Aulas e serviços secundários paralisados, comércio praticamente fechado, fronteiras interditadas e correria em supermercados. A realidade em países estrangeiros está sendo amplamente afetada pelas medidas preventivas ao novo coronavírus (Covid-19), com mais de 80 mil contaminações apenas fora dos limites da China, epicentro da pandemia. A reportagem da Tribuna conversou com juiz-foranos que estão em países de três diferentes continentes e relataram o cotidiano altamente modificado em meio à disseminação da doença.
América do Norte
A jornalista Sabrina Lima mora com o marido no distrito de State College, no estado norte-americano da Pensilvânia. No distrito, diversas atividades já estavam em recesso pelo chamado “Spring Break”, uma paralisação que se dá na entrada da primavera americana. “Neste feriado nós fomos surpreendidos com a informação de que as escolas não voltariam a ter aula. Assim como a Universidade Estadual da Pensilvânia (Penn State), onde meu marido trabalha, que também vai ficar com as atividades paralisadas até o início de abril”, conta Sabrina. Como consequência, as aulas serão ministradas via Skype, mantendo as atividades acadêmicas sem o contato pessoal.
Na última semana, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a medida preventiva de proibir voos procedentes da Europa e do Reino Unido por 30 dias. No país, os casos de coronavírus já ultrapassam a barreira dos 3 mil, com cerca de 47 mortes confirmadas. A preocupação alcança a população, segundo Sabrina, que se movimenta para conseguir estocar alimentos. “A gente já observa mercados com alguns produtos em falta, como itens de higiene pessoal, papel higiênico e sabonete. Nós, brasileiros, que temos nosso tipo de alimentação específica, já não encontramos arroz, por exemplo. Mas os mercados têm feito uma comunicação grande com os clientes, afirmando que estão trabalhando na reposição de estoque”, relata a juiz-forana.
Em Toronto, no Canadá, o cotidiano está relativamente normal mesmo em meio às ações preventivas. Conforme a jornalista Lilian Assis, as instituições de ensino estão fechadas por três semanas e há orientações para evitar grandes aglomerações. “Eles estão pedindo para evitar locais públicos e estão fechando alguns pontos turísticos”, destaca Lilian, que já sentiu alteração na movimentação nos supermercados. “O que estamos notando é a falta de alimentos, tem muita gente querendo estocar”, afirma. O Canadá tem, até o momento, 339 casos e uma morte confirmados.
França
O continente europeu também é brutalmente atingido pela pandemia. Fora da China, a Itália é o país em situação mais crítica, com mais de 24 mil casos de coronavírus. Um dos países que fazem fronteira com a Itália, a França também se destaca pelo alto índice de contaminação, com cerca de 5.400 contágios. Residente em Paris há seis meses, onde faz mestrado, a estudante Gabriella Weiss convive com a iminência do fechamento das fronteiras francesas e a instauração de toque de recolher às 18h. “O Macron (presidente francês) vai falar hoje à noite sobre fechamento de estradas e trens. A gente tem até quarta-feira (18) para decidir onde vamos passar os próximos 45 dias, já que não vai ser possível se locomover dentro do país. O momento é de correria. Todo mundo que está em Paris e não é daqui está tentando ir para as suas cidades”, relata Gabriella.
De acordo com a mestranda – que é asmática, um dos grupos de risco da doença -, a situação da França foi piorada por uma greve nos transportes públicos que dura três meses, concentrando a circulação nos poucos transportes coletivos restantes. No início da proliferação do novo coronavírus, em janeiro, os aeroportos franceses ainda não tinham protocolos preventivos, e o caos foi instalado apenas após o surto. “Nos supermercados o clima era de guerra. Pessoas correndo para pegar as coisas rapidamente. Não havia vários produtos básicos, como macarrão, papel higiênico e leite. Foi assustador”, relata Gabriella.
Atualmente, apenas mercados e farmácias funcionam em território francês, comércio tido como essencial pelo Governo, o qual, ainda assim, manteve as eleições municipais realizadas no último domingo, mas resultou em alto nível de abstenção, com cerca de metade dos 48 milhões de eleitores franceses não comparecendo às urnas. A situação é semelhante na Alemanha, país com quase 6 mil casos e que optou por não cancelar as eleições municipais iniciadas também no domingo.
Alemanha
Morador de Munique, no estado da Baviera, Gustavo Weiss, irmão de Gabriela, é doutorando e trabalha em um instituto de pesquisa alemão. No país, também só funcionam serviços essenciais. Os supermercados, inclusive, ampliaram o horário de funcionamento e estenderam o expediente para domingo, dia no qual geralmente não abrem. “Eventos com mais de mil pessoas já foram proibidos há algumas semanas, e alguns eventos de cerveja muito famosos que acontecem na região foram todos cancelados. Jogo de futebol também”, enumera o pesquisador. Ao contrário de outros países, os estados alemães têm autonomia para decidir sobre fechamento de fronteiras, causando certa lentidão em processos do tipo, de acordo com Gustavo.
O doutorando juiz-forano também vive a incerteza sobre a realização de uma viagem marcada há semanas para o Japão. Com 839 casos, o país asiático tem situação controlada da pandemia, mesmo estando geograficamente próximo à China, o que pode causar limitações na entrada do brasileiro em território japonês. “A maior preocupação é se eu vou poder sair daqui, se eu vou estar doente ou não. E também se eu vou poder entrar lá sem ter que passar por quarentena”, projeta.
Portugal
Em Portugal, muitos serviços públicos estão encerrados ou em horários reduzidos. Praias estão interditadas pela Polícia Marítima, e pontos turísticos como a Torre de Belém e o Padrão dos Descobrimentos já sentem a diminuição de visitas. “O clima em Portugal é de tensão. Em algumas áreas é possível ver pessoas usando máscaras. Em Belém, os locais turísticos estão muito vazios, diferentemente do que é costume em um lugar que costuma ter muita visitação”, relata Jussara Ramos, funcionária da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) que passa férias no país europeu.
Austrália
Com cerca de 297 casos confirmados e três mortes em decorrência do Covid-19, a Austrália tem a proliferação ainda mais intensa do pânico. O relato é de Renata Botti, jornalista juiz-forana que trabalha em um hotel de Sydney, capital do maior país da Oceania. Além da falta de produtos básicos no comércio australiano, empresas diminuem as horas trabalhadas dos funcionários e alteram os rendimentos dos trabalhadores, os quais são pagos semanalmente, conforme Renata. “O que a gente vem sentindo desde quinta-feira é que os lugares têm diminuído o número de horas para o pessoal que trabalha. Aqui a gente recebe por semana, não é mensal, então os ganhos têm diminuído. Hoje, por exemplo, eu estava trabalhando e a ocupação do hotel está em 35%, apenas, quando, normalmente, tem ocupação de 85% a 90%”, compara.
Além do cancelamento da prova de Fórmula 1 prevista para o último domingo, em Melbourne, a população está em estado de atenção após comunicado do primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, alertando para a possibilidade de fechamento de aeroportos – e o anunciado confinamento de todos os imigrantes que chegam à Austrália. “O primeiro-ministro fez um pronunciamento alarmando as pessoas, que pode ser que os aeroportos venham a fechar, voos cancelados. Isso ainda não aconteceu aqui, mas a gente ouve um burburinho que pode ser que aconteça. Então está todo mundo esperando por isso”, conta Renata, que tem viagem marcada para a Ásia no próximo domingo (22), mas aguarda definição do Governo para ter certeza de que vai conseguir embarcar.
Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora