A farmacêutica norte-americana Pfizer e o laboratório alemão BioNTech anunciaram a conclusão da terceira fase de testes da vacina desenvolvida pelos dois parceiros contra a COVID-19, batizada de BNT162b2. O resultado supera a avaliação preliminar divulgada pelas empresas, com taxa de 95% de eficácia, sem efeitos colaterais. Ainda não houve publicação do relatório em revistas científicas, mas o trunfo do imunizante é que pode ser o pioneiro na obtenção de licença de fabricação.
A vacina da Pfizer e do BioNTech, assim como o imunizante desenvolvido pela norte-americana Moderna, que na última semana apresentou resultado preliminar de 95% de eficácia, foram produzidas por meio do chamado RNA Mensageiro do Sars-Cov-2. Trata-se de tecnologia inédita, que utiliza parte do código genético do vírus para que, quando introduzido no corpo por meio da vacina, induza a resposta imunológica do corpo humano.
Na opinião de especialistas da área da Saúde, a etapa vivida hoje de pesquisas em busca de uma vacina contra o novo coronavírus significa esperança depois de pouco menos de um ano desde a descoberta da doença respiratória. “Isso é bastante animador e promissor. Se tivéssemos vacinas que usam a mesma tecnologia apresentando resultados discordantes, seria um sinal de inconsistência. Mas, ambas apontando para a mesma direção de alta eficácia significa que estamos cada vez mais próximos de uma vacina para uso geral da população. Isso, claro, a medida em que os dados de eficácia forem sendo gerados”, destaca Jorge Pinto, professor titular da UFMG e líder do grupo de vacina de COVID-19 na universidade.
Segundo o anúncio da a Pfizer e do BioNTech, a vacina começa a dar sinais de eficácia 28 dias após a aplicação da primeira dose da vacina – são duas, ao todo. Foram analisados dados de 170 participantes dos ensaios clínicos que tiveram a COVID-19. Desse universo, oito tomaram a vacina experimental e outros 162 receberam o placebo (substância neutra, sem nenhum fármaco, para fins de controle). Os testes envolveram quase 44 mil voluntários distribuídos por cinco países, inclusive o Brasil, que recebeu os testes em São Paulo e na Bahia.
Os resultados ainda precisam de respaldo científico. Não se sabe, por exemplo, por quanto tempo dura a imunidade proporcionada pela vacina. “Ainda que os resultados sejam muito otimistas, temos pouco tempo desde o início da fase 3. Isso cria uma dúvida sobre essa duração da resposta imune”, aponta Ricardo Gazzinelli, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor do Departamento de Bioquímia e Imunologia da UFMG. “Há chances de essa altíssima eficácia cair com o passar do tempo. Ainda assim, por causa desse excelente resultado, provavelmente mesmo caindo ela ainda terá um certo status promissor”.
Logística e disponibilidade Ambos os professores e pesquisadores apontam que o maior desafio para a vacina Pfizer/BioNTech será a distribuição e a logística. Isso, porque essa nova tecnologia requer que o imunizante seja armazenado em locais com temperaturas a cerca de 70 graus negativos. “Imagina isso em uma escala global, chegando em todos lugares, inclusive fora dos centros urbanos. Precisa de toda uma rede de freezers ultrafrios para conseguir disponibilizá-la”, diz Jorge Pinto.
O fato de se tratar de uma tecnologia inédita também pode ser um obstáculo, na visão de Gazzinelli. “É uma plataforma totalmente nova. Requer fábricas que não existem no Brasil e uma disponibilização de tecnologia que as empresas não estão dispostas a ceder em um período curto. É um problema pensando em quando vamos poder ter uma vacina dessas circulando no Brasil”, explica o pesquisador.
A perspectiva das empresas é de oferecer 50 milhões de doses até o fim deste ano e de cerca de 1,3 bilhão até o fim de 2021. “Isso é muito pouco, considerando que cada pessoa precisa de duas doses e que serão priorizados os países que mais investiram no desenvolvimento, que foram os Estados Unidos e a União Europeia”, completa Gazzinelli.
Na noite de ontem, a Pfizer anunciou que ofereceria “milhões de doses da vacina” para o Brasil no primeiro semestre de 2021, sem especificar a quantidade. Isso se deu após negociações do Ministério da Saúde com a farmacêutica e também em virtude das preocupantes estatísticas de COVID-19 no Brasil. O país contabilizou ontem média móvel de 584 óbitos por dia devido a COVID-19, número que compila dados dos últimos sete dias. Em 24 horas, foram registrados mais 38.401 casos de contaminação e 754 mortes, segundo levantamento feito por consórcio de veículos de comunicação formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL junto às secretarias estaduais de saúde. O número total de diagnósticos chegou a 5.947.403 e de mortes a 167.497.
Fonte: Estado de Minas
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Postado originalmente por: Portal Onda Sul – Carmo do Rio Claro