Tribuna de Minas: Juiz-foranos que estavam em Petrópolis relatam drama na cidade

Pessoas narram cenário de destruição causado por tempestade na noite de terça-feira; filha de moradora de JF é uma das vítimas fatais

A cidade de Petrópolis (RJ), localizada a cerca de 120 quilômetros de Juiz de Fora, foi devastada durante um temporal que atingiu o município na tarde da última terça-feira (15). Segundo a Defesa Civil, choveu 260 milímetros em apenas seis horas, e a chuva intensa causou deslizamentos e alagamentos, além do desmoronamento de imóveis. Até as 18h desta quarta-feira (16), 78 vítimas fatais tinham sido contabilizadas, mas a quantidade de pessoas desaparecidas ainda não tinha sido comunicada de forma oficial pelos Bombeiros, que tentam resgatar sobreviventes em meio à lama.

Uma das vítimas fatais da tragédia é a adolescente Maria Eduarda, de 17 anos, filha da juiz-forana Gizelia Oliveira, que viajou para Petrópolis na madrugada desta quarta-feira à procura da filha e de outras familiares. Ela desapareceu após um deslizamento de terra no Morro da Oficina. Na tarde desta quarta, horas depois de chegar à cidade fluminense, Gizelia confirmou a morte de Maria Eduarda em uma postagem nas redes sociais. “Te amarei eternamente, você levou metade de mim, luto eterno minha princesa”, escreveu a mãe.

Imagens feitas pela TV Globo no início do dia mostravam Gizelia com uma enxada para procurar a filha. “Eu moro em Juiz de Fora e ela mora aqui. Tá ela, a tia e a filha da minha afilhada aí debaixo. Eu já estou perdendo as esperanças. É uma bebê de 1 ano sem respirar debaixo dessa lama. Você consegue?”, afirmou em entrevista. O corpo de Maria Eduarda foi encontrado à tarde pelos bombeiros na cidade.

Outro juiz-forano que vivencia o drama da tragédia é o médico ortopedista Sérgio Ricardo Neto, que faz atendimentos em Petrópolis duas vezes por semana. Ele estava em seu consultório no Centro da cidade, na terça-feira, quando a chuva começou. “Ficamos ilhados, era muita água, lama, destroços. Por volta das 21h, quando deu para sair, nós fomos a pé até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Alto da Serra”, contou à Tribuna. A região, que abrange o Morro da Oficina, onde um deslizamento de terra deixou dezenas de pessoas soterradas, foi uma das mais afetadas pela chuva.

Sérgio conta que durante o trajeto até a UPA, o cenário era como o de uma guerra. “Víamos carros tombados, um em cima do outro, crateras nas ruas, e alguns corpos que foram levados pela enxurrada ficaram jogados no chão. Tivemos que romper barreiras de destroços para chegar até lá”.

A situação na unidade de saúde era caótica, em um primeiro momento, como conta Sérgio, já que foram recebidas vítimas do deslizamento de terra em diversos estágios de gravidade.

“As ambulâncias não conseguiam dar vazão aos pacientes e encaminhá-los até os hospitais mais próximos. Conforme a passagem foi desobstruída, fomos realizando a redistribuição e atendendo, da maneira que conseguimos, as vítimas mais graves que chegavam.” O médico só conseguiu deixar a UPA por volta das 4h. “Nesse momento foi quando as equipes começaram a conseguir retirar os corpos das vítimas fatais dos destroços”, disse.

‘Medo e agonia’

A juiz-forana, jornalista e moradora de Petrópolis, Flávia Rocha, também relatou à Tribuna ter encontrado um cenário de guerra nesta quarta-feira. Pela manhã, ao abrir a janela da sua casa, ela deparou-se com o rastro de destruição deixado pela enxurrada. “Recebi relatos de amigos que tiveram que correr para cima da laje para correr da água, de pessoas que perderam tudo, de pessoas que fazem tratamento de câncer no Rio e estavam em uma van que foi soterrada, com o registro de uma morte. Um amigo que mora no Caxambu, um bairro bastante atingido, relatou que as casas desabaram e não há como andar, não há como chegar no lugar”, disse a jornalista, acrescentando que a cidade inteira está intransitável.

“Moro, praticamente, na Rua Teresa, que é muito extensa, e só consegui chegar até certo ponto, porque era tanta lama que não tinha condições de caminhar. Hoje, o dia inteiro, estou ouvindo o barulho de helicóptero, ouvindo as retroescavadeiras trabalhando, o que dá medo e uma agonia profunda. Sem falar que o tempo está totalmente instável, e a previsão é de mais chuva até a próxima sexta-feira. Sabemos que as casas ao redor ainda correm risco. Há pessoas que estão ilhadas, a situação é trágica”.

A jornalista também faz uma crítica, já que não é primeira vez que a cidade é atingida dessa forma pelas chuvas. “A culpa é de quem? Nunca sabemos. Enquanto isso, precisamos de ação, de respeito, de dignidade, porque hoje o trabalhador de Petrópolis não pode sair de casa. Os comerciantes precisam das lojas abertas, mas o Centro Histórico ficou com as mercadorias boiando, e a é culpa de quem? Precisamos ter um futuro e pensar no crescimento da cidade, com o governo fazendo sua parte”, concluiu.

Solidariedade

Desde a madrugada, voluntários têm se mobilizado para ajudar no apoio às famílias desabrigadas pela chuva. O estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Julio César Fernandes, que é natural de Petrópolis e está na cidade fluminense, se deslocou logo pela manhã para a igreja Santo Antônio, no Bairro Alto da Serra. De acordo com ele, o local abrigava mais de 200 pessoas na manhã desta quarta. “No início do dia estavam chegando muitas famílias, e não tínhamos doações suficientes para todo mundo, já que as vias de acesso até a igreja estavam todas bloqueadas. Quando a pista foi liberada, chegaram muitas doações. A situação agora pela tarde já está estabilizada, foram feitos os direcionamentos das pessoas para outras unidades de apoio aqui perto, e o excedente de doações, nós estamos distribuindo para outros locais.”

O morador de Petrópolis, Guilherme Amaral, também foi até o Centro da cidade para atuar como voluntário. “É chocante a situação que a cidade está. Só tinha visto imagens pela televisão, internet, mas quando a gente chega aqui, coloca o pé na lama, é que tem de fato a noção dos estragos. O centro da cidade acabou, está irreconhecível, não existe mais, só tem vestígios.” Apesar de toda destruição, Guilherme afirma que é gratificante ver a quantidade de doações que a cidade tem recebido. “A população está se mobilizando, e também cidades da região têm mandado muitos recursos. Ainda existem algumas doações pendentes, como água, leite para as crianças, algo que estamos arrecadando”, comentou.

Arrecadações em Juiz de Fora

Assim como em outras cidades do país, Juiz de Fora tem pontos de coleta de doações para as vítimas da tragédia em Petrópolis. Diversas pessoas e instituições da cidade já estavam recebendo donativos na tarde desta quarta, que serão enviados às famílias petropolitanas.
Um dos movimentos é o SOS Petrópolis, organizado por funcionários do Hospital Universitário da UFJF. Como conta uma das organizadoras da campanha, Mariana Deister, o intuito é arrecadar produtos que serão entregues à Defesa Civil de Petrópolis. “Sou de Petrópolis, e minha mãe trabalha na Defesa Civil de lá. Confirmei com ela os materiais que estavam precisando, como alimento, roupas, e material de limpeza. Mas estamos reforçando a doação de água potável, já que as barreiras comprometeram o abastecimento da população. No domingo vai sair um caminhão de Juiz de Fora, e na semana que vem eu vou de carro levar o restante das doações.” Para mais detalhes, basta entrar em contato com o número (32) 99175-2280.

A 1ª Igreja Presbiteriana de Juiz de Fora, em apoio ao SOS Global, também está fazendo o levantamento de meias, roupas íntimas, barras de cereais, pratos, copos e talheres descartáveis e objetos de higiene pessoal, como sabonete, papel higiênico, pasta e escova de dentes. Contribuições também podem ser feitas por Pix ou conta corrente. Mais informações estão disponíveis através do contato com o número (32) 99956-3058.

Um grupo de ciclistas de Juiz de Fora também entrou na mobilização para ajudar os moradores de Petrópolis. Os atletas estão recolhendo alimentos não perecíveis que serão entregues às vítimas no próximo sábado (19).

Confira como ajudar:

Água potável, alimentos não perecíveis, materiais de higiene e limpeza, roupas e cobertores

– SOS Petrópolis
Centro Educacional Estrela Mágica – Rua Paracatu 155, Santa Terezinha
Loja Renda Bela – Galeria Belfort Arantes, entre a rua São João e o Calçadão da Rua Halfeld
Vianna Junior – Avenida dos Andradas 415
UBS São Pedro – Rua José Lourenço Kelmer 1.533, São Pedro
Mariana Deister – Rua Herman Toledo 195, ap. 101, São Pedro
Gabriela Gonçalves – Rua dos Artistas 99, ap. 503, Morro da Glória
Daniela Ribeiro de Oliveira – Ed. Saggioro, vaga 809 A/C, Rua Espírito Santo 916
Primeira Igreja Presbiteriana de Juiz de Fora – Rua Bernardo Mascarenhas 786, Fábrica

– Grupo de Ciclistas de Juiz de Fora
Av. Vila Vidal 315, Jóquei Clube
Rua São José 39, Vitorino Braga
Loja Garage Bike – Av. Doutor Luiz Gonzaga Figueiredo 462, Jardim do Sol
Loja Energy Bike – Rua Cristovam Molinari 8, Morro da Glória
Loja S2 Bike Shop – Av. Deusdedith Salgado 1.317, Teixeiras
JF Cicloturismo – Rua Barão do Retiro 300, apto 202, Bonfim

– ONG Amigos do Trem
Petruscar – Av. dos Andradas 1.124, Morro da Glória
Livraria Dom Pedro II – Av. Rio Branco 2.067, loja 35, Centro
Chula Pet – Rua Tomé de Souza 49, Benfica
Studio FIT21 – Av. Rui Barbosa 596, Santa Terezinha
Capelli e Corpo Estética – Rua Josué Queiroz 394, Santa Terezinha
Salão Point da Beleza – Rua Maria Garcia 500, Bairro de Lourdes
UBS Santo Antônio – Rua Pedro Trogo 285, Santo Antônio

– Shopping Jardim Norte – Loja Projeto Florescer, L2 – Av. Brasil 6.345, Mariano Procópio

– Athena bookstore Shopping Rio Branco, R. Santo Antônio, 583 – Lj 52 – Centro

As informações são da Tribuna de Minas – Associada Amirt

Foto: Pedro Duran

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