Depois de duas semanas desde que o lockdown foi decretado em Juiz de Fora, em 7 de março, o cenário epidemiológico na cidade ainda não demonstrou melhoras, com aumento crescente no número de casos, óbitos e internações. O balanço foi apresentado pelo grupo de modelagem epidemiológica da Covid-19 da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em reunião, na última segunda-feira (22), com vereadores e representantes do Comitê Científico do Gabinete de Crise, da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
Na ocasião, os integrantes do colegiado apresentaram dados sobre a situação epidemiológica e sanitária nos contextos nacional e municipal, além de responderem às dúvidas dos parlamentares.
Como apontado pelo levantamento realizado pelos pesquisadores da UFJF, comparando a nona semana epidemiológica (28 de fevereiro e 6 de março) com a 11ª (14 a 20 de março), Juiz de Fora teve um aumento de 24,4% em de casos confirmados, número considerado expressivo pelo grupo de modelagem, visto que há uma média de mil casos confirmados por semana. Em relação aos óbitos, o crescimento foi ainda maior: de 96,1%.
“Esses picos que nós tivemos são originados das lotações de leitos que tivemos nos meses de novembro e dezembro, quando Juiz de Fora ‘bateu na trave’ do colapso. Chegou a lotar algumas UTIs, mas nós estamos em uma situação muito pior hoje em dia. Naquela época, nós chegamos a 450 internados”, explicou o professor da Faculdade de Medicina da UFJF e integrante do grupo de modelagem, Fernando Colugnati. Nos últimos dias, a cidade ultrapassou a marca de 600 internações por Covid-19.
Durante a reunião, o médico e pesquisador da Fiocruz em Minas, Rômulo Paes de Sousa, explicou aos vereadores que “quanto mais profundas forem nossas ações, mais rápido teremos retorno positivo”. No caso, ele cita como exemplo a cidade de Araraquara (SP), no interior de São Paulo, única cidade do país que adotou o lockdown com restrições severas. “Há quem seja contra por princípios, mas não há outra alternativa que funcione no Brasil uma vez que os modelos usados em outros países contam com contextos diferentes”.
Parâmetros
De acordo com a Câmara Municipal, como complementado pelo professor da UFJF, Fernando Colugnati, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta algumas diretrizes para que haja flexibilização das restrições de isolamento social: são necessárias, no mínimo, três semanas seguidas com quedas no número de óbitos e expressiva no número de infectados; e menos de 30% de positivação. Em Juiz de Fora, hoje, esse índice está acima de 60%.
Alta de internações
Ainda conforme o que foi apresentado, até o último sábado (20), a ocupação dos leitos de enfermaria aumentou em 5,7%, se comparado aos sete dias anteriores, e 38,4%, levando em conta os 14 dias antecedentes. Já a ocupação das UTIs cresceu 25,1% em uma semana, e 39,9% em duas semanas. Os pesquisadores compararam os dados com um aumento de internações que ocorreu entre novembro e dezembro do ano passado.
Se a curva permanecer a mesma, os números devem continuar subindo por, pelo menos, mais duas semanas. “Fazendo as contas e olhando o gráfico, me deu até um pouco mais de preocupação (sobre os leitos de UTI), porque está mostrando uma aceleração um pouco maior do que observado lá atrás”, diz Colugnati. “O cálculo é feito em termos de padrões que observamos. Por alguma questão, pode mudar, mas não temos argumentos para dizer que vai mudar em relação ao que observamos no passado”, explica.
‘Ainda é cedo para ter resultados’
Procurada para comentar sobre a evolução da pandemia em Juiz de Fora, a Secretaria de Saúde da PJF disse que a situação segue o que ocorre em todo o Brasil, onde diversos estados, incluindo Minas, precisaram decretar um lockdown devido ao aumento significativo dos casos. Entretanto, conforme a pasta, “ainda é cedo para ter resultados significativos sobre o sistema de saúde, uma vez que precisamos que a taxa de circulação do vírus diminua consideravelmente nos próximos dias”.
Na nota, a pasta ressaltou que o tempo de hospitalização em UTI está aumentando. Alguns pacientes passam mais de 21 dias internados, desta forma, alguns deles podem ter sido hospitalizados antes mesmo do lockdown ter sido decretado. “Foi comprovado pela Universidade Federal de Juiz de Fora que outras variantes, mais contagiosas do vírus estão circulando na cidade, o que agrava ainda mais a situação.”
A PJF ainda informou que as manifestações e protestos com grande quantidade de pessoas que têm acontecido nos últimos dias, “neste momento, não contribui com a melhoria da situação, uma vez que mantém a circulação do vírus, muitas das pessoas que estão saindo às ruas não usam máscaras, como é possível perceber em algumas fotos e imagens veiculadas pela imprensa”.
A Saúde acrescentou que, “para que a solução seja mitigada, é preciso contar com a participação popular, que precisa manter o isolamento e seguir as orientações sanitárias de lavar as mãos e usar álcool em gel. A luta contra o coronavírus é de toda a sociedade juiz-forana, a Prefeitura está abrindo mais leitos, mas só isso não basta se não tiver um compromisso social pelo distanciamento”.
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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora