Buracos e iluminação precária dificultam acesso à Zona Norte de JF

No primeiro dia de 2021, um motorista, que pediu para que sua identidade seja preservada, voltava para casa durante a noite. Havia chovido, e a pista da Avenida Juscelino Kubistchek estava coberta de água. Ele seguia em direção ao Bairro Nova Era, mas, enquanto passava próximo ao trevo da BR-267, ao tentar desviar de um buraco, caiu em outro ainda maior. O pneu estourou na mesma hora, e a roda ficou amassada com o impacto, que ainda quebrou a balança e a ponteira de direção do veículo. Este poderia ser um acontecimento isolado, mas tem se tornado cada vez mais comum nas duas principais avenidas da Zona Norte: JK e Garcia Rodrigues Paes, conhecida como Acesso Norte. Conforme relatos de motoristas à Tribuna, além dos problemas na via, há também problemas relacionados à falta de iluminação nos trechos, o que dificulta ainda mais a passagem pelas avenidas, cujas condições são motivo de preocupação para a população da Zona Norte.

Mato alto atrapalha pedestres e até mesmo ciclistas que trafegam pelo Acesso Norte (Foto: Marcelo Ribeiro)

Na opinião do motorista ouvido pela Tribuna, quem transita pela JK de carro com frequência corre o risco de sofrer prejuízos. Ele conta que dois meses depois do primeiro problema, no início do ano, voltou a ter despesas por conta de um buraco localizado em outro ponto da JK, próximo ao Bairro Araújo. “Até hoje a suspensão do carro não é mais a mesma, mesmo depois do reparo. Fico muito revoltado, porque pago meus impostos em dia e ainda não há nenhum projeto ou algo que traga recursos revertidos para melhorias nessa região da cidade”, lamenta.

O problema vai além dos buracos no asfalto. A combinação das más condições da pista com a iluminação deficitária amplia os riscos em alguns pontos durante a noite. A Tribuna esteve no local na noite desta segunda-feira (3), e constatou que há diversos pontos com pouca iluminação ou, até mesmo, totalmente no escuro. Entre os principais pontos há um trecho que vai da Escola Estadual Professor Teodoro Coelho até pouco antes da passagem de nível para o Bairro Barbosa Lage. Outro trecho grave fica entre a entrada para o Bairro Santa Maria até praticamente a altura da entrada do Bairro Cidade do Sol.

Para o motorista de transporte por aplicativo Carlos Alberto Ramos de Souza, que mora neste bairro, há prejuízo em dois âmbitos, inclusive para pedestres. “(A falta de iluminação) pode causar um acidente grave e, também, porque o morador que trafega a pé pode ser prejudicado com assalto, por exemplo. O carro pode cair em um buraco que não enxergamos direito e, com isso, há o prejuízo financeiro com o carro que usamos para o trabalho.”

Equipamentos de ginástica e até mesmo mudas plantadas às margens do Paraibuna somem em meio ao mato alto (Foto: Marcelo Ribeiro)

Carlos aponta que a iluminação é fraca em praticamente toda a extensão da JK, mas reforça que os dois pontos citados pela reportagem ficam totalmente escuros ao anoitecer. “Ocorreu uma série de acidentes, e a Prefeitura, nos últimos anos, não colocou outros postes no lugar. Com o passar do tempo, vem causando essa situação na qual a gente chegou, cerca de 800 metros no escuro”, detalha o motorista. As estruturas danificadas dos postes que foram atingidos nas colisões citadas por Carlos, inclusive, permanecem na via, como flagrou a equipe da Tribuna nesta segunda.

Acesso Norte: alternativa que precisa de atenção

Além da Avenida Juscelino Kubitschek, a Tribuna também apurou que a Avenida Garcia Rodrigues Paes, mais conhecida como Acesso Norte, também apresenta problemas, complicando ainda mais o fluxo de veículos em uma região importante da cidade. A motogirl Maza Dias comenta que as melhorias também precisam chegar ao Acesso Norte. “Percebo que aos poucos as coisas estão começando a tomar seus lugares, como a capina. Mas é preciso investir mais, porque o Acesso Norte é uma área muito perigosa à noite. A iluminação é muito precária. Há muito buraco e pouca luz, e o risco de acidente é enorme. A via precisa de recapeamento.”

Em épocas de chuva, há alagamentos que chegam a interromper o tráfego. “Qualquer chuvinha na Avenida JK e no Acesso Norte deixa a gente sem conseguir passar. A gente que já sabe onde fica mais cheio, corta caminho, passa por dentro de bairro para tentar desviar do problema.” Desta forma, ela afirma que outra necessidade seria reavaliar o sistema de captação das águas pluviais. Para Maza, o investimento no Distrito Industrial é um exemplo que poderia ser levado para as outras vias importantes da Zona Norte.

Alguns dos postes estão caídos às margens da JK, uma das principais vias da cidade (Foto: Marcelo Ribeiro)

PJF diz que vai instalar luminárias com LED na JK

Por meio de nota, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) explicou que a Avenida Juscelino Kubitscheck tem especificidades que dificultam a manutenção da iluminação, como problemas na rede de alimentação com circuitos interrompidos. Desse modo, a situação na avenida não pode ser resolvida apenas com a manutenção com substituição de lâmpadas queimadas. “Necessita de um novo projeto, moderno e abrangente, que precisará ser submetido à concessionária de energia local. A Prefeitura estava há um longo período impossibilitada de prestar os serviços de construção de obras de extensão de rede de distribuição de energia elétrica para iluminação pública, pois não havia uma empresa para prestar este tipo de serviço. A nova Administração concluiu recentemente uma licitação e, no fim da semana passada, uma empresa começou a prestar estes serviços à PJF.”

Ainda segundo a Prefeitura, os estudos para a elaboração de um novo projeto já foram iniciados, e nos trechos da JK que possuem continuidade nos circuitos, a Prefeitura vai instalar luminárias com LED já a partir da semana que vem. A PJF afirma ainda que o Setor Elétrico e de Iluminação Pública da Prefeitura de Juiz de Fora semanalmente faz a manutenção de centenas de pontos de iluminação espalhados por toda cidade e avança no projeto de troca da iluminação por lâmpadas de LED, que iluminam mais e são mais econômicas.

Nos últimos dias, conforme a Administração Municipal, o serviço de instalação de luminárias LED foi iniciado nas Avenidas Brasil e Francisco Bernardino. “A nossa ideia é viabilizar projetos para que mais vias de Juiz de Fora possam receber essa tecnologia.”

O Departamento Municipal de Limpeza Urbana também informou que tem levado a Operação Boniteza para a cidade, inclusive para a Avenida JK, onde alguns trechos já receberam serviços, como os bairros Francisco Bernardino, Cidade do Sol, Jóquei Clube e Nova Era. A iniciativa inclui capina, roçada e retirada de resíduos.

Empav

Já a assessoria da Empav informou que os serviços de poda de grama na Avenida Juscelino Kubitschek foram iniciados em janeiro, “cobrindo a extensão da altura do viaduto até a entrada do Bairro Ponte Preta”. Ainda conforme a assessoria, o serviço de manutenção está sendo feito pela segunda vez no trecho, chegando, atualmente, na altura da Praça Céu.

Ainda conforme a Empav, a operação tapa-buracos realizou 20 ações durante os três primeiros meses do ano, utilizando cerca de 700 toneladas de massa asfáltica em diversos pontos críticos da extensão da Avenida Juscelino Kubitschek.

Conservação poderia garantir maior fluidez e segurança no trânsito

À Tribuna, o especialista em Transporte e Trânsito, José Luiz Britto Bastos, pontuou que, de fato, ambas as avenidas apresentam condições precárias para o tráfego de um alto número de pessoas, principalmente porque são acesso a uma importante região da cidade, com muitos habitantes. De acordo com ele, a iluminação pública é um dos fatores para a segurança viária, já que, embora os veículos tenham iluminação própria, muitas vezes ela é insuficiente. “Também temos que lembrar que essas vias cobrem distâncias longas. São cerca de 30 quilômetros, mais ou menos, dentro da área urbana, que precisam de iluminação suficiente.”

O desafio, segundo Britto, tem se tornado maior ao longo dos anos em Juiz de Fora, porque em uma cidade com mais de 573.285 habitantes e 269.176 veículos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), é preciso pensar nas condições das vias, para que elas possam absorver todo esse tráfego. “O piso está ruim e a iluminação também é ruim, mas é necessário melhorar as condições gerais, porque a cidade tem crescido muito em direção à Zona Norte.”

Para o especialista, investir no Acesso Norte também é importante para garantir maior fluidez para o tráfego da região. O caminho precisa dos mesmos cuidados dos quais carece a Avenida JK. “O Acesso Norte foi feito aos trancos e barrancos e é muito pouco usado. Está bastante ocioso”, opina.

Reivindicação do espaço para o ciclista

Além dos problemas para motoristas e pedestres, a falta de manutenção nas duas avenidas também impacta nos ciclistas. A principal demanda entre este grupo em Juiz de Fora é um espaço adequado para que se possa trafegar com segurança, especialmente nesta região. De acordo com Acir Lopes, idealizador do Pedal JF, a falta de uma ciclovia traz riscos tanto para quem usa a bicicleta como atividade física como para quem tem o veículo como principal meio de transporte, especialmente em momentos como a pandemia, em que o ciclismo atraiu novos praticantes.

“Observamos que poucos ciclistas passam pela Avenida Juscelino Kubitscheck. Um ou outro se aventura, porque há muitos riscos. Pegamos muito o Acesso Norte quando precisamos nos deslocar para a região, mas o piso lá também está horroroso. Onde há espaço para uma ciclovia, não é feito. Cidades menores que Juiz de Fora, como Comendador Levy Gasparian (RJ) e Três Rios (RJ) contam com ciclovias há algum tempo”, compara.

Conforme Acir, há dificuldade extra quando o estado das vias é ruim, porque o asfalto precário se soma ao desrespeito de parte dos condutores de veículos maiores. Mesmo com a mudança do Código de Trânsito, ocorrida no mês passado, que aumenta a gravidade da infração do motorista que não toma distância do ciclista, as cenas de risco provocado pela imprudência continuam frequentes, segundo ele. Desse modo, ter um espaço dedicado para as bicicletas garantiria segurança maior aos ciclistas.

Ele destaca ainda que, com a melhoria do pavimento, a destinação de espaço específico para os ciclistas, como as ciclovias e ciclofaixas bem sinalizadas, além da iluminação e outros equipamentos, como a criação de pontos de hidratação, a prática esportiva é favorecida e fortalecida, contando ainda com a possibilidade de redução da utilização de carros e, consequentemente, com a adoção de hábitos mais saudáveis e a diminuição da poluição.

A Secretaria de Mobilidade Urbana da PJF informou que está elaborando diversos estudos de remodelação viária para a Avenida JK, que inclui, inclusive, a possibilidade de implantação de uma ciclovia.

Foto: Marcelo Ribeiro/Divulgação

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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