Conselheiros expulsos do Cruzeiro custavam R$ 500.000,00 mensais.

O Cruzeiro excluiu do seu quadro associativo 30 conselheiros que receberam pagamentos do clube entre 2018 e 2019 na gestão de Wagner Pires de Sá. A planilha de pagamentos aos conselheiros, inclusive os que renunciaram anteriormente  chegou ao valor superior a meio milhão mensal, em pelo menos dois meses do primeiro semestre do ano passado.

As remunerações fixas de conselheiros – alguns possuíam bônus e tinham direito a premiações, que aumentavam os vencimentos – variavam de R$ 1.600 a R$ 125 mil mensais. Metade dos excluídos recebia vencimentos a partir dos R$ 10 mil. Muitos deles irão à Justiça (entendimento no final da matéria).

A maioria dos conselheiros excluídos também era contratada por meio de pessoa jurídica. Em conversa com a reportagem, o ex-presidente Wagner admitiu que era um “subterfúgio” para “não ofender o estatuto. A partir de maio do ano passado, contratos com conselheiros começaram a ser rescindidos.

“Prejudicaram (opositores) a quem? O Cruzeiro. Nós fomos rebaixados por isso, por causa de política” – Wagner Pires de Sá, ex-presidente do Cruzeiro.

Dos 30 conselheiros citados. 19 deles são natos, com cargos permanentes no conselho, sem necessidade de reeleição. Eles perderão os postos. 11 são efetivos, eleitos no último pleito, e serão substituídos por membros suplentes. A maioria pretende discutir a situação na Justiça e argumenta que o andamento do procedimento não ocorreu da forma como deveria. Todos que atenderam à reportagem disseram ainda não ter sido notificados.

Como consta na planilha de pagamentos, cinco prestavam serviço à presidência do clube, de Wagner Pires de Sá: Edson Nego Brandão, Eliezer de Souza Matos (contratado por meio da Franelli Consultoria Empresarial), Marco Túlio Martins, Maurício Cattabriga e Roberto Márcio de Freitas Rocha (contratado por meio da R e A Agenciamento e Consultoria Ltda). Os cinco, somados, chegaram a receber em um mês, aproximadamente R$ 46 mil.

Edson Nego Brandão preferiu não se pronunciar.

Marco Túlio Martins não respondeu e informou que o pronunciamento dele seria na Justiça e que ainda não havia sido notificado. Já Maurício Cattabriga e Roberto Márcio Rocha não foram encontrado

Ainda na sede administrativa, há alocação de diversos conselheiros. Os principais são Sérgio Nonato e Gustavo Perrella. Nonato, que exerceu o cargo de diretor-geral no clube, era o conselheiro que recebia os maiores vencimentos.

Segundo contrato, em 2019, o ex-comentarista esportivo da TV Alterosa começou ganhando R$ 60 mil, em abril de 2018. Dois meses depois, passou a ganhar R$ 75 mil, e em dezembro recebeu mais um aumento, passando a receber R$ 125 mil por mês. Ele também tinha multa para rescisão contratual: R$ 1 milhão. Em 4 de outubro de 2019, pediu desligamento do clube. Nonato foi procurado sobre o parecer, mas não respondeu.

Já Gustavo Perrella, conselheiro nato, assinou contrato por meio da B.I. Sports e Produções, em 28 de fevereiro de 2019, três dias depois de realizar a abertura da empresa, como consta no sistema da Receita Federal. O contrato previa o pagamento de R$ 190 mil, em duas parcelas, uma em abril e outra em maio, sempre com o vencimento no dia 10.  Ele deixou o clube poucos meses após o contrato, que tinha validade de 90 dias (de 28 de fevereiro a 31 de maio). Gustavo foi procurado mas não respondeu à mensagem enviada, nem atendeu às ligações.

Outros conselheiros trabalhavam ligados à sede administrativa. Há o caso de Older Milhorato, contratado por meio da Planco Engenharia e Soluções; de Alexandre Lemos, por meio da Lago Engenharia; de Fernando Souza, da Souza e Vignoli Assessoria; Alonso Miranda da Silva e Jairo Venâncio de Brito. Somados, os cinco conselheiros receberam R$ 70.736,00 mensais.

