Alexandre Silveira propõe visão metropolitana e ação conjunta entre prefeitos no combate à covid-19

Silveira, que já comandou a Secretaria Estadual de Saúde, fala da importância das cidades da região trabalharem juntas no combate ao coronavírusCom a experiência de já ter comandado a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, na gestão do ex-governador e atual senador Antônio Anastasia (PSD), e ter tirado do papel a Agência Metropolitana do Vale do Aço, o ex-deputado federal e atual suplente no Senado Federal, Alexandre Silveira, fala sobre a pandemia e seus impactos para a população, sem perder de vista a economia da região.

Em entrevista ao Diário do Aço, Silveira enfocou o que ele classificou como “uma ótica metropolitana” sobre o assunto e disponibilizou seu capital político aos prefeitos do Vale do Aço. Justifica a iniciativa na condição de um dos principais líderes do PSD nacional e também embasado em seu bom trânsito com os senadores mineiros Carlos Viana (PSD), Anastasia (PSD) e Rodrigo Pacheco (DEM), objetivando, segundo ele, ser criada uma frente mais abrangente no combate ao coronavírus de forma a trazer um melhor resultado regional.

Diário do Aço -Tendo sido eleito duas vezes como um dos cinco deputados federais mais votados em Minas, como o senhor está acompanhando as iniciativas do poder público em relação à pandemia?

Alexandre Silveira: Tenho resistido bastante em falar sobre esse tema, como cidadão estou indignado pela forma pela qual a pandemia tem sido tratada no Brasil, em Minas e, em especial, em nossa região. O vírus não tem coloração partidária, não escolhe fronteiras. A saúde pública e a preservação de vidas deveriam ser as grandes prioridades nesse momento. Quando falamos em salvar e preservar vidas, é claro, com a compreensão de que não se deve perder o norte para a convergência de também salvar a economia com emprego e renda.

DA -Como isso seria possível?

Silveira: Quando o meio científico nos apontou para o quanto era perigoso esse vírus, o lockdown era para que os governantes preparassem a rede de saúde pública para receber as pessoas com mais dignidade. Atender, principalmente o sistema intensivo para aqueles que precisassem de respiradores. Já se passaram mais de 70 dias e o que vejo é uma divergência das lideranças políticas nacionais, estaduais e até locais. Isso causa um grande mal à sociedade. A falta de uma visão metropolitana faz com que municípios que são interligados pensem isoladamente em políticas públicas para a saúde e economia. Se pensassem de forma conjunta poderiam unir forças, por exemplo, para a construção de um hospital único de campanha, para deliberações únicas para os setores da economia, e assim por diante.

DA -Mas isso não deveria ser o papel da Agência Metropolitana?

Silveira: A Agência Metropolitana do Vale do Aço, criada em nossa gestão de Secretário de Estado de Gestão Metropolitana, deveria ser a protagonista para a convergência de ideias nesse momento, convidando para o diálogo prefeitos, Ministério Público, que é o fiscalizador da lei, e as polícias Militar e Civil, que são garantidoras da lei. Todos em prol de uma solução. Mas não é o que está acontecendo. A gente entende como salutar as divergências. As opiniões são muito diversas no mundo inteiro sobre a pandemia, não há consenso na forma de combater, na forma de agir para fazer o equilíbrio entre a economia, emprego e saúde pública. Mas aqui a gente vê a falta de protagonismo da Agência Metropolitana nesse sentido, mesmo com boas referências do diretor-geral. Torno a dizer, já se passaram mais de 70 dias e ainda não tivemos uma ação conjunta.Vejo que cada município tem trabalhado muito nesse período. Cada um à sua maneira, com visões antagônicas. Deve-se buscar um mínimo de convergência para as ações darem garantias ao cidadão. Não existem limites, não existem fronteiras, a conturbação entre os três municípios do núcleo metropolitano deixa muito clara essa realidade.É fundamental a compreensão dos prefeitos da região, principalmente das principais cidades, já que eles vão acabar recebendo nos municípios que governam pacientes de outras cidades do Colar Metropolitano de acordo com que a curva ascendente da doença continue.

DA –E como isso poderia ser feito?

Silveira: Coronel Fabriciano é a cidade mãe do Vale do Aço. Ela está localizada entre os outros dois municípios, Ipatinga e Timóteo. Por que Fabriciano não poderia estar abrigando um Hospital de Campanha Metropolitano no campo do Social ou na antiga sede da Unimed? O prefeito de Milão, na Itália, cometeu um erro e teve a hombridade de vir a público reconhecer sua falha. Ele entendeu em um primeiro momento que o caminho era salvar exclusivamente a economia e que a pandemia não teria a gravidade que teve. Por isso muitas pessoas morreram sem atendimento. Precisamos ter decisões conjuntas na região. Só assim, dando garantias à população de um atendimento digno, poderemos conciliar o propósito de salvar vidas sem prejudicar a economia. Claro que com exceção de alguns setores que geram aglomerações, como campos de futebol, bares e restaurantes que não tenham a condição de cumprir o espaço de distanciamento necessário. Nesse caso, o poder público precisa trabalhar para socorrê-los, pois sabemos o quão é importante o gerador de emprego e renda para a estrutura social e econômica. Somos uma só região e precisamos pensar pluralmente.

DA -Existe alguma Lei para este fim?

Silveira: Existe uma lei aprovada o Programa Nacional de Apoio às Pequenas e Microempresas de Pequeno Porte (Pronampe), do senador Jorginho Mello (PL-SC), e que já foi sancionada pelo presidente da República. O Projeto aguarda a normatização para que os bancos públicos possam socorrer esses pequenos comerciantes. Eu acredito numa recuperação rápida após a pandemia, pois o problema é pontual e não estrutural. Isso reforça que devemos fazer de tudo para que a economia não se torne um problema estrutural com a quebra de empresas. Mas o que eu entendo é que está atrasado.Fico muito entristecido, principalmente nas redes sociais, tamanha divergência, a politização de um assunto que não é político, é extremamente técnico. É um assunto de gestão, que deveria ser tratado pelo meio científico, e também, há de se ressaltar, que não é o meio científico ideologizado, o ideal seria se ecleticamente fossem colocados à mesa especialistas das variadas correntes para embasar os gestores públicos na busca de soluções. Infelizmente, vejo no Vale do Aço a falta de equipamentos de proteção individual para os profissionais da saúde, muitos têm trabalhado precariamente. Desse jeito a região caminha a passos largos para ser o centro da pandemia em Minas vamos fazer de tudo para que isso não aconteça.

DA -Como isso poderia ser amenizado?

Silveira: Temos uma vantagem no Vale do Aço, temos aqui uma Região Metropolitana criada, reconhecida. Ou seja, nós temos velocidade para buscar recursos, tanto do Governo do Estado quanto do Governo Federal. O comércio poderia estar aberto se tivessem se preparado para um atendimento em larga escala para a região. Mas, infelizmente, as divergências locais estão impedindo que o comércio volte a funcionar de forma mais estável. Já são quantas idas e vindas… Já são quantas liminares? Tudo isso por falta de diálogo. E quem paga o preço é a população que já começa a entrar em pânico com tanta desinformação por parte das autoridades públicas locais.Eu não me sinto seguro com tanta divergência, com tanta politização de um assunto tão técnico. Cadê o hospital de campanha regional? Hospital de campanha em Ipatinga, hospital de campanha para Timóteo, cadê a lógica, a otimização do recurso público tão escasso? A Agência Metropolitana do Vale do Aço tem esse papel! Lembro da oportunidade de quando adquirimos o único prédio estatizado do governo Anastasia, o então Hospital Siderúrgica, hoje Hospital José Maria de Morais. Era um hospital privado e, frente à pasta da Saúde, compramos o prédio, reformamos e equipamos. Na época, lembro bem o motivo de colocar a mantenedora São Camilo em nossa gestão, foi porque ela tinha o Hospital Vital Brasil como gestora e isso faria com que ela otimizasse recursos, como no caso da lavanderia, na questão da pediatria e com os mesmos recursos pudesse atender aos dois municípios.

DA -O senhor se dispõe na intermediação entre os quatro prefeitos da região e os três senadores de Minas no combate efetivo à pandemia no Vale do Aço?

Silveira: Todos sabem da gratidão que tenho por essa região que me fez o quarto deputado federal mais votado de Minas por dois mandatos e da nossa relação pessoal e política com os nossos senadores em Minas. Gostaria de agradecer de antemão os R$ 500 mil destinados pelo senador Anastasia a Timóteo, assim como ajuda a Ipatinga e Fabriciano em outras ocasiões.O que posso contribuir nesse momento é com ideias e com o prestígio pessoal. Temos nas fileiras de nosso partido o presidente estadual do PSD, senador Carlos Viana, o senador Anastasia, também do PSD, e nossa amizade com o senador Rodrigo Pacheco (DEM). Me coloco a inteira disposição de todos prefeitos da região, em especial dos quatro prefeitos do núcleo metropolitano, para, se quiserem, procurarmos os três senadores com uma proposta objetiva de solução. Eu entendo que o campo do Social ou a estrutura do antigo hospital da Unimed possam oferecer uma estrutura tecnicamente possível e digna para a região. Essa questão de empurrar o problema no outro não vai levar ao objetivo principal de preservarmos vidas. Nós precisamos de medidas e um protocolo regional metropolitano. Se quiserem fazer essa reunião por meio de videoconferência com os três senadores, eu me coloco à disposição para fazermos juntos. Desde que tenham uma proposta objetiva, eu tenho a certeza que será bem acolhida.

Postado originalmente por: Diário do Aço

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