Cepea registra queda nos preços dos grãos e da arroba do boi

Os preços internacionais dos alimentos e a taxa de câmbio caíram 3,7% e 1,1%, respectivamente, enquanto os preços industriais mostraram estabilidade com -0,03%

Depois de subirem pouco mais de 10% em 2022, os preços ao produtor iniciaram 2023 em queda. De acordo com pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, no primeiro trimestre de 2023, o IPPA/Cepea (Índice de Preços ao Produtor de Grupos de Produtos Agropecuários) acumulou queda nominal de 8% frente ao mesmo período de 2022. Em relação ao último trimestre de 2022, a baixa foi de 4%.

Um conjunto de fatores levou a essa queda. No caso dos grãos, principalmente no da soja, os produtores apostaram em uma continuidade da alta dos preços e fizeram menos vendas antecipadas. Apesar da safra recorde ter se concretizado, houve atraso na colheita e na comercialização fortalecendo a queda dos preços.

Comparando o primeiro trimestre de 2023 frente ao mesmo período de 2022, os preços industriais da Fundação Getulio Vargas, permaneceram praticamente estáveis (+0,6%), mas os internacionais dos alimentos recuaram 11,4% e a taxa câmbio (R$/US$) se desvalorizou 0,8%.  Entre o último trimestre de 2022 e o primeiro de 2023, os preços internacionais dos alimentos e a taxa de câmbio caíram 3,7% e 1,1%, respectivamente, enquanto os preços industriais mostraram estabilidade (-0,03%).

Segundo pesquisadores do Cepea, o movimento de queda no Índice geral nos primeiros anos de 2023 está atrelado sobretudo às baixas observadas para o IPPA-Grãos/Cepea, de fortes 12,5% frente ao primeiro trimestre de 2022, reflexo dos recuos observados para algodão (-26,6%), milho (-12,3%), soja (-12,8%) e trigo (-5,1%).

Queda do algodão: motivada por cenário externo

No caso do algodão, a equipe de Grãos do Cepea indica que, apesar da entressafra, os preços internos e, sobretudo, externos

, pressionados por condições econômicas adversas nos cenários mundial e brasileiro. Estas geraram receio entre agentes e limitaram as vendas de manufaturas. Parte dos vendedores também cedeu nos valores, especialmente porque as vendas internas estiveram mais atrativas que a paridade de exportação.

 Milho sofreu redução da demanda interna

Segundo a Equipe do Cepea, os principais fundamentos para a queda do milho foram a elevada produção da safra verão, o clima favorável ao desenvolvimento da segunda temporada e, principalmente, a redução da demanda interna – compradores e exportadores limitaram as aquisições de novos lotes.

Safra de soja deve mesmo bater recorde

Para a soja, agentes de mercado consultados pela Equipe de Grãos do Cepea indicam que a produtividade e a qualidade da safra 2022/23 estão excelentes na maior parte do país, reforçando as estimativas de produção recorde e, consequentemente, a pressão sobre os preços da oleaginosa.

Trigo teve menor demanda

Em relação ao trigo, especialmente em março, o foco de produtores brasileiros esteve voltado à colheita e negociação da safra verão e à preparação para o cultivo da temporada de inverno. A demanda, por sua vez, esteve fraca. Esse cenário, atrelado às desvalorizações externas do trigo, resultou em quedas nos preços internos do cereal.

Análise Geral

Para Lucílio Alves, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), as quedas ocorrem por movimentos atípicos. Os preços das commodities não subiram como deveriam na entressafra. O milho ficou com preços sem grandes mudanças de agosto de 2022 a março último, e a soja, após pequena recuperação, voltou a cair.

Setor de proteínas se beneficia

O pesquisador lembra, no entanto, que se, por um lado, a queda dos commodities é ruim para o produtor de grãos, por outro, ela é boa para o setor de proteínas, principalmente aves e suínos, que comemora uma redução nos custos dos grãos (usados na alimentação dos rebanhos),   beneficiando, por tabela, o consumidor.

De qualquer forma, não podemos esquecer que os preços médios da arroba do boi gordo também recuaram para o patamar de 2020 no mercado interno. No mês passado, o valor da tonelada de carne bovina exportada pelo Brasil foi de US$ 4.787, conforme dados desta terça-feira (2) publicados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Há um ano, o Brasil negociava a tonelada por US$ 6.208.

Veja outros Índices que também recuaram entre o primeiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre desse ano: 

  • IPPA-Pecuária/Cepea caiu 0,4%
  • IPPA-Cana e Café/Cepea 9,8%. 
  • IPPA-Hortifrutícolas/Cepea foi o único que avançou (+7,5%), sendo influenciado pelas valorizações observadas para a batata (+9,5%), a banana (+5,1%), a laranja (+21,0%) e a uva (+11,7%).

As informações são da Rádio Itatiaia – Associada Amirt

Foto: Agência Brasil

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