A noite da quinta-feira 07 de maio de 2018 foi uma noite mágica no Teatro Usina Gravatá. Por iniciativa do Gabinete do Vereador Renato Ferreira, através da Secretaria Municipal de Cultura, a Primeira Dama do Teatro de Divinópolis, Irene Silva, aos 91 anos, foi homenageada por sua trajetória e contribuição ao teatro divinopolitano.
A atriz, ao lado dos familiares e amigos, foi recepcionada pela Banda Municipal “Teodosino Campos”, da Escola Municipal Maestro Ivan Silva. Em seguida, um resumo de sua história foi apresentado pelo apresentador Sílvio França que em seguida passou a palavra ao Secretário de Cultura, Osvaldo André de Melo que já desenvolveu vários trabalhos teatrais ao lado de Irene e foi quem cunhou o título de Primeira Dama do Teatro.
A atriz, que também tem vasta trajetória na educação, acompanhou, ao lado do público, a leitura dramática de Dorotéia, de autoria de Nelson Rodrigues, texto do espetáculo que em 1974, sob a direção de Osvaldo André, levou Irene Silva de volta aos palcos e se tornou um marco de sua carreira teatral. A leitura foi feita por Sônia Figueiredo, Vera Werneck, Samira Cunha, Angélica de Oliveira, Jaqueline Alves e Beatriz Freitas, sendo que esta última contracenou com Irene na montagem original e veio de Brasília para participar da homenagem.
Ao término, Irene que apesar das limitações impostas pela idade ao corpo e a mente se emocionou e até chorou, recebeu Moção Congratulatória assinada pelos dezessete vereadores de Divinópolis e um buquê der flores de Romilda Mourão que representou todos os atores que trabalharam ao seu lado. A filha Maria Luiza foi quem usou a palavra e em nome da mãe, agradeceu a todos por este momento que com certeza marcou todos os que estiveram presentes.
Veja o trecho final da leitura dramática, quando Irene Silva chega a se emocionar. Em alguns momentos da peça ela chegou a citar o texto original e acompanhou tudo atentamente:
Confira trecho da adaptação com Beatriz Freitas, de volta ao papel de Flávia:
Irene Silva, por Osvaldo André
Tem o título de Primeira Dama do Teatro de Divinópolis, que eu lhe dei, por ser atriz disciplinada e a que mais se entregou de corpo e alma às artes cênicas. Perdeu a conta das peças que representou. Estreou no melhor teatro amador que se fazia no grande pólo cultural mineiro que era São João Del Rei. No livro de Antônio Guerra, “Pequena História de Teatro, Circo, Música e Variedades, em São João Del Rei”, o seu retrato está publicado, como registro da década de 40: IRENE SILVA, INTELIGENTE E CULTA AMADORA DO “CLUBE ARTUR AZEVEDO”.
Exímia cantora, notabilizou-se com a interpretação de “Boneca de Piche”, de Ary Barroso e Luiz Iglésias, ao lado de Nélson Pelegrino, o eterno Rei Momo de Divinópolis
Integrou grupos tradicionais da história do teatro de Divinópolis, como o “Gente Nossa” e o CTM-Conjunto Teatral Mariano.
Irene Silva me ensinou teatro, nos auditórios do Grupo Escolar “Miguel Couto”. Retribuí, convocando-a de novo ao palco, depois de mais de uma década fora dele, nos anos 70. Em “A Ultima Voz da Viúva”, ela se levantava da platéia e cantava um bolero. Tingiu o cabelo de louro, para representar a S.ra Kirby, em “Viagem Feliz de Trenton a Camden”, de Thornton Wilder. Representou pela última vez a personagem que marcou sua carreira, Maria Cachucha, ao lado do veterano Afonso Teixeira, na década de 70, sob minha direção. Nesta versão de “Maria Cachucha”, eu a vesti e maquiei. Irene Silva e Afonso Teixeira protagonizaram inúmeras peças, a última sendo “A Barragem”, de Lindolfo Fagundes, que dirigi para homenagear este que foi o primeiro ator que vi representar, por sinal, ao lado de Irene Silva, em “Morre um Gato na China”, de Pedro Bloch, no Cine Arte Ideal, no início dos 60.
A sua personagem inesquecível é Flávia, da peça “Dorotéia”, de Nélson Rodrigues, encenada por mim, que a trouxe de volta ao teatro e pude oferecer-lhe este grande presente, na década de 70. Foi a única vez que Divinópolis assistiu a Nelson Rodrigues.
Irene Silva, ao lado de Beatriz Freitas e Laurinda Ferreira de Souza, representou, nos anos 90, uma das três loucas que criei em “João Guimarães: Veredas”, de Renata Pallottini.
Chamei-a a participar de um projeto de leituras dramáticas, ainda no “Theatron”, com “Abre a Janela, Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã”, de Antônio Bivar, texto em que brilhou, interpretando a personagem Geni, dez anos antes, contracenando com Helena Alvim Ameno.
Ela me permitiu encenar grandes obras. E talvez para brilhar nelas é que me tenha ensinado o teatro, na minha infância distante.
Postado originalmente por: Minas AM/FM