Depois da repercussão do caso de agressão contra uma servidora do PAM-Marechal, na quarta-feira (20), a Tribuna recebeu, nesta quinta, a denúncia de uma enfermeira de 31 anos, agredida fisicamente na Unidade Básica de Saúde no Bairro Nova Era, na Zona Norte. A ocorrência, que foi confirmada pelo secretário de Segurança Urbana e Cidadania, José Sóter Figueirôa, foi registrada em 25 de janeiro deste ano e só veio à tona agora, por meio de comunicação da própria enfermeira. A servidora recebeu xingamentos e gritos por parte de uma mulher que compareceu ao posto a fim de marcar uma consulta para o filho. Todavia, como ela não apresentou o cartão de vacina da criança, foi orientada a buscá-lo. A agressora retornou, mas apresentou um cartão errado e, ao ser questionada pela enfermeira, partiu para a agressão. O episódio ocorreu no setor de recepção, na frente de outros usuários.
A profissional conversou com a Tribuna e contou que, enquanto a mulher estava na fila, já insultava os servidores. “Eu estava na recepção, e ela passou a me agredir, jogando tudo que estava em cima do balcão contra mim, como livros e caixas. Depois, me desferiu tapas. Eu fiquei com hematoma no braço, arranhão no rosto e galo na cabeça”, disse. Depois do episódio, a enfermeira foi transferida para outra UBS, no Bairro Santa Cruz, uma vez que foi ameaçada de vingança pela agressora. “Essa foi a primeira vez que fui atacada fisicamente, mas agressões verbais acontecem sempre. Na hora, não tive reação, nem consegui sair da frente dela.”
Atualmente, a enfermeira encontra-se afastada do serviço. “Logo após o episódio, voltei ao trabalho, mas percebi que não estava conseguindo lidar com a situação. Todas as vezes que alguém elevava a voz, eu já ficava em pânico. O servidor fica muito exposto, e não existe nada que nos proteja”, ressaltou a profissional, que avalia sua transferência como punição, já que sua rotina foi alterada. Ela informou ter recebido, por parte da Prefeitura, tratamento psiquiátrico e psicológico.
De acordo com Figueirôa, via de regra, esses atos de violência contra a categoria ocorrem, principalmente, nas unidades básicas de saúde. Ele informou que outros casos foram registrados nos bairros Santa Rita e Santo Antônio. “Temos procurado atender essas situações. Não dá para identificar que vai acontecer essa violência, como não há possibilidade de ter guardas municipais em todos os equipamentos e, por isso, trabalhamos de forma preventiva. Esse é um fenômeno que ocorre não só em Juiz de Fora, mas em todo o país”, ressaltou o secretário, em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, nesta quinta (21). Ele também garantiu que a pasta está à disposição para estabelecer estratégia de atendimento aos servidores. “Não estamos medindo esforços para acolher essas demandas de forma objetiva. No entanto, é preciso entender que, sem fugir da nossa responsabilidade, estamos vivendo um momento crítico e preocupante em nosso país, com uma onda de violência e de intolerância muito grande.
Vulnerabilidade
O presidente do Sindicato dos Médicos, Gilson Salomão, também durante entrevista à CBN Juiz de Fora, afirmou que vê com preocupação o surgimento de novos casos de agressão contra servidores da Saúde. Conforme ele, em 2017, foi realizado um movimento junto à Secretária de Segurança Urbana e Cidadania, para mostrar a vulnerabilidade dos profissionais em seus locais de trabalho. “Agora, dois anos depois, nada mudou. Pelo contrário, tivemos dois casos em um mês. Vamos insistir junto às secretarias de Segurança e de Saúde, mostrando que precisamos que o profissional tenha tranquilidade em seu local de trabalho”, afirmou, acrescentando que também irá procurar o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sinserpu).
Conforme Salomão, os casos de violência acontecem com mais frequência nas unidades de urgência e emergência, como o PAM-Marechal, a Regional Leste e o Hospital de Pronto Socorro (HPS). “O HPS é o único estabelecimento que tem guardas municipais permanentemente. Nos outros são realizadas rondas, como o PAI e as unidades de saúde. Queremos segurança efetiva para diminuir a vulnerabilidade dos servidores. Precisamos de providências por parte da Prefeitura.”
O presidente do Sinserpu, Amarildo Romanazzi, foi acionado, na quarta, até o PAM-Marechal, depois que a servidora foi agredida, e, conforme constatou, a agressão verbal no local é uma queixa frequente. Para Amarildo, a situação se agrava, quando as agressões começam a ser físicas. Ele destacou que essa situação tem sido debatida frequentemente com a secretaria responsável, à qual vem sendo solicitada a efetivação de novos guardas municipais. “Infelizmente, o Município não toma providências, e o corpo da guarda defasado não consegue dar cobertura de acordo com a necessidade.”
Em fevereiro, no dia 20, um médico, 27, foi agredido com um soco na cabeça durante atendimento a uma paciente na Unidade Regional Leste, no Costa Carvalho. Devido ao grande número de pessoas que esperavam atendimento, a mulher teria ficado insatisfeita com a demora na assistência e atacou o médico.
Guardas municipais foram deslocados para o PAM Marechal
Nesta quarta, uma servidora municipal, de 21 anos, que trabalha fazendo atendimento ao público no Pam-Marechal, foi agredida fisicamente por um usuário, por volta do meio-dia. O homem, que fugiu logo em seguida, agarrou a jovem pelas costas e desferiu socos e chutes contra a trabalhadora, porque não aceitou que atendente tinha que sair para o horário de almoço.
Em razão do episódio, o setor de regulação, que funciona para marcação de exames e consultas, e o setor de coleta de sangue e urina ficaram de portas fechadas durante o período da tarde. A servidora relatou ao jornal que, na última sexta-feira (16), já tinha registrado um boletim de ocorrência contra uma mulher que a agrediu verbalmente.
O secretário de Segurança Urbana e Cidadania, José Sóter Figueirôa, afirmou que o efetivo da Guarda Municipal é reduzido e, mesmo que fosse considerado ideal, não haveria guardas suficientes para atendimento pleno de todos os equipamentos.
“A Guarda Municipal tem como propósito ser colaborativa e comunitária e suas ações são de ordem preventiva. Só de escolas, são 104 no município. De unidades básicas de saúde, são 63, fora a área de urgência e emergência. Então, de fato, temos utilizado as rondas preventivas, pois temos outros equipamentos, como as praças, que são demandadas pela população. No caso do PAM Marechal, já deslocamos uma guarnição, com quatro guardas, para o local e lá ficarão por tempo indeterminado até que a situação esteja sob controle e sob nossa vigília. Estamos abertos para tratar uma estratégia com a Secretaria de Saúde, os sindicatos dos médicos e dos servidores públicos de forma a evitar e inibir que situações de agressões não ocorram mais.”
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