma dele, e eu fiquei superfeliz. Então, tem o lado positivo, que é poder estar em casa e desfrutar de momentos em família.”

No dia do professor, a palavra é vocação

Linus Pauling nunca pensou em ser outra coisa na vida. “Sempre fui professor, e todas as vezes que procurei por outra profissão acabei como professor. Independentemente da desvalorização, eu ainda luto por uma educação melhor, e meu maior prêmio é a postura dos alunos, o agradecimento, ver o olhar de cada um. Quando a gente encontra com um ex-aluno e ele quer conversar com a gente, contar que ele venceu, isso é uma das maiores vitórias”, diz, emocionado.

Linus visitava escolas com o pai, professor de química. “Eu ficava sentado na cadeira dele, analisando meu pai e seus alunos. E via o olhar deles para o meu o pai, e isso sempre mexeu comigo. Se a gente olhar, todo mundo algum dia já brincou de ser professor. Na educação infantil, por exemplo, as crianças gostam de repetir o que elas aprendem na sala de aula, e brincam de professor. É uma profissão difícil, desvalorizada. Quem entra, muitas vezes, não consegue seguir. Há um número grande de professores que abandonam a sala de aula, mas é muito gratificante”.

Ensino remoto traz novas dificuldades

Linus gosta de enfatizar, até para incentivar outros educadores, que sua marca é fazer das aulas um aprendizado mesclado com o lúdico. “Durante o período presencial, já tinha realizado vários projetos, como xadrez histórico, no qual o jogo é permeado pela teoria da evolução, tem a queimada histórica e o autódromo histórico. São projetos que trabalham de forma lúdica a aprendizagem dos alunos, porque considero que, no século XXI, não basta só dominar o conteúdo. Você tem que saber fazer o aluno se interessar pela aula, utilizando uma linguagem que ele entenda. A gente costuma falar que o professor é igual a cozinheiro de restaurante famoso, que precisa preparar a comida, usando temperos que precisam agradar às pessoas. Ele prepara um prato que seja saboroso para outra pessoa, e o professor precisa usar temperos de forma que sejam saborosos para os alunos.”

Para o docente, “fazer esse prato” não é fácil e, com o ensino remoto, tornou-se ainda mais difícil. “A gente entra na casa do aluno, e isso exige um preparo maior, domínio das tecnologias. Não é um trabalho fácil, mas possível com dedicação, atualização de saberes, sempre fazendo pesquisas e leituras, trocando experiência com outros professores, que é um grande diferencial da nossa profissão.”

Ele admite que muitos profissionais já tarimbados encontram dificuldades para interagir com as novas tecnologias. “Artigos e pesquisas apontam como os professores estão frustrados, porque estavam acostumados com o presencial, utilizando apostila, livro e matéria no quadro, e agora isso não tem jeito. Muitos estão passando aperto, e cabe a compreensão da sociedade. Os pais precisam entender que é tudo muito novo e ter paciência dos dois lados. Os professores que já têm mais essa experiência devem trocar com os colegas, e tem escola que está oferecendo isso por meio de reuniões, que é a maneira pela qual podemos colaborar uns com os outros. Eu até tenho certo privilégio, porque trabalhei em escolas que me exigiram esse tipo de aula, o que fica mais fácil, e posso ajudar outros colegas”, destaca, lembrando que muito do que consegue criar foi porque teve apoio.

“Trabalhei com diretores e coordenadores que me estimularam, que sempre deram apoio. Esses profissionais fazem um trabalho que é feito fora da sala de aula, que é muito estimulador e necessário. Sempre influenciado a trabalhar de forma diferenciada. O diretor de um colégio me apresentou os óculos de realidade virtual, e comecei a usar essa ferramenta também nas escolas públicas. Inclusive na rede municipal de Juiz de Fora, por meio do projeto Realidade Virtual, usando metodologia que valoriza o aluno, colocando o estudante no centro do processo de aprendizagem. Minha inspiração é o Celso Antunes, que escreveu o livro ‘Professores e professauros’, que aborda a questão do professor não ficar acomodado. E também Hamilton Werneck, com o livro ‘Prova, provão, camisa de força da educação’, que toca na questão da educação diferenciada.”

‘O educador é a base de todas as outras profissões’

Além da pandemia, na visão de Linus, os professores têm passado por momentos de dificuldade. Por isso, ele espera que a sociedade e governantes passem a enxergar a educação e seus trabalhadores com outros olhos.

“Passamos por períodos em que houve incentivo para que professores fossem gravados em sala de aula, houve até campanha para dizer que não se precisava mais da escola para ensinar e que o ensino poderia ser em casa. Temos governos, e digo nos planos federal, estadual e municipal, que não valorizam os professores. Tanto que é possível ver que o número de pessoas interessadas nas licenciaturas está diminuindo. E a sociedade se coloca, muitas vezes, até agressiva, questionando professores. Além disso, há as fakes news que pioram a situação. Mas o educador é a base de todas as outras profissões. Sem o professor, não tem como existirem as outras. Infelizmente, dizem que a crise na educação é um projeto, o que é muito decepcionante”, avalia, sem se deixar frustrar, porque, para ele: “a satisfação de ser professor está no olhar de agradecimento de um aluno, que é algo incomparável”.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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