Campanha aborda a prevenção ao suicídio em setembro

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A psicóloga Jeanne observa que a falta de afeto tem sido o principal fator de depressão e suicídio

Desde de 2015, o Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) desenvolvem a campanha de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo. O mês foi escolhido inspirado no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, lembrado no dia 10 de setembro.

Nos últimos quatro anos, o índice de suicídios no Brasil aumentou 12%. De acordo com o Ministério da Saúde, as maiores taxas de crescimento foram entre jovens e idosos. O levantamento feito pelo órgão em 2015 evidencia que o ato fatal é quarta causa de morte mais frequente entre os jovens do país. A Organização Mundial da Saúde estima que anualmente 800 mil pessoas tiram a própria vida em todo o mundo.

Para a psicóloga Jeanne Mara Vaz de Oliveira, o momento é de conversar sobre o suicídio e desmistificar esta ação que ainda hoje é considerada um tabu na sociedade. “Nos anos 1980, uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o suicídio ocorre por imitação e, por isso, não poderia ser falado. Contudo, não dá mais para calar. É importante que fale sobre isso para que sirva de alerta e conhecimento”, pontua Jeanne.

A profissional pontua que este tema deve ser tratado de maneira aberta especialmente com os adolescentes, fase de maior vulnerabilidade. “Temos que falar abordar a questão do suicídio no viés do sentido e valorização da vida. Na adolescência o cérebro ainda está em formação.

E hoje em dia, os adolescentes são expostos a muitos estressores, eles não estão dando conta. Os estressores geram, sobretudo nos adolescentes, a depressão e nestes casos ou fazem fuga para buscar o prazer nas drogas ou partem direto para o suicídio. É importante frisar que o suicídio não é a saída para aliviar esta pressão interna”, ressalta a profissional.

Solidão

Jeanne salienta que, com os aparelhos tecnológicos, as pessoas têm se distanciado, o que pode influenciar ainda mais o aparecimento da depressão. “As pessoas possuem muitos amigos nas redes sociais. Mas, são amigos fictícios, são amigos que não abraçam. O distanciamento do afeto tem aumentado a depressão e o cometimento do ato suicida. É necessário valorizar a vida e buscar ajuda quando estamos doentes emocionalmente. Os familiares devem estar mais envolvidos, vemos a solidão acontecer dentro dos lares onde não há o encontro e diálogo”, avalia.

O isolamento das pessoas idosas é o fator que contribui para os altos índices de suicídio entre as pessoas desta faixa etária, segundo Jeanne. “Os idosos ficam isolados, não querem dar trabalho aos familiares e acabam cometendo o ato. O que está levando a isso é a falta da afetividade, é a falta de estar juntos”, informa Jeanne.

“Além da depressão, o adoecimento emocional que pode culminar em um suicídio pode ser decorrente do abuso de drogas, inclusive lícitas, esquizofrenia, ansiedade, entre outros. Atualmente, há muitos casos da síndrome de Borderline, que tem como uma das características é que a pessoa não consegue suportar frustrações e daí ela pode partir para o suicídio, caso não trate”, completa Jeanne.

Auxílio

A profissional recomenda que se observe as alterações comportamentais das pessoas próximas. “Se você tem uma pessoa em casa que está mal-humorada, nervosa, que não consegue ter uma boa convivência tenha um olhar de que esta pessoa pode não estar bem. Temos que ficar atentos.”, pontua Jeanne.

“A tristeza é uma emoção natural, a função dela é nos levar para dentro de nós para avaliar como estamos nos posicionando diante da vida. Agora, quando ela fica persistente aí estamos deprimidos e se percebermos este sintoma é buscar ajuda com familiares, amigos e profissionais. Para nos proteger é importante um trabalho de autoconhecimento. É necessário falar de si mesmo, organizar os pensamentos e as emoções e enxergar de outra forma o desafio que a vida apresenta. Caso perceba isso no próximo converse, recomende e o acompanhe, se necessário, a um auxílio psicológico e psiquiátrico”, orienta a profissional.

“Devido os altos índices de violência, as crianças estão sendo criadas, muitas vezes, com uma superproteção. Quando elas saem dessa bolha protetora e passam para a fase da adolescência é uma passagem dolorosa. O adolescente se sente sozinho neste momento. Portanto os pais precisam estar juntos, não criando uma grande bolha, mas dialogando, aprendendo sobre o mundo do adolescente para que ele possa sentir que, realmente, está encarando o mundo, mas não sozinho. Talvez por ter sido criada com muita rigidez a atual geração de adultos tem falhado a ensinar aos filhos ensinar a viver com as frustrações, limites e a lidarem com o não”, pondera a psicóloga. (Fernando Lopes)


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