Projeto reúne UFMG, MCTI e governo de Minas; estrutura possibilitará ao Brasil dominar toda a cadeia de produção de imunizantes
Apesar de deter tecnologia para desenvolver e distribuir vacinas, o Brasil não consegue dominar a totalidade de sua cadeia de produção, que inclui também a fabricação de insumos, a produção de lotes-piloto e a interlocução técnica com a agência reguladora, a Anvisa, e a indústria farmacêutica. Essas lacunas deverão ser preenchidas com a construção do Centro Nacional de Vacinas, objeto do convênio assinado nessa quarta-feira, dia 8, pela UFMG, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e pelo governo de Minas Gerais.
A cerimônia, realizada no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, onde está sendo realizada a 18ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, reuniu a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o ministro Marcos Pontes, o subsecretário de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Felipe Attiê, autoridades dos governos federal e mineiro, parlamentares e os pesquisadores Ricardo Gazzinelli e Ana Paula Fernandes, vinculados ao CTVacinas da UFMG.
O Centro Nacional de Vacinas será erguido em terreno de 4.400 metros quadrados no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), instituição que tem a UFMG como sócia-fundadora e parceira estratégica. O projeto, que receberá aporte de R$ 80 milhões (R$ 50 milhões do MCTI e R$ 30 milhões do governo de Minas), vai absorver e ampliar as atividades do CTVacinas da UFMG, responsável pelos testes da SpiN-TEC, vacina contra a covid-19.
Trabalho de duas décadas
O ministro Marcos Pontes, do MCTI, definiu o acordo como um “ponto de inflexão” na história da ciência e tecnologia do país. “Temos uma capacidade científica magnífica, mas precisamos de uma estrutura capaz de promover a passagem entre o conhecimento e o produto. Isso será feito pelo Centro Nacional de Vacinas. Lá serão produzidos pequenos lotes para testes e os insumos necessários e será realizada a interseção com a Anvisa e com as empresas para favorecer a escalabilidade produtiva. Enfim, dominaremos toda a cadeia de produção de imunizantes”, resumiu Pontes.
Pesquisador-chefe do Centro Nacional de Vacinas, o professor Ricardo Gazzinelli destacou que o acordo “concretiza o trabalho de duas décadas e não de apenas dois anos”. Ele se referia ao financiamento continuado que grupos da UFMG e da Fiocruz receberam ao longo do tempo e permitiram a formação de redes de pesquisa, como a Rede Mineira de Biomoléculas, o Instituto do Milênio, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCTV) e, mais recentemente, o CTVacinas, base que será expandida para viabilizar a criação do Centro Nacional de Vacinas.
“Com o CN Vacinas teremos condições de fazer a transposição da prova de conceito para o protótipo de forma rápida e reduziremos a dependência tecnológica internacional por insumos de saúde. Também estaremos mais preparados para enfrentar outras epidemias e doenças negligenciadas”, avaliou Gazzinelli.
‘Mutirão de todos’
A reitora Sandra Goulart agradeceu ao ministro Marcos Pontes por ter acolhido a demanda da UFMG de “forma tão enfática” no início deste ano, ao governo de Minas e aos pesquisadores, que ela chamou de “as grandes estrelas” do trabalho de combate à pandemia. “É um sonho que está se tornando realidade graças a essa sinergia com o governo de Minas e com o MCTI”, disse ela, ressaltando que a UFMG, como patrimônio do país e do estado, sempre estará à disposição dos governos. “Ficamos felizes quando podemos cumprir nossas missões, como a de contribuir para tornar nosso país soberano na produção de vacinas”, registrou ela, que, por fim, recorreu ao escritor Guimarães Rosa, ex-aluno da UFMG, para expressar seu sentimento em relação ao acordo. “Ele [Rosa] escreveu que a vida é mutirão de todos. O CN Vacinas também é isso, mutirão de todos”.
O Centro Nacional de Vacinas foi concebido para ser um hub para o desenvolvimento de projetos de inovação nas áreas de imunizantes, de kits diagnósticos e de fármacos, com foco na transferência tecnológica para empresas e instituições que atuem no mercado de saúde. Existe também a expectativa de que seja plataforma para o fomento de spin-offs que desejam comercializar os produtos desenvolvidos em suas instalações. Além disso, empreenderá esforços para apoiar grupos de pesquisa, instituições e empresas por meio da capacitação de profissionais e prestação de serviços.
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