Apesar da crise hídrica, abastecimento em JF não corre riscos

Juiz de Fora não registra volume de precipitações dentro ou acima da média histórica desde março deste ano. A baixa concentração de chuvas em 2021 não é uma realidade local, sendo uma constatação em grande parte do Brasil, sobretudo no Sudeste. E tal situação já liga um alerta quanto a riscos de racionamento de água e energia elétrica em grandes centros urbanos. Na cidade, entretanto, a realidade é diferente e, apesar da estiagem, não há reflexos significativos nos mananciais operados pela Cesama e que abastecem o município com água tratada. Entretanto, isso não significa que Juiz de Fora esteja isenta de sofrer os impactos de um eventual racionamento de energia.

Na última semana, a Represa de São Pedro, na Cidade Alta, estava com 90,5% da sua capacidade de armazenar água, volume próximo do que era observado no mesmo dia em 2020, quando o reservatório estava praticamente cheio, com 96,3%. Já João Penido possuía 67,9% do seu lago preenchido com água (contra 74,3% em 2020) e Chapéu D’Uvas 58% (contra 76,5% ano passado).

A concentração menor de águas na Represa Chapéu D’Uvas não é preocupante, uma vez que o lago é 11 vezes maior que João Penido que, até 2017, era a principal fonte de abastecimento em Juiz de Fora. Aliás, a realidade momentânea do fornecimento de água no município mostra que Chapéu D’Uvas, de fato, já cumpre o seu papel de preservar os demais mananciais em períodos críticos de estiagem. Por estas razões, rodízios ou racionamentos não estão no horizonte da Cesama.

“Fazemos o monitoramento diário (dos volumes nos mananciais) e não há preocupação com a situação da cidade. Embora isso seja um problema em outras regiões do país, com cenários críticos em oito estados e, até mesmo, em outras partes de Minas Gerais, o nosso abastecimento público não é preocupante”, afirma o diretor-presidente da Cesama, Júlio César Teixeira.

Para que o sistema continue funcionando desta maneira, segundo Júlio, é preciso seguir com investimentos contínuos na melhoria do saneamento. “Os governos municipais mudam, mas a gestão da Cesama deve ser uniforme, sem quebra de paradigmas, com os mesmos princípios, para manter a população tranquila de que o recurso não vai faltar.”

Chuvas em JF

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que choveu acima da média histórica dos últimos 30 anos nos dois primeiros meses desse ano na cidade. Em janeiro foram 339 milímetros (5,3% além do previsto) e em fevereiro 231,8 milímetros (32,7% acima do esperado).

A partir de março o cenário mudou: foram 86,8 milímetros em março (somente 39,6% da média histórica), 54 milímetros em abril (68,7%), 6,9 milímetros em maio (15,6%) e 15,3 milímetros em junho (74,3%). Julho, pelo menos até sexta-feira, não havia chovido em Juiz e Fora neste ano.

Manancial João Penido permanece cheio, mesmo com a estiagem (Foto: Jéssica Pereira)

Falta de chuvas preocupa sistema de energia elétrica

A situação de Juiz de Fora, entretanto, não pode ser encarada com razão para uso indiscriminado do recurso hídrico. Até mesmo porque o fornecimento de energia elétrica no país corre riscos, e é justamente o chuveiro um dos vilões da conta cobrada pela Cemig. “O uso consciente de todos os recursos naturais é fundamental e a gente acredita muito que a nossa população tem esse uso muito consciente. Tanto que o índice de inadimplência na Cesama é muito baixo, o que, justamente, reforça esse compromisso”, pontua o diretor-presidente da Cesama, Julio César Teixeira.

Ao contrário do sistema de abastecimento para o consumo, que opera localmente, a produção de energia é executada pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) e a crise de produção vivida no país também afeta diretamente os juiz-foranos. A última edição do boletim do Programa Mensal de Operação (PMO), que publica as previsões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), indica um cenário que exige cuidados. Isso porque os reservatórios poderão chegar, em 31 de julho, com somente 26,4% da sua capacidade de armazenar água para gerar energia. Um índice considerado de risco, principalmente num momento em que a demanda por energia cresce 3,7%, se comparado a 2020, por causa do aumento da produção industrial e das atividades de setores como comércio e serviços.

De acordo com a Cemig, contando com a malha de linhas de transmissão que interliga todo o Brasil, quando ocorre um déficit de capacidade de geração em alguma região, a energia necessária para o suprimento vem de outras regiões, o que garante a continuidade da distribuição do SIN. Desse modo, o ONS fica responsável pelo atendimento da demanda energética e faz a gestão para que não falte energia no território brasileiro.

Por esse motivo, os usuários estão lidando com a bandeira tarifária, que é um acréscimo que indica as condições hidrológicas de produção da energia. A adição é temporária e pode ser revista, conforme ocorram mudanças nos níveis de água.

Ainda de acordo com a Cemig, o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde estão as usinas de Minas Gerais, apresenta, por exemplo, o nível de armazenamento pouco superior a 30%, conforme dados do ONS.

Mas para garantir a integralidade dos reservatórios, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aciona as usinas térmicas para suprir a demanda. Essa opção, por ser baseada no uso de combustíveis fósseis, encarece o preço para a produção de energia.

‘Um dos piores momentos’

As contas de energia não terão reajustes em 2021, assim como ocorreu em 2020, conforme foi anunciado em maio. Apesar disso, a companhia destaca que o país passa por um dos piores momentos hidrológicos de sua história e, nesse contexto, o uso racional da energia é essencial. Além de incentivar ações de eficiência energética, orienta que os usuários estejam atentos ao comportamento de consumo.

Foto: Jéssica Pereira / Divulgação.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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