Publicação da editora Impressões de Minas apresenta escritos de “ficção autobiográfica” da autora mineira, que também é atriz, artesã e arte-educadora; lançamento da publicação acontece no dia 18/12, sábado, no Yanã Espaço Cultural, com a presença da artista
“A região abissal do mar é uma conversa com as ausências”, reflete a escritora mineira Bárbara Buzatti sobre o título de seu livro de estreia. Uma “ficção autobiográfica”, a publicação apresenta escritos que se assemelham a um diário, registrando conversas entre uma mulher e um interlocutor ausente, que nunca a responde. “A região abissal do mar” (Impressões de Minas) é um mergulho dramático nas profundezas de um oceano de sentimentos, reflexões e devaneios da personagem – e, claro, de sua criadora, que também é atriz, artesã e arte-educadora, com atuação na área da saúde mental, em Belo Horizonte (MG). A obra – que traz ilustrações exclusivas, em serigrafia, da artista visual mineira Maíra Paiva – será lançada no dia 18/12, sábado, no Yanã Espaço Cultural, com a presença da artista.
Com 80 páginas e capa em brochura, “A região abissal do mar” traz cartas para alguém que nunca está, para um destinatário ausente, um interlocutor que não responde. “As cartas são testemunhos de uma viagem, em três tempos: ainda na superfície, em mar aberto e na região abissal do mar. E são datadas em três estações e anos não cronológicos, que são o outono-inverno do ano de golpe, a primavera do ano virado e a primavera do ano de retorno para si”, afirma Bárbara. “O livro é composto por textos que comecei a escrever em 2016, e foram se modificando, sendo reescritos. Comecei com pequenos textos que diziam fortemente sobre a temática da mudança, porque esse livro foi escrito naqueles momentos da vida em que nos vemos obrigados a encontrar saídas”, completa a autora, que fez o pré-lançamento do livro “perto do mar”, em Olinda, no Pernambuco, em novembro.
Na medida em que escrevia, a autora percebia que os textos pareciam com cartas “de alguém que queria contar da sua viagem, para alguém que não dava escuta”. “Um dia, no curso desse processo, minha mãe disse: ‘filha você está parecendo que está numa região abissal do mar’. E foi certeira. O meu destino, ao falar através das situações corriqueiras, é atingir as profundezas”, reflete a escritora, explicando a diferença entre os três tempos narrativos. “A importância das estações é dizer, metaforicamente, das mudanças de clima que a vida impulsiona. E se vocês repararem, não há verão. Os anos dividem os tempos e o amadurecimento dos processos de tratamento da dor”.
Segundo a artista, a editora Elza Silveira foi quem apontou o curso das águas ao dizer que o livro era “uma ficção autobiográfica”. “É uma escrita parecida com a de um diário, mas que constrói ficção naquilo que tem base no real. Essa mulher que fala, que testemunha para alguém que não está, sou eu, sim. Mas são muitas mulheres que, como eu, precisam contar suas histórias, para não silenciar sua existência. Me vejo nelas e acredito que elas possam se ver em mim”, explica Buzatti, refletindo sobre os atravessamentos de outras linguagens em sua construção literária. “São textos dramáticos justamente por ser uma escrita de ação. Acredito que o teatro está em tudo que eu faço, já modificou o meu jeito de me relacionar com o mundo. Então, quando a gente escreve, tudo se junta. O que é nosso aparece”, diz a artista, formada em artes cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
A literatura de Bárbara Buzatti também é naturalmente influenciada por seu trabalho na área da saúde mental, já que a artista há quatro anos atua lecionando teatro para usuários de Centros de Convivência da Saúde Mental da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. “Assim como o teatro, hoje, o trabalho que faço junto à saúde mental atravessa todas as minhas práticas. Ainda mais que este livro foi escrito como forma de tratar minhas dores. E é justamente isso que faz o trabalho com arte na saúde mental: substitui a solidão e acolhe as subjetividades”, afirma a artista, que estudou a arte e a loucura em seu mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ).
Sobre planos futuros, a artista revela que a publicação de “A região abissal do mar” tem motivado outras vontades literárias. “Essa coisa de publicar empolga a gente. Um próximo livro virá, as ideias já começaram a surgir e vou querer brincar bastante com a linguagem que observo na saúde mental, como fossem estudos de casos clínicos, para dizer de dilemas maiores que atravessam os sujeitos”, adianta. “Escrever foi sempre estratégia de sobrevivência. Sempre escrevi como forma de anotar o que eu sentia. Para seguir a viagem da vida com mais leveza. A literatura sempre foi e continuará sendo meu passaporte”.
Sobre Bárbara Buzatti
Natural de Belo Horizonte (MG), Bárbara Buzatti é atriz, diretora, escritora, artesã, pesquisadora e arte-educadora. Formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e mestre pelo Programa Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF). Já atuou em espetáculos como O olho da rua (2008), Perdoando Deus (2012), Só Maria (2014). Apresentou seu último solo, “Festa no Interior”, em 2019, com estreia e turnê no Galpão Cine Horto. Trabalha como artista monitora de oficinas de teatro para os usuários e usuárias dos Centros de Convivência da Saúde Mental, na Rede de Atenção Psicossocial (Raps- Sus), da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e no Caps III no município de Contagem.
As informações são de Floriano Comunicação.