Older e Alexandre Lemos não atenderam às ligações. Alonso Miranda não respondeu à mensagem. Já Fernando Souza, que trabalhou por muito tempo na parte de logística de ingressos, disse que não gostaria de se pronunciar no momento. Segundo ele, o trabalho no Cruzeiro ocorreu durante 30 anos e que, neste momento, ele preferia “preservar o nome”.

Já Jairo Venâncio disse que não recebeu a notificação também. Ele informou que trabalhava no estacionamento do clube, na rua Ouro Preto, no Barro Preto, destinado para carros de funcionários.

Três conselheiros citados nesta área de atuação. São eles: Ângelo Augusto Viana, Luiz Cláudio Rocha, o Xedinho (por meio da Minas Eventos e Estruturas), e Paulo Roberto Lopes Soares, o Paulinho Céu Azul. Somados, o trio chegou a receber, mensalmente, R$ 47 mil. Os três também foram procurados. Ângelo informou que não iria se pronunciar.

Já Luiz Cláudio Rocha foi procurado, semana passada, mas não respondeu . Conselheiro nato, Luiz Cláudio Rocha, o Xedinho, era contratado através da Minas Eventos e Estruturas. Ainda em 2019, a empresa tinha contrato com o Cruzeiro válido por três anos e no valor de R$ 240 mil. A Polícia Civil investiga se Xedinho também era o responsável pelo pagamento do galpão ocupado pela torcida organizada Máfia Azul, localizada em frente à sede administrativa do Cruzeiro, no Barro Preto. Xedinho foi procurado, mas não respondeu aos questionamentos.

Já Paulinho Céu Azul falou à reportagem e disse que chegou a prestar depoimento na Polícia Civil em meio às investigações de irregularidades no Cruzeiro e disse que seu caso já foi arquivado.

“Eu era diretor de eventos do Cruzeiro. Toda a minha documentação, quando eu estava trabalhando, antes do Wagner pedir licença, eu levei toda a minha documentação, todos os meus contratos, foi entregue na mão do delegado. Fui o único diretor do Cruzeiro que entregou os documentos. Tanto é que meu processo foi arquivado – afirmou Céu Azul, que garantiu que entrará na Justiça”.

“Que nós vamos entrar na Justiça, nós vamos entrar. Eu sou conselheiro nato, o meu pai foi vice-presidente do Cruzeiro de relações públicas durante 40 anos. Eu sou conselheiro do Cruzeiro, eu não posso prestar serviço ao Cruzeiro? Eu era PJ, não era funcionário do clube, através da produtora que eu trabalhava. O maior arrependimento da minha vida foi ter entrado no Cruzeiro, porque eu sai de uma produtora que trabalhava durante 22 anos e não me deixavam trabalhar (no Cruzeiro) – concluiu o conselheiro.

Há pelo menos três conselheiros que chegaram a ser contratados como consultoria: Carlos Alberto Monteiro (CDF Assessoria e Consultoria), João José de Adballa de Brito (Brito Consultoria Financeira) e Paulo Henrique de Mello Franco, o Paulo Peluso. Somados, os três chegaram a receber R$ 16 mil mensais.

João José de Adballa não foi encontrado, enquanto Paulo Peluso não respondeu aos questionamentos. Carlos Alberto não atendeu.

Na Toca I, constam três conselheiros alocados: Angelo Cattabriga, William Batista Peixoto e Wilmer Zaratini Mendes. Somados, os três custavam aos cofres R$ 32 mil. Cattabriga também informou que não foi notificado e que iria se pronunciar na Justiça. William Batista não respondeu . Já Wilmer Zaratini já havia se pronunciado na semana passada, quando Dalai Rocha assinou o documento.

Ex-gerente de futebol da base e conselheiro nato, Wilmer Zaratini Mendes recebia R$ 14 mil mensais pelos serviços prestados. Era contratado como pessoa jurídica e respondeu à notificação do conselho deliberativo em 16 de março. Zaratini apresentou a íntegra da sua defesa ao conselho e afirmou que iria buscar uma assistência jurídica para efetuar sua defesa após a decisão de José Dalai Rocha.

“Achei uma situação muito desagradável receber uma destituição como Conselheiro Nato do Cruzeiro pela imprensa. Confesso que estou muito decepcionado, exponho a minha defesa da notificação recebida na íntegra. Vou procurar um advogado para saber dos procedimentos para uma defesa”.

Na defesa, Zaratini apresenta seu currículo como cruzeirense, as ações que realizou durante gerente de futebol da base, seu currículo profissional e informa que “se o Conselho Deliberativo, juntamente com a Comissão de Ética e Disciplina, chegarem à conclusão que fui contratado como empregado pelo Clube, automaticamente terei direito a várias prerrogativas inerentes ao Regime CLT, tais como: Férias, 13º Salário, INSS, Fundo de Garantia, etc”.

Há um outro caso envolvendo a Toca I, mas de forma diferente. É o de Fernando Ribeiro de Morais, contratado por meio da Estrela Sports. Ele é um dos que agencia a carreira do garoto Estevão Willian, jovem promessa do futebol. Fernando explicou o motivo do repasse de R$ 7 mil.

“Acho que isso vai se alastrar juridicamente. Pretendo, primeiro, tentar esclarecer com os atuais dirigentes, porque não tem nenhuma questão inidônea, não, por parte da empresa que fiz o contrato lá. Prestava serviço por parte esportiva – disse o empresário, que explicou o contrato e que o valor iria para a família do garoto.

“O recurso era mais para ter condição de ajudar a família. Mas foi só por três ou quatro meses, porque a empresa ajudou aqui durante quatro anos. Depois, fizeram uma ajuda de custo para a família, para eu não me envolver mais”.

“A gente não teve inidoneidade de nada. A gente só queria, realmente, privilegiar o Cruzeiro para o menino ficar ali, porque teve proposta do Brasil inteiro para ele”.

O contrato, com a ajuda de custo, passou a ser repassado diretamente para o pai de Estevão, Ivo Gonçalves, por meio da empresa EW10 Sports, que tem como um dos sócios o pai da jovem promessa.

Na Toca II e até em jogos, quem prestava serviço era o conselheiro Jorge Washington. O contrato dele era de R$ 12 mil. Ele foi procurado, mas disse que não gostaria de se pronunciar.

São três casos de conselheiros no parque esportivo. São eles: Gislene Batista Oliveira (contratada por meio da Gisa Esportes), Hudson Barbosa de Moura e Ronaldo de Assis Carvalho. No montante mensal, chegaram a receber do Cruzeiro aproximadamente R$ 19 mil.

Procurada, Gislene disse que estava se preparando para realizar sua defesa.

“O que estão fazendo conosco não é correto, ainda mais eu que trabalhei para o clube. Ainda não sei o que vou fazer. Eu sou conselheira, tenho a minha empresa, eu sou empresária e trabalho. Eu trabalhava, era voluntária, trabalhei um ano de voluntária”.

Perguntada sobre que tipo de serviços prestava ao clube, a conselheira desligou o telefone. Após nova ligação, o telefone foi novamente desligado.

Ronaldo de Assis Carvalho era diretor no Barro Preto, mas não respondeu à mensagem. Já Hudson Barbosa foi coordenador da escola de futebol do Cruzeiro. Ele recebia R$ 3,5 mil brutos mensais do clube, segundo consta em planilha. Depois, teve o salário ampliado para R$ 5 mil mensais. Ele era contratado como pessoa jurídica. Hudson conversou e explicou seu trabalho. Ele também disse que não se licenciou do cargo de conselheiro para trabalhar no clube.

“Eu era superintendente da sede Pampulha do Cruzeiro. Meu trabalho era administrativo. Ia todos os dias. Primeiro a chegar, último a sair, inclusive domingos e feriados. Isso aí é público (minha remuneração). Eu entrei em janeiro de 2018, meu salário era R$ 12,6 mil. Em janeiro de 2019, eu tive um aumento realmente para R$ 20 mil de salário bruto. Impostos da minha empresa era eu que pagava, não tinha férias, 13º, fundo de garantia e, no meu trabalho, como já falei em outras emissoras, passamos de 2.600 para 4.200 cotas, gerando um aumento mensal da arrecadação em R$ 350 mil” – disse Galinari.

Josá Maria de Paula foi procurado e disse que ainda não havia sido notificado pelo Cruzeiro e que exercia o cargo de superintendente no clube. Já Jorge Turci disse que exerceu o cargo de diretor social.

“Eu sou sócio do clube há 30 anos, e o clube estava jogando às traças. Independente de eu ser conselheiro ou não, eu fiz um trabalho que está tudo arquivado, com mais de 300 fotos, com tudo que fiz. Eu ganhei para trabalhar. Não fiz nada ilegal. É só perguntar aos associados. Eu não fiz nada de errado. Eu trabalhei. Mas a minha vida é mais importante do que estão fazendo no conselho. Eu era conselheiro, não era meu interesse fazer coisa errada – justificou o conselheiro cruzeirense”.

Para realizar a defesa, conselheiros se ampararam em consultorias de advogados. E os excluídos sustentam argumentos de que o processo para análise de seus contratos não ocorreu da maneira como deveria.

Inicialmente, eles têm outro entendimento sobre o artigo 18, base para excluí-los do conselho. O artigo fala que: “o Associado Conselheiro Nato e Associado Conselheiro, contratado como empregado do Clube, perde o mandato e o suplente de Conselheiro será excluído do quadro de suplência”. No entendimento deles, o termo “empregado”, configura como contratado, em regime de CLT.

No entendimento deles, os contratos como PJ configuram como prestação de serviços. Se o clube os considera como empregado, os mesmos deveriam ter direito a férias, 13º, depósito de FGTS. Segundo eles, se isso for levado à Justiça, poderá gerar um passivo ao Cruzeiro.

“Trabalhava na escola de esportes. O que fiz de trabalho, o que captei de jogadores para o Cruzeiro não é brincadeira. Voltei para o futebol de salão do Cruzeiro que estava fora, desde 2004, e fomos campeões estaduais do sub-11, sub-9. Viajava para Goiânia, Uberlândia, viajava para todo lado, trabalhava. Comecei em 2018, quando foi em maio, aí que passaram para R$ 5 mil. Trabalhava a semana inteira, domingo. Eu fiz a minha defesa, mas me surpreendeu, não fui comunicado de nada sobre isso. Não foi feito nada (pedido de licença), meu contrato era PJ, era uma firma que prestava serviço para o Cruzeiro. Não era o conselheiro. Para mim, a política acabou após a eleição. Meu nome foi jogado num Lava Jato, sem direito de defesa. Fico triste que fui jogado numa Lava Jato. O que ganhei do clube foi muito recompensado pelo meu trabalho. Meu trabalho foi bem feito e tenho consciência tranquila”.

Por fim, também havia conselheiros que prestavam serviço no clube do Cruzeiro, na Pampulha. Eram eles: Vitorio Galinari (por meio da Vitorio Galinari – ME), Geraldo Parreira (por meio da Viver Mais Esporte), Jorge Lúcio Turci e José Maria de Paula. Juntos, recebiam mensalmente R$ 36 mil aproximadamente.

Conselheiro nato, Vitorio Galinari era o diretor do clube na Pampulha. Ele era era um dos principais articuladores políticos da gestão de Wagner Pires de Sá. Ele respondeu ao questionamento da Globo e se defendeu, afirmando que trouxe recebíveis ao clube.

Entretanto, o parágrafo segundo do artigo 19 do Cruzeiro fala que: “é vedada a remuneração dos membros da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo e de Conselheiro do Cruzeiro Esporte Clube.”

Eles questionam também como foi feita a formação do conselho fiscal e o processo para defesa sobre as notificações que os conselheiros receberam. Eles argumentam que a Comissão de Ética e Disciplina não foi empossada pelo conselho deliberativo.

Entretanto, não há no estatuto a previsão de posse da comissão disciplinar, sendo ela formada por nomeação do presidente do clube. Atualmente, José Dalai Rocha. 

Outra reclamação é que, após a apresentação das defesas, os conselheiros não foram ouvidos, nem questionados por membros do comitê de ética e de José Dalai Rocha. Na visão deles, a exclusão é por um viés político.

“O conselheiro do Cruzeiro presta serviços ao Cruzeiro há anos e anos. Desde que atuo como conselheiro, depois dos 20 anos, eu via que havia conselheiros trabalhando para o Cruzeiro. Isso é recorrente no Cruzeiro. Seria até uma hipocrisia isso não dar porque é conselheiro. Vou discriminar um conselheiro só porque é um conselheiro. É uma hipocrisia isso. Para não ofender diretamente o estatuto, que fala em emprego, com carteira assinada, nós usamos do subterfúgio como pessoa jurídica. Eles usam isso politicamente. Usam o Cruzeiro politicamente desde a época que ganhei a eleição democraticamente. Ganhei de cinco ex-presidentes né, então eu machuquei muita gente. Isso é política” – disse Wagner Pires de Sá.

 
 

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Postado originalmente por: Minas AM/FM

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