A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Homicídios, instaurou inquérito para investigar o esfaqueamento de um motorista de aplicativo, de 47 anos, na noite do último sábado (3), na Rua Espírito Santo, no Centro de Juiz de Fora. Uma acareação entre os envolvidos será realizada a fim de esclarecer os fatos que resultaram no crime, uma vez que houve contradições nos depoimentos apresentados até agora, segundo o titular da Especializada, Rodrigo Rolli. Além disso, a polícia espera ouvir o motorista nos próximos dias.
De acordo com informações da Polícia Militar, duas mulheres, de 32 e 28 anos, e um homem, 31, solicitaram uma viagem por meio de um aplicativo. Após embarcarem no veículo, os passageiros pediram que o ar-condicionado fosse ligado, entretanto, o motorista teria negado, justificando tratar-se de uma medida de proteção contra o coronavírus. Uma das mulheres, então, teria afirmado que iria denunciá-lo à empresa. Em seguida, o condutor teria parado e solicitado que os viajantes saíssem do carro, porque iria cancelar a corrida.
Ainda conforme o registro policial, a passageira relatou que iria registrar uma foto da placa do automóvel para realizar uma queixa. Neste momento, o motorista teria pegado uma ferramenta e agredido o homem que estava com ela e era passageiro, causando lesão na nuca e no braço esquerdo. Como aponta o registro da PM, ela ainda relatou que o homem teria conseguido desarmar o condutor e teria dado um soco no estômago do motorista, que evadiu do local e colidiu com o automóvel em uma coluna do HPS, onde foi imediatamente socorrido pelas equipes médicas.
Por outro lado, o motorista relatou aos policiais que teria se desentendido com os passageiros por conta dos protocolos de saúde quanto ao uso do ar-condicionado e também ao solicitar o uso de máscara. Após pedir para que os clientes se retirassem do automóvel, os envolvidos teriam entrado em atrito verbal, que resultou em luta corporal. Segundo o boletim de ocorrência, ao retornar ao veículo o motorista teria sido esfaqueado no abdômen, peito e no ombro, entretanto, não soube informar qual passageiro lhe desferiu os golpes. Em seguida, ele teria seguido com seu veículo ao HPS para solicitar ajuda.
Conforme a PM, foi constatado que o motorista sofreu lesão grave e foi internado na CTI após ser submetido a um procedimento cirúrgico. De acordo com a Secretaria de Saúde da Prefeitura, nesta segunda-feira (5), a vítima permanecia internada no CTI do HPS, após ferimento provocado por arma branca. Ele foi avaliado e passou por cirurgia. Seu estado de saúde era considerado grave, porém estável.
Os passageiros foram presos e conduzidos para a delegacia de plantão. Eles dispensaram atendimentos médicos, segundo o registro policial.
Testemunha teria presenciado fato
O delegado Rodrigo Rolli, titular da Especializada, informou que há uma testemunha que presenciou os fatos. “Ela disse que a vítima saiu atrás do passageiro com a barra de ferro na mão”, afirmou Rolli, que acrescentou: “Durante o deslocamento do veículo houve uma discussão no interior do carro, a princípio, pela questão de o motorista não querer ligar o ar-condicionado no momento que fazia calor. Então, houve um atrito verbal ali no automóvel. O motorista do Uber alegou aos policiais militares que também entrou em atrito verbal, porque os passageiros não quiseram utilizar a máscara conforme determinação do Ministério da Saúde no procedimento de prevenção à Covid-19. Iniciou-se um atrito verbal, e o veículo parou na Rua Espírito Santo, onde desceram e teve uma briga que resultou em lesões corporais entre a vítima e os passageiros. Alega-se que a vítima teria saído do carro com a barra que trava o volante, o que acabou gerando o crime”, disse o delegado.
Conforme Rolli, além da instauração do inquérito, uma equipe de investigadores foi disponibilizada com objetivo de verificar a existência de câmeras de segurança no local que possam ter gravado o episódio. “Também oficializamos o Hospital de Pronto Socorro (HPS), para que nos informe o estado da vítima e todas as lesões sofridas. Caso o paciente tenha uma melhora, vamos fazer uma entrevista com ele assim que seja possível”, afirmou Rolli, acrescentando que o passageiro envolvido na ocorrência foi o único que teve sua prisão ratificada pela Polícia Civil. Ele foi encaminhado para a cadeia da cidade de Matias Barbosa, conforme determinação do sistema prisional como medida preventiva em razão da pandemia. As duas mulheres que estavam com ele no veículo foram liberadas depois de serem ouvidas no plantão da delegacia.
A Tribuna entrou em contato com a Uber, empresa citada na ocorrência policial, solicitando um posicionamento, bem como um esclarecimento quanto às orientações de proteção contra a Covid-19, e aguarda retorno.
Manifestação por segurança
Por conta da tentativa de homicídio contra o profissional, os motoristas por aplicativo realizaram, na manhã desta segunda, uma carreata contra a violência. Eles se encontraram no Bairro Cruzeiro do Sul e seguiram pela Avenida Rio Branco até o Bairro Manoel Honório, de onde seguiram pela Avenida Brasil até a sede da Prefeitura de Juiz de Fora.
“Nós não podemos aceitar isso. Foi um ato covarde que fizeram com o nosso motorista, e exigimos punições quanto a isso, para que sirva de exemplo para que outras situações como essa não aconteçam novamente”, disse o vice-presidente da Amoaplic/JF, Sóstenes Josué Ramos de Souza.
Segundo Sóstenes, o desentendimento entre o condutor e os passageiros só ocorreu porque uma das passageiras teria se recusado a usar a máscara de proteção. “Os passageiros precisam entender que devem usar máscara e que o ar-condicionado não pode estar ligado. É pandemia, não é o que a gente quer, mas são as normas que nosso Município tem pedido e as plataformas também”, diz.
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