Assassinato em supermercado seria vingança por homicídio ocorrido há 13 anos

Repositor foi morto dentro do estabelecimento comercial (Foto: Sandra Zanella)

A Delegacia Especializada de Homicídios identificou um adolescente de 17 anos como suspeito do assassinato de Carlos Bento dos Santos Filho, 44 anos, morto com pelo menos três tiros, dois na cabeça e um no peito, enquanto trabalhava em um supermercado, no fim da manhã desta quinta-feira (14), no Bairro Benfica, Zona Norte de Juiz de Fora. O crime ousado, em horário de grande movimento, chocou clientes e tirou a vida do repositor de mercadorias, contratado há apenas dois meses pela empresa Pais e Filhos.

Segundo o delegado responsável pela apuração dos fatos, Rodrigo Rolli, as investigações apontam, até o momento, que o jovem teria vingado a morte do próprio pai, presenciada por ele há 13 anos, quando era criança, dentro de um bar no Alto Santa Rita, Zona Leste. Apesar da agilidade na elucidação do caso, o suspeito, que usou boné durante a ação criminosa para dificultar sua identificação pelas câmeras de segurança, ainda não foi localizado. Ele já era investigado por outro assassinato ocorrido em setembro.

“Fomos à casa de familiares do adolescente no Santa Rita e no Miguel Marinho (Zona Norte). Eles mesmos disseram que o homem morto hoje teria executado o pai do menor infrator, mas teria sido absolvido, e isso teria causado uma revolta na família porque, segundo eles, não foi feita justiça”, contou Rolli, ponderando que todos os fatos do passado ainda precisam ser checados. Segundo o delegado, caso o garoto não se apresente nos próximos dias, será solicitado junto à Vara da Infância e Juventude o acautelamento dele no Centro Socioeducativo.

Segundo o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar, a esposa de Carlos Bento, 32, confirmou que seu marido vinha sofrendo ameaças devido a um processo de 2006 no qual era acusado de homicídio e acabou absolvido. Pelo número informado, o processo tramitou no Tribunal do Júri e encontra-se baixado conforme o site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
Ainda de acordo com a PM, as gravações das câmeras de segurança do estabelecimento comercial revelaram que o autor dos disparos seguiu a vítima dentro do supermercado por alguns instantes. Quando o funcionário ficou sozinho, próximo à lanchonete, o atirador abriu fogo contra ele. Informações da PM também dão conta de que o adolescente estava foragido do Centro Socioeducativo.

Aviso foi fixado na porta do estabelecimento comercial (Foto: Sandra Zanella)

Homicídio de 2006
O homicídio do pai do suspeito de ter cometido o assassinato desta quinta foi noticiado pela Tribuna na época. Segundo levantamento realizado no banco de dados do jornal, o pai do adolescente investigado tinha 22 anos quando foi morto com seis tiros, quatro deles na cabeça, em julho de 2006, na Rua Otávio Pereira Torres. O suspeito do crime ocorrido há 13 anos foi identificado naquela ocasião como um comerciante de 31 anos. Cerca de três dias depois, ele estaria a caminho da delegacia de Santa Terezinha na companhia de dois advogados quando foi visto por PMs que buscavam pelo autor dos disparos, sendo detido na interseção da Rua Custódio Tristão com Avenida Rui Barbosa.

Ao prestar declarações ao delegado naquele ano, o suspeito chegou a confessar o crime, mas alegou ter agido em legítima defesa. Ele disse ter atirado após uma discussão anterior envolvendo boatos e acrescentou ter sido ameaçado pela vítima dez dias antes. Após o depoimento, recebeu o direito de responder em liberdade. A reportagem sobre o homicídio de 2006 informava que o homem assassinado havia deixado um casal de filhos. Conforme as investigações atuais, o garoto, que teria 4 anos, teria decidido vingar a morte do pai mais de uma década depois, fazendo justiça com as próprias mãos, dentro de um movimentado supermercado, nesta quinta-feira.

Empresa lamenta homicídio de funcionário

O crime ocorrido em um dos corredores do supermercado da Rua Martins Barbosa aconteceu por volta das 11h15. Após ser alvejado com dois tiros na cabeça e um no peito, o repositor Carlos Bento dos Santos Filho caiu no chão, próximo à lanchonete. Uma pensionista de 71 anos, que preferiu não se identificar, havia acabado de passar pelo caixa quando ouviu “cinco ou seis tiros”. “Teve correria das pessoas que estavam no interior do mercado, mas eu nem olhei lá para dentro. Estou tão nervosa, levei tanto susto”, desabafou momentos depois.

Uma funcionária da empresa, 39, que também quis ter o nome preservado, contou conhecer a vítima desde a infância. “Crescemos juntos, estudamos na mesma escola no Bonfim. Por coincidência ele veio morar aqui no Jóquei Clube há 13 anos. Nos reencontramos aqui, há dois meses, quando ele começou a trabalhar.” Ela descreveu o colega como uma pessoa tranquila e educada. “Cheguei para trabalhar e já tinha acontecido. Foi um choque muito grande quando soube que era ele.”

Inicialmente, o supermercado permaneceu aberto, sendo isolada a área interna onde aconteceu o homicídio. Pouco antes das 13h, as portas do estabelecimento foram fechadas, após a perícia da Polícia Civil chegar para realizar os levantamentos no local. O trecho da Rua Martins Barbosa também foi obstruído por uma viatura da PM.

Carro da funerária aguarda a saída do corpo do repositor (Foto: Sandra Zanella)

Ainda no início da tarde, o Supermercado Pais e Filhos se pronunciou nas redes sociais: “Fomos surpreendidos com essa situação horrível! Um colaborador, com poucos meses de casa mas, excelente funcionário, foi surpreendido por uma pessoa desconhecida e armada, a qual atirou no mesmo e, infelizmente, ele veio a óbito. Muito triste passar por um momento desagradável assim. Imediatamente acionamos a polícia, que estava muito próxima, e a mesma assumiu o controle da situação. A loja de Benfica foi fechada logo que possível, e permanecerá assim até o fim do dia. Nós, dos Supermercados Pais e Filhos, estamos de luto, somos solidários e prestaremos toda a assistência para com os familiares.”

Em conversa com a Tribuna logo após o ocorrido, o proprietário da empresa, Marco Antônio, disse que trabalhava no escritório, no andar superior, e não chegou a escutar os disparos. “É uma situação complicada, que pode acontecer em qualquer local. Só a polícia vai descobrir qual o verdadeiro motivo, mas como funcionário, não tenho qualquer reclamação, o que assusta ainda mais. O sentimento é de tristeza por uma vida ceifada assim. É um pouco da realidade da violência no nosso país.”

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